Aparecida tem 17 locais com risco de desastres

Risco é considerado alto em oito destes locais. Risco médio de desastres é avaliado em sete destas áreas, apenas duas permanecem com baixo risco - Foto: Wesley Costa

Postado em: 12-11-2019 às 06h00
Por: Leandro de Castro Oliveira
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Risco é considerado alto em oito destes locais. Risco médio de desastres é avaliado em sete destas áreas, apenas duas permanecem com baixo risco - Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Pelo menos 468 pessoas vivem em áreas de risco em Aparecida de Goiânia. No total, 17 locais foram considerados impróprios para moradia por estarem sujeitos a riscos naturais ou decorrentes da ação do homem, com possibilidade de ocorrência de desastres. O grau de risco é considerado alto em 47% destas áreas, enquanto que 41% delas são compostas por locais com grau médio de risco de desastres. Apenas dois locais permanecem com baixo risco. Os dados são de um levantamento feito pela Defensoria Pública do município este ano.

O secretário de infraestrutura de Aparecida de Goiânia, Mário Vilela, está há 11 anos a frente da pasta. Ele afirma que os problemas causados pelos processos erosivos no município são antigos e recorrentes. “As erosões sempre foram um problema. Temos mais de 200 quilômetros em extensão de córregos e ribeirões dentro de Aparecida de Goiânia. A cidade possui solo arenoso e  a administração do município não tem recursos para fazer mais do que medidas paliativas”. Ele ainda diz que existem erosões em pelo menos 100 pontos da cidade.

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De acordo com o relatório, pelo menos 51 pessoas correm alto risco de serem atingidas por desastres à beira de uma enorme cratera de erosão localizada entre o Setor Tocantins e o Parque São Jorge, na rua X-64 à beira do Córrego Santa Rita. Moradores temem ficar sem suas casas no próximo período de chuvas. A área é uma ocupação sobre um bueiro celular triplo e está em Área de Proteção Ambiental (APP).

O local tem risco de alagamentos e desmoronamento dos imóveis. A cratera erodida ainda é utilizada para descarte de resíduos sólidos e esgoto, que torna a área insalubre. A reportagem do O Hoje esteve no local em abril deste ano e constatou que a cratera aumentou desde então. Na época, a Região Metropolitana estava sendo atingida por chuvas fortes e 90% de toda chuva esperada para aquele período havia caído nos primeiros 15 dias do mês.

Na ocasião, moradores do bairro relataram perda de eletrodomésticos por causa da água que invadiu as casas à beira do córrego. Alguns deles temiam que os alagamentos causassem choques elétricos dentro de suas próprias residências. Com a proximidade da volta do período chuvoso, o perigo da força destrutiva das enchentes volta a aterrorizar os residentes.

Crianças que moram no local brincam à beira da erosão e estão sujeitas ao perigo da área. Ainda segundo dados da Defesa Civil do município, pelo menos 33 crianças vivem nesta área de risco. Somente na casa de Luciane Maria de Jesus há 4 crianças. Ela afirma que não permite que seus filhos brinquem na rua por causa do perigo de caírem no buraco. “Meus filhos são muito pequenos e eu morro de medo deles caírem nessa vala. Os anos passam e o problema persiste. Eu já perdi as esperanças”, lamenta.

Prefeitura não tem recursos para resolver o problema

De acordo com o sercretário de infraestrutura, seriam necessários pelo menos R$ 1 bilhão para a realização de obras que resolveriam o problema das erosões no município. No entanto, sozinho, o município não tem condições de arcar com esse investimento. Ele cita como exemplo, a obra de contenção de erosão de caráter urgente que foi feito no Setor Garavelo, nas imediações do Parque Tamanduá, em 2017. A prefeitura conseguiu o aporte de R$ 20 milhões com o Governo Federal para resolver o problema do bairro que estava sendo engolido por uma cratera.

Luciane afirma que a Prefeitura de Aparecida realizou alguns trabalhos acima da cratera da Rua X-64 há poucos meses. Segundo a moradora do Setor Tocantins, a administração do município fechou outra cratera, acima da denunciada pela reportagem há cerca de dois meses. No entanto, com as últimas chuvas o buraco está voltando a abrir novamente. “A chuva vem e essa rua vira um rio de lama que vai carregando tudo para baixo. A força da água com o entulho, árvores, pedras e tudo que ela consegue arrastar desce destruindo tudo”.

Luciane tem medo de perder sua casa nas próximas chuvas. “A gente não sabe como vai ser o futuro. Se vai chover e levar tudo, se a gente vai ter a casa engolida. Eu temo pela vida dos meus filhos”. Ela ainda afirma que está muito desanimada porque não vê solução para tapar a cratera. “Isso está assim tem muito tempo. Entra e sai político e o problema não é resolvido. Essa situação faz bater um desânimo da vida”.

A moradora do Setor Tocantins revela que existe também falta de consciência por parte da população quando descarta resíduos na erosão. “O povo não respeita quem mora aqui. Alguns vêm de outros lugares para jogar lixo no buraco. É triste porque a gente percebe que algumas pessoas daqui mesmo fazem isso. Já fazem há tanto tempo que o local virou lixão mesmo. Quando não jogam na cratera, a chuva arrasta tudo lá pra dentro. Parece não ter saída”.

O secretário afirma que a pasta está buscando aporte de recursos financeiros juntamente à Defesa Civil Nacional para resolver alguns pontos críticos de erosão no município. Quanto ao bairro Tocantins, Mário Vilela afirma que a Prefeitura executou obras paliativas para conter a erosão e que vai continuar realizando trabalhos para que a cratera não aumente. O local terá monitoramento constante dos órgãos competentes para que a situação não piore para os moradores da região.

Ele ainda afirma que, apesar da gravidade da situação no bairro Tocantins, existem pontos onde a situação erosiva está ainda mais grave. “No Jardim Emboaba, por exemplo, há uma erosão gigantesca e, sobre ela, está uma subestação de eletricidade. Se o buraco não for contido, metade de Aparecida ficará sem luz”. 

Vazamento de esgoto causa risco à saúde de moradores

Eny Virgínia também mora em uma casa localizada há poucos metros da cratera. Ela revela outro problema que atinge o local. Há vazamento de esgoto pelo rompimento dos dutos causado pelas enxurradas. “Ali em cima, onde a Prefeitura fez o trabalho, passa um cano de esgoto por baixo da terra. Quando vem o aguaceiro da enxurrada esse cano quebra e vaza água do esgoto. Todo bairro fica fedendo”. Ela se preocupa com a saúde dos moradores por causa do vazamento de esgoto.

De acordo com Eny, a situação da cratera já foi pior. “Teve uma época que esse buraco chegava na porta da minha casa. Quando chovia a noite, a gente ficava na janela jogando a lanterna pro lado da erosão para tentar antecipar o momento em que a casa seria engolida pela cratera. Graças a Deus, isso nunca aconteceu com ninguém aqui ainda”. Ela teme que a situação volte a ficar como era há cerca de um ano e meio, quando o buraco era maior.

A moradora também perdeu as esperanças de ter qualidade de vida. “Os políticos só falam que isso vai melhorar em época de eleição. O poder público vem aqui, faz cadastro da gente, tira foto do local, fala que vai melhorar ou que vai construir uma casinha para a gente morar. Depois que são eleitos, somem e nunca mais dão as caras. Enquanto isso, o problema persiste”.

No mesmo bairro, pelo menos dez famílias vivem ao lado de uma enorme cratera erosiva às margens do córrego Santa Rita localizados na Rua X-41 d. O buraco avança em direção as residências. A erosão tem sido utilizada para descarte de lixo e entulho e faz com que se forme um solo falso, com risco de desmoronamento. Pelo menos dez famílias vivem no local.

 

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