Obra do Centro de Convenções está abandonada desde 2018

O abandono do Centro de Convenções é um retrato da situação do próprio setor onde foi idealizada a obra| Foto: Wesley Costa

Postado em: 06-01-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O abandono do Centro de Convenções é um retrato da situação do próprio setor onde foi idealizada a obra| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

A obra do Centro de Convenções que beneficiaria moradores da região do Bairro Jardim Ipanema em Trindade está abandonada desde novembro de 2018. O local é um retrato da situação do próprio setor onde foi idealizado para ser construído. O bairro não conta com escolas, creches ou posto de saúde. Os moradores têm que inflar o atendimento das unidades de saúde dos bairros vizinhos, enquanto a promessa de lazer e cultura definha na Avenida Liberdade, no Jardim Ipanema.

“Cultura? Como querem trazer mais cultura e lazer para um bairro que não tem nem escola? Sem escola não existe cultura”, afirma Gildeane Ferreira, que mora vizinha a obra abandonada. Ela denuncia que os investimentos de Trindade se concentram apenas nos setores centrais da cidade. “O dinheiro público não chega aqui. Aqui só chegam as promessas”, afirma.

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Ela ainda diz que o principal problema do bairro é o atendimento à Saúde e Educação. “Aqui não tem posto de saúde, não tem creche, não tem escola. Se você precisar de um atendimento médico tem que ir no Setor Maysa”. Apesar de destacar que os problemas principais do bairro recaem sobre áreas diferentes do propósito do Centro de Convenções, Gildeane não é contra a obra. “Claro que é bom para a gente. Qualquer benfeitoria para o setor valoriza a área, os imóveis, e pode até ajudar a trazer empresas que gerem emprego na região, que é escasso”, afirma.

Sebastião Belmiro também é vizinho da construção abandonada. Ele lembra que existiam tapumes de madeira que foram erguidos ao redor da obra e revela como o rastro de destruição e vandalismo aos poucos foi atingindo as edificações. “O vandalismo foi grande. Começaram tirando o cercamento de madeira, depois foram arrancando o que podiam dentro do pouco que foi construído”.

Apesar de lamentar a ação de vândalos, Sebastião afirma que o desaparecimento dos tapumes deixou o abandono da obra pública mais evidente. “Mesmo que a proteção de madeira protegesse da invasão de pessoas dentro do espaço, a retirada dela revelou um verdadeiro elefante branco”.

Ele ainda sugere que o verdadeiro motivo da construção foi a retirada de uma ocupação de barracos que havia na área. “Para mim, essa obra só aconteceu para tirar o pessoal daí e levar para outro lugar. Qual outro motivo teria para começar uma construção desse tamanho e não concluí-la”?

Abandono aumenta risco de transmissão da dengue 

O mato alto cobre as paredes de tijolos expostos de uma edificação de grandes proporções. O abandono da obra pública é evidente. Ao caminhar por dentro da construção é possível tentar pensar as funções que cada cômodo grande, separado por paredes e conectados por abertura de janelas, serviria à população. 

No fundo do prédio, ao lado de uma pilha enorme de concreto quebrado, jaz a estrutura primária de um pequeno teatro de arena cheio de água parada. O local é o paraíso para a proliferação de escorpiões e mosquitos transmissores de doenças.

“Aqui quando chove, é uma mosquitada brava. É até perigoso pegar uma dengue”, afirma Sebastião. O morador do bairro lamenta o desperdício de dinheiro público que aumenta com a degradação causada ao longo do tempo. “O que mais incomoda é ver o nosso dinheiro definhando junto com o que restou dessa construção. Se eles tivessem começado e terminado tudo certinho não teria sido menos que obrigação”, lamenta Sebastião.

Ele também afirma que um dos principais problemas do bairro é a carência de atendimento médico. “A unidade de saúde mais próxima daqui é uma Unidade de Pronto Atendimento do bairro vizinho, mas lá é só para emergências. Se você for para o posto de saúde no Setor Maysa é uma burocracia tremenda para um médico te atender, fazer exames. É muita mendicância para ser atendido”. Sebastião desistiu de tentar atendimento na saúde pública da região e tem que pagar um plano de saúde.

Moradores temem por segurança 

O maior medo de Cléber, que também é vizinho do Centro abandonado recai sobre a insegurança que o local desabrigado pode causar. Ele teme que a construção seja usada como esconderijo de bandidos e marginais e sirva para ocultar algum tipo de crime. “O maior receio é a insegurança. Esse lugar aqui pode ser usado facilmente por ladrões que queiram esconder alguma ação criminosa”.

Cléber, que nasceu e cresceu na região, se sente enganado com as promessas de melhorias no bairro. “Quando eles vêm e prometem, a gente acredita. Mas depois acontece uma coisa dessas e a gente perde as esperanças de melhora. Eu vi esse bairro crescer devagarzinho, a passos de jabuti. Qualquer melhoria para cá seria excelente”. Ele ainda afirma que ao lado da obra seria construído um lago e uma pista de cooper, mas por enquanto, tudo que há no local é uma grande vala enlameada.

O morador denuncia outro problema que tem atingido o bairro e se queixa. Segundo ele, os carnês de impostos não têm chegado até algumas residências do Jardim Ipanema. “Aqui é assim: Se quiser pagar imposto, tem que ir a prefeitura quitar. O problema é que nem sempre a gente tem tempo de ir lá, os carnês vão seacumulando e fica muito pesado para pagar tudo de uma vez. Eu estou tendo problemas com isso.

Retomada de obras

A Prefeitura de Trindade emitiu uma nota afirmando que a obra localizada na Avenida Liberdade, no Jardim Ipanema, vai ser retomada. A empresa ALMEIDA BARBOSA CONSTRUTORA E LTDA ME, responsável pela construção, protocolou o cancelamento do contrato na Superintendência de Planejamento e Fiscalização de Obras no dia 13 de novembro de 2018.

De acordo com a nota, a obra começou no dia 30 de junho de 2017 e esclarece que o recurso não fica disponível na conta do convênio. O mesmo só é depositado após o ateste da medição pela Caixa Econômica Federal, e posterior envio ao Ministério do Turismo. Conforme demonstrado na tabela, o prazo entre o protocolo da medição e o pagamento demora em média cinco meses. Tempo que inviabilizou a execução da obra.

Ainda segundo a prefeitura, uma nova licitação da obra foi feita e a Caixa Econômica Federal emitiu a autorização para a retomada das obras. A ordem de serviço para empresa vencedora será emitida hoje (6). A partir desta data a empresa tem o prazo até fevereiro para  iniciar a execução do serviço licitado.

O custo total será de R$ 1.225.659,36  sendo que o valor de R$  350.761,75 foi pago a empresa Almeida Barbosa e o valor de R$  874.897,61 foi destinado a conclusão da obra.Empresa vencedora da licitação para a conclusão do centro cultural foi a empresa AGREGAR SERVIÇOS E CONSTRUÇÕES EIRELI. (Especial para O Hoje) 

 

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