Entregar comida vira opção para escapar do desemprego

Muitos goianos estão utilizando a tecnologia de aplicativos para levar uma renda digna para dentro de casa - Foto: Wesley Costa

Postado em: 21-11-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Muitos goianos estão utilizando a tecnologia de aplicativos para levar uma renda digna para dentro de casa - Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

O emprego informal nunca esteve tão alto em Goiás. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Desde o início da série histórica trimestral que mede a quantidade de pessoas que trabalham por conta própria, em 2012, o número só aumentou, mas nunca havia chegado a um patamar tão alto. De acordo com a pesquisa, no terceiro semestre deste ano, 873 mil pessoas trabalham por conta própria no Estado. Com isso, alguns goianos estão utilizando a tecnologia de aplicativos para que, mesmo na informalidade, tenham condições de gerar a própria renda e contribuir com a família.

Além do aumento do número de trabalhadores por conta própria, que não tem registro na Carteira de Trabalho (CLT), a média de rendimento desse tipo de trabalho também caiu quando comparado ao mesmo período de 2016. Em três anos, a média do salário de trabalhadores por conta própria caiu de R$ 2.604 para R$ 2.337. No entanto, os rendimentos tiveram um pequeno aumento em relação ao mesmo período do último ano. No terceiro trimestre de 2018, a média salarial estava em R$ 2.104.

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A quantidade de empregadores no Estado teve pequena oscilação nos três primeiros trimestres deste ano. Nos meses de janeiro, fevereiro e março, a quantidade de pessoas que empregavam trabalhadores em Goiás era de 187 mil, no trimestre seguinte houve uma pequena diminuição e chegou aos 186 mil empregadores. 

Antonio Rogério Oliveira, de 24 anos, perdeu seu emprego de carteira assinada há seis meses. Ele trabalhava como guarda em um estabelecimento comercial e foi mandado embora pelo empregador que alegou uma crise financeira da empresa na qual era funcionário. “Eu não estava esperando ser demitido. Do nada, o chefe me mandou a demissão por e-mail. Na hora, deu um aperto no coração, mas os boletos não param de chegar e a gente tem que dar um jeito”, o trabalhador ainda diz que não engoliu a história de crise financeira da empresa.

O jeito que Antônio encontrou foi trabalhar como entregador de comida por aplicativo. Há quatro meses, ele faz entregas de bicicleta. “Quando eu era guarda e ficava observando a rua no turno, via muitas pessoas fazendo entregas com essa mochilinha que ficavam o dia todo para lá e para cá. Eu bati o olho e vi que poderia ser uma alternativa se alguma coisa acontecesse com meu emprego. A gente nunca sabe do futuro” conta.

O entregador ainda diz que um dos atrativos para começar a fazer entregas foi a facilidade no cadastro e o baixo investimento para começar.  “Alguns aplicativos são mais fáceis de se inscrever. Outros, você tem que esperar ser aprovado. A vantagem é que você trabalha completamente como autônomo. Eu mesmo faço meu horário. Como eu já tinha a bicicleta, precisei investir apenas R$ 60 na mochila térmica para começar a trabalhar”, relata.

Trabalhando cerca de oito horas por dia realizando entregas, Antônio consegue receber uma média de apenas R$ 1.200 mensais. “O ganho é semanal. Tem semana que eu tiro R$ 200, outra eu consigo fazer R$ 300. É muito relativo, mas dá para calcular essa média mensal”, explica. O entregador afirma que mora com seus pais, mas o dinheiro que recebe é fundamental para ajudar nas despesas da casa.

A rotina no pedal é pesada. O entregador afirma que percorre facilmente 90 quilômetros em percursos de trabalho. Ele faz entregas todos os dias no período do almoço, entre às 11h00 e às 15h30, e à noite, entre as 19h00 e 23h30. Antônio afirma que seu recorde de rendimento chegou à marca de R$ 450, trabalhando o dia inteiro em uma sexta-feira. Neste dia, Antônio atingiu a marca de quinze pedidos. 

Realizar entregas de bicicleta requer preparo físico 

Antônio afirma que para trabalhar de bike pelo aplicativo de entregas de comida, precisa ter disposição e preparo físico. “A vantagem é que eu estou acostumado a pedalar. Geralmente não trabalho aos finais de semana, apenas no domingo à tarde. Mas ainda subo na bicicleta para fazer trilhas na hora do descanso. Algumas chegam a cem quilômetros de extensão. O segredo para não ter câimbras e manter-se alimentado sem pesar a digestão é a banana”.

Ele também diz que desde pequeno gosta de andar de bicicleta e acaba fazendo o que gosta durante o trabalho. Um dos problemas do trabalho relatados pelo entregador é a confusão que alguns clientes fazem com o endereço de entrega. “A questão é que, às vezes, alguns clientes não colocam o endereço de entrega correto. O mapa pode estar trocado, com o endereço marcado em um lugar e o cliente em outro”. O maior trajeto feito por Antônio em uma entrega foi de três quilômetros e meio.

Outro desafio enfrentado pelo ciclista é o perigo do trânsito. “O lugar mais perigoso para pedalar é na BR, onde os carros trafegam em alta velocidade. De madrugada, também tem muito motorista bêbado e sem noção ao volante. Por isso eu me resguardo. Trabalho no máximo até umas 23h30”, relata. Quando o entregador estava falando à reportagem, estava chuviscando. “Quando chove muito eu uso a capa de chuva e está tudo beleza”, complementa. Antônio não usava capacete de proteção.

Na opinião do entregador, as únicas coisas que faltam para ele nunca mais assinar carteira são a contribuição para a aposentadoria e o aumento do valor da entrega. “Falta só dar um jeito para conseguir aposentar trabalhando assim, bem como o aumento do preço da entrega”, avalia. O valor recebido por cada entrega realizada pelo aplicativo que Antônio trabalha é em média R$ 4. “A maioria dos clientes dão gorjeta e o preço depende das dinâmicas, mas algumas podem valer até o dobro do que normalmente é pago”, explica o trabalhador. (Especial para O Hoje) 

Saúde no trabalho

Além da conquista do salário, o trabalho de entregas pelo aplicativo também melhorou a saúde do trabalhador. “Quando eu saí do outro emprego, tive que fazer o exame médico demissional. Descobri que minha pressão arterial estava alta, medindo quase 14.3 mm/Hg. Eu só usava a bicicleta para ir e voltar do trabalho e comia muita porcaria”. Na época, o profissional que realizou o exame médico demissional em Antônio, recomendou a prática exercícios físicos.

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