Goiás se destaca no setor de confecções

De acordo com a FIEG, além da qualificação profissional, o crescimento do setor também passa pelo investimento em inovação e tecnologia - Foto: Wesley Costa

Postado em: 13-11-2019 às 06h00
Por: Leandro de Castro Oliveira
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De acordo com a FIEG, além da qualificação profissional, o crescimento do setor também passa pelo investimento em inovação e tecnologia - Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

O estado de Goiás tem recebido destaque na segmento de moda do país. Segundo dados do Ministério do Trabalho, o Estado ocupa o sexto lugar no ranking nacional das indústrias de confecções. De acordo com o Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI), o Estado concentra 3% das indústrias têxteis e de confecção do Brasil. A região da rua 44, em Goiânia, é o maior polo de moda do Centro-Oeste. Estima-se que novos negócios na região devem movimentar R$ 380 milhões este ano. Apesar do franco crescimento, uma das maiores demandas da área é em mão de obra qualificada.

A coordenadora técnica da área do vestuário do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Helia Maria de Faria, confirma que a demanda por profissionais qualificados no segmento é alta. “Nós rodamos cursos aqui o ano inteiro e, ainda assim, eles não suprem a demanda das empresas na área. Muitos se formam e preferem empreender em novos negócios, mas nem todos prosperam por dificuldades na gestão empresarial”. Ela afirma que, além dos cursos técnicos, a instituição de ensino tem ofertado consultoria empresarial no segmento de vestimentas para suprir esse déficit.

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Este ano, até o mês de setembro, o Senai Goiás formou 1.782 alunos em qualificação profissional na área de vestimenta. Outras 233 pessoas fizeram cursos de aperfeiçoamento no segmento e mais 534 estudantes fizeram cursos de iniciação. Em 2018, foram qualificados 1.629 pessoas na área de moda e confecção. Desde outubro, foram lançados dois novos cursos que terão turmas iniciadas no próximo ano: Costureiro de peça piloto e Costureiro de malha.

A gerente de produção do Grupo MPL, Cláudia Rosa, começou sua carreira como empreendedora. Depois de se formar em curso técnico, se tornou proprietária de uma facção com 18 anos. Facções são células de trabalho que prestam serviço de costura para as indústrias de grande porte no setor da moda. De acordo com Cláudia, 100% das roupas produzidas pela MPL são costuradas externamente, por meio do trabalho de facções. O trabalho faz parte dos mais de mil empregos indiretos gerados pela empresa. A MPL conta com 366 colaboradores contratados.

Com sua experiência nas facções, Cláudia conquistou uma vaga de supervisora de produção e alçou ao cargo de gerência industrial. Ela atribui sua decolagem à qualificação técnica profissional. “Fiz um curso técnico em têxtil e vestuário no Senai que foi fundamental para que eu alcançasse minha posição atual na empresa. A indústria tem carência de receber pessoal qualificado para trabalhar, quanto mais qualificação, melhor vai ser o salário”, esclarece.

Cláudia se formou no curso Técnico do Vestuário que habilita profissionais para planejar, em nível tático, a produção do vestuário, coordenar equipes de trabalho, controlar o processo produtivo, participar da equipe de desenvolvimento do protótipo do produto e otimizar a produção de acordo com as metas estabelecidas pela empresa. “Depois da minha formação técnica, fui trabalhar na indústria como supervisora de produção e cresci rapidamente. Em três meses, peguei a gerência de produção”, afirma.

Ela afirma que estimula os colaboradores da empresa a fazerem cursos para aumentarem o grau de profissionalização. Ela estima que pelo menos 20% dos funcionários passaram por algum curso técnico oferecido pelo sistema S. Em Goiás, o SENAI efetivou 173.042 matrículas de qualificação profissional em 2018. Cláudia acredita que a melhor forma de entrar e crescer em uma empresa é com aperfeiçoamento profissional.

“Muitos jovens são condicionados pelos pais a saírem do ensino médio e entrarem na faculdade. Mas se eles forem direcionados para cursos técnicos estarão mais preparados para entrarem no mercado de trabalho. Por que uma empresa não busca um profissional que está aprendendo. Ela quer aquele que está mais preparado para atuar na sua área de trabalho”, ela ainda sugere que os jovens que estão entrando no ensino médio cursem o ensino médio técnico, pois já vão se formar mais preparados.

O cargo exercido por Cláudia é de muita responsabilidade. Ela é encarregada de supervisionar o produto desde a primeira etapa da linha de produção até a embalagem das roupas. A gerente também cuida do processo de Planejamento e Controle de Produção (PCP). Esse conceito ajuda no gerenciamento das atividades produtivas da empresa. Todos os recursos operacionais são definidos por meio dele.

Parcerias

A MPL fez uma parceria com o Senai para oferecer cursos técnicos em costura aos colaboradores da empresa, que arca com os custos para a formação técnica dos seus funcionários. De acordo com a gerente industrial, pelo menos 150 colaboradores passaram pelos cursos técnicos. “Muita gente acha que para costurar é necessário um dom. Porém, todos têm esse potencial, ele só precisa ser desenvolvido de forma correta. O curso também abrange outras áreas de capacitação” explica.

Uma das vantagens dessa parceria está na qualificação polivalente dos profissionais. De acordo com Cláudia, quando um colaborador diversifica as suas áreas de atuação profissional, ele tem a capacidade de cobrir outro funcionário, que realiza uma função diferente na linha de produção. Se alguma falha for identificada, é mais fácil de cobrir esse gargalo. “Na indústria de vestuário, a pessoa que estende os conhecimentos técnicos, desde a questão administrativa até o corte, costura, silkagem e mecânica está mais apto a conquistar espaço”.

Qualificação profissional estimula crescimento

De acordo com a gerente sindical da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG) e presidente interina da Câmara de Moda em Goiás, Denise Resende, Goiás precisa apostar na profissionalização de mão de obra aliada ao investimento de tecnologia para continuar crescendo no segmento. “Hoje, não é possível trabalhar como uma fábrica rudimentar. A melhoria passa pela qualificação profissional e inovação. Temos o Sebrae, o Senai e o Fecomércio por meio do Senac que são identidades voltadas para a capacitação de colaboradores”.

Ela ainda afirma que a Câmara da Moda reúne esforços para melhoria do segmento no Estado. “O que nós estamos tentando fazer enquanto federação das indústrias é trabalhar a melhoria e o fortalecimento do setor para que as empresas cresçam de maneira sustentável”. Ela alerta que para trabalhar a sustentabilidade é necessário desenvolver uma gestão competente. “Não adianta crescer se não souber gerir adequadamente. A empresa não consegue se manter com essa dificuldade”, pontua.

Denise diz que um dos pilares dos quais as empresas precisam aderir para se tornarem sustentáveis está na parte social. “Hoje, existem firmas no ramo da moda que tem investimento forte para devolverem algo para sociedade, isso traz valor de mercado. Algumas indústrias possuem uma parte da confecção feita dentro de presídios. É uma forma de inserir esse pessoal no mercado de trabalho”.

De acordo com a gerente sindical da FIEG, além da qualificação profissional, essa evolução passa também pelo investimento em inovação, tecnologia e crescimento de setores complementares. “Trazer para Goiás novas indústrias de fornecimento de insumos para a moda é fundamental. Indústrias de tecidos de botões, por exemplo. Dessa forma você diminui os custos para a produção local. Melhora o transporte, a logística e passa a ter mais competitividade no ramo”, conclui Denise.

 

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