Lixo é descartado de forma irregular no Parque Madre Germana, em Aparecida de Goiânia

Segundo moradores da região, o terreno, que se tornou uma espécie de lixão a céu aberto, recebe resíduos de todos os tipos| Foto: Wesley Costa

Postado em: 14-01-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Lixo é descartado de forma irregular no Parque Madre Germana, em Aparecida de Goiânia
Segundo moradores da região, o terreno, que se tornou uma espécie de lixão a céu aberto, recebe resíduos de todos os tipos| Foto: Wesley Costa

Pedro Moura

Sofás velhos, restos de tecidos, vaso sanitário, pneus e até animais mortos são alguns dos itens que podem ser encontrados no bairro Parque Madre Germana, em Aparecida de Goiânia, Região Metropolitana da Capital. Segundo moradores da região, o terreno, que se tornou uma espécie de lixão a céu aberto, fica entre as Ruas JI-8 e JI-9 e recebe resíduos de todos os tipos.

Quem vive no bairro afirma que o problema perdura há pelo menos quatro anos. Eles acusam moradores de outras regiões de fazerem o descarte irregular na área. Segundo os moradores, o mau cheiro é muito forte e o lixo atrai moscas, urubus e cachorros em busca de comida. Eles explicam que isso ocorre porque, além de restos de alimentos, há corpos de animais em decomposição jogados no terreno. A reportagem também encontrou fraldas descartáveis, ossos grandes de vaca e outros resíduos orgânicos, como cascas de frutas.

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Foi constatado o descarte de diversos tipos de resíduos sólidos na beira da estrada. Grande quantidade de sacolas plásticas contendo lixo doméstico; parte de eletrodomésticos; garrafas de vidro e animais em putrefação fazem parte do cenário insalubre que compõe o lote baldio.

A equipe do O Hoje entrou em contato com a prefeitura de Aparecida de Goiânia para saber mais detalhes sobre a situação do local, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. A redação também entrou em contato com a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) e por meio de nota a agência informou que vai investigar o descarte irregular de lixo. 

“A propósito do descarte de lixo ilegal às margens da GO-040, a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) informa que vai mandar equipe de fiscalização ao local, para posteriormente acionar a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), bem como a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (DEMA)”.

Vale ressaltar que ano passado, ao ser questionada pelo O Hoje sobre a situação do local, a Prefeitura de Aparecida de Goiânia informou que faz limpeza às margens da GO-040 a cada 15 dias, mas as pessoas voltam a jogar lixo no local. O dono do terreno foi notificado para construir uma barreira para impedir que as pessoas joguem resíduos no local, mas até agora, nenhuma providência foi tomada para sanar o problema. 

Na ocasião, a Prefeitura de Aparecida divulgou nota sobre o descarte ilegal de lixo que acontece regularmente à beira da rodovia GO-040. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano informou que uma equipe de limpeza iria ao local para verificar a situação denunciada pelos moradores e tomar as medidas necessárias. Ainda ressaltou que faz a limpeza deste lote periodicamente, no intuito de diminuir os riscos para a população, mas pede a conscientização dos moradores para não fazer o descarte irregular de lixo em lotes baldios, pois é ilegal e passível de multa e apreensão de veículos e equipamentos.

Sendo muito procurada, a prefeitura informou que a Diretoria de Resíduos Sólidos da Secretaria de Desenvolvimento Urbano informou que a coleta de lixo nos setores Madre Germana I e II, Jardim dos Ipês, Setor São Conrado, é realizado com caminhões captadores semanalmente, sendo todas as terças, quintas e sábado, no período diurno. Sobre o descarte irregular de lixo em áreas públicas e particulares, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano explicou que iria verificar a situação denunciada pelos moradores e tomar as medidas necessárias. 

A população, ao flagrar o descarte irregular de lixo e entulho, pode acionar a equipe de fiscalização da Secretaria de Regulação Urbana pelo telefone: 3545-6062. Na ocasião o “lixão a céu aberto”, fornecia a renda de cerca de 10 famílias, Pedro Sousa, morador do bairro Jardim dos Ipês fazia parte deste grupo morador. Pedro afirma que ia todos os dias ao local com um carrinho de mão para garimpar o lixo em busca de sua sobrevivência.

O trabalhador, no entanto, denuncia que o descarte ilegal de lixo acontece regularmente e entende que o maior volume de resíduos é descartado à noite ou de madrugada. “Eu já vi o povo desovando lixo aqui de tudo quanto é jeito. Carro, moto, bicicleta e até caminhão. Ninguém parou aqui para deixar lixo até agora por que vocês estão tirando foto”, comentou enquanto a reportagem registrava as imagens. Ele também conta que já viu sofás, camas e móveis grandes sendo descartados no local.

“Teve um dia que eu cheguei e tinha uma cama em bom estado nesse lixão. Não peguei por que não cabia dentro do meu carrinho. Mas eu já vi coisa muito pior. Animais mortos a gente vê direto”. Ele afirma que já viu galinhas, cachorros e até bezerros apodrecendo no local. A reportagem constatou várias carcaças de aves, algumas em estágio avançado de putrefação.

Pedro entende que coleta de lixo acontece de forma irregular na região e acredita que esse seja o motivo do descarte ilegal na beira da estrada.  Apesar de lamentar o fato da falta de consciência em relação ao lixo, Pedro afirma que o local serve à sobrevivência de muitas famílias. “É muito feio, mas muitas famílias tiram a sobrevivência desse lixão. Junto comigo, tem pelo menos mais nove pessoas que catam material por aqui”, afirma.

Pedro está trabalhando como catador de material reciclável, mas sua profissão é na construção civil. “Sou servente de pedreiro. Não sou catador. Mas, a situação está muito ruim. Não tem serviço pra fazer e a gente é obrigado a se virar. Melhor catar lixo do que roubar, fazer coisa errada. A vida é bem pior na cadeia”, o servente de pedreiro está há três anos sem conseguir trabalho na sua área de atuação. Ele sobrevive com a renda mensal de R$ 400 geradas pelo trabalho de catação.

Aumento do desemprego faz crescer busca por materiais

Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do primeiro trimestre de 2019 pelo IBGE, o índice de desocupação em Goiás cresceu em 2,5%. Há 295 mil pessoas desocupadas no Estado. Essa foi a segunda maior taxa da série histórica do primeiro trimestre anual. O catador Pedro Sousa acredita que o crescimento do desemprego aumentou a procura por lixo. E o material reciclável tem se tornado cada vez mais escasso.       

Durante o tempo em que o trabalho da reportagem estava sendo realizado, ele não conseguiu achar muita coisa aproveitável. O carrinho de transporte de material que ele empurrava chegou vazio e não voltou muito diferente. Segundo ele, outros catadores já haviam recolhido o material do local. “Está cada vez mais difícil de catar material. Como a situação de trabalho está difícil, aumentou o número de pessoas que buscam a sobrevivência no lixo”.

O trabalho é duro. Ele tem que meter a mão no lixo e rasgar as sacolas em busca de algumas gramas de material reciclável misturado ao lixo apodrecido que a população abandona no local.  O catador ressalta que o melhor horário de recolher material para reciclagem é à noite ou de madrugada, quando há maior regularidade de descarte de resíduos. Segundo Pedro, o metal é o material mais buscado pelos catadores, ele é o primeiro a acabar.

“Aqui é bom de vir buscar material à noite ou de manhãzinha, antes do sol sair. É quando não tem luz do dia que o povo desova mais lixo por aqui. Acontece de dia também, mas a maior quantidade é à noite. De dia você não vai encontrar metal nunca. O povo pega tudo antes do sol sair”, afirma o servente de pedreiro.

Os trabalhadores que fazem parte da Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis em Aparecida de Goiânia também sofrem com a escassez de material reciclável para trabalhar. Desde que o Aterro Sanitário do município foi regularizado, a Prefeitura de Aparecida de Goiânia criou um galpão de triagem para que os catadores que trabalhavam em condições insalubres dentro do aterro pudessem fazer a separação do material de forma digna. (Pedro Moura é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

  

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