Após obra, Rua 90 atrai críticas de motoristas que circulam nas vias adjacentes às obras

Se o novo sistema não oferecer qualidade no serviço, transtornos das obras irão passar sem trazer os tão esperados benefícios prometidos| Foto: Wesley Costa

Postado em: 06-02-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Após obra, Rua 90 atrai críticas de motoristas que circulam nas vias adjacentes às obras
Se o novo sistema não oferecer qualidade no serviço, transtornos das obras irão passar sem trazer os tão esperados benefícios prometidos| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

As estruturas do sistema do BRT já
começam a se desenhar na Capital, mas tem atraído críticas de motoristas que
circulam nas vias adjacentes às obras. A pista de rolamento feita de concreto
estrangula algumas ruas paralelas ao trajeto que os ônibus triarticulados
deverão percorrer. Se o novo sistema não oferecer qualidade no serviço,
transtornos das obras irão passar sem trazer os tão esperados benefícios
prometidos pela Administração Pública. O especialista em engenharia de
transportes que atua no Instituto Federal Goiano (IFG), Marcos Rothen, afirma
que o BRT pode ser uma grande decepção.

Alguns pontos das vias vicinais do trecho do BRT, que se estende do
Terminal Isidória até a Rua 90, sofrem um estrangulamento devido a um abrigo de
parada de ônibus situado em um ponto que afasta as pistas de rolamento dos
ônibus triarticulados e espreme as ruas adjacentes. Já na trincheira da Rua 90,
a preferência de passagem fica para os motoristas que circulam nas ruas acima
do viaduto para o acesso à 90. De acordo com o especialista, em momentos de
tráfego intenso isso pode comprometer o trânsito com o aumento de risco de
acidentes.

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Marcos assegura que o ponto de
saída da trincheira em direção a Praça do Cruzeiro deverá ser replanejado. “Ali
ficou perigoso. Quando começar a ter bastante fluxo e as pessoas começarem
circular pela praça, vai ter problema”. Ele alega que trânsito não pode e nem
precisava se afunilar de repente naquele ponto. “Vão ter que reestruturar
aquele local e oferecer uma alternativa para não haver aquele choque entre quem
vem na pista lateral com quem passa pela trincheira”, afirma.

O engenheiro defende que deverá haver uma correção na geometria da via.
“Teria que alargar um pouco ali. Refazer a geometria do conjunto onde a calçada
invade a pista. Esses dias eu passei por lá e me assustei. Parece
que a rua desaparece de repente. Será necessário refazer o projeto”. Marcos não
apresentou nenhuma solução técnica específica para o local, pois afirma que o
espaço deve ser analisado mais detalhadamente para estudar uma solução viável
de engenharia.

Um dos pontos da Rua 90 que deve
comprometer a trafegabilidade dos veículos seria logo após a saída da
trincheira até a Praça do Cruzeiro. Neste trecho, a pista de rolamento de
veículos comuns foi feita do mesmo material de concreto, específico para o
tráfego dos ônibus triarticulados. A pista é mais robusta, pois o asfalto não
aguentaria o peso dos veículos do BRT. No entanto, para carros convencionais, a
via de concreto causa muitas trepidações e pode comprometer o sistema de
suspensão dos veículos em longo prazo. Os
semáforos que controlam o tráfego da rotatória acima da trincheira também têm
apresentado problemas.

BRT prioriza transporte coletivo
afunilando ruas

Sobre o afunilamento de vias
vizinhas à pista do BRT, o engenheiro de transportes alega que a ideia do BRT é
justamente priorizar o transporte coletivo. “Esta essência acaba sendo
transmitida na engenharia das vias”, afirma. A construção da pista de concreto,
onde o BRT trafega, estrangula a pista de veículos individuais em alguns pontos
do trajeto. “O conceito desse tipo de transporte envolve o aumento do uso do
transporte coletivo em detrimento do uso do carro e moto. Se isso não
acontecer, a situação do trânsito vai piorar”, defende Rothen.

No entanto, o engenheiro reitera
que se o sistema do BRT não tiver um funcionamento de alta qualidade ele pode
ser um verdadeiro tiro no pé para a mobilidade urbana da Capital. “Se o transporte não atrair os motoristas a
deixarem seus veículos em casa, a situação pode piorar ao invés de melhorar.
Vai ficar ruim para todo mundo”. O engenheiro destaca que os veículos do BRT
devem ser confortáveis, espaçosos, e seguros para que atraiam os motoristas
individuais a deixarem seus veículos em casa.

O especialista em transportes não
parece estar convencido de que o sistema BRT vai trazer benefícios reais para a
Capital. “Não vai ter qualidade suficiente para melhorar a mobilidade. Seria
necessário que ele fosse construído na Avenida 85, onde há um tráfego muito maior”.
Ele afirma que o sistema foi construído em locais que as vias já existiam. “A
rua pela qual o BRT vai passar, praticamente já existia na Rua 90. Eles fizeram
a obra lá porque era um lugar mais fácil de executar. Gastaram muito dinheiro e
os benefícios serão ínfimos”, declara.

Ele ainda diz que a região da Rua
90 vai demorar muito a ser transformada com a substituição das inúmeras casas
pelas grandes habitações de edifícios verticais, aumentando fluxo do trânsito e
exigindo mais da infraestrutura viária no local. “Apenas após essa mudança
urbanística, a estrutura viária construída no local seria necessária. Talvez,
no futuro, o BRT seja um tiro no pé, uma decepção”.

O engenheiro cita outro exemplo de
obras do BRT que não seriam prioridade. “Mesma coisa acontece na região da
Goiás Norte. Ela já possuía o corredor central onde foi construída a pista de
rolamento do BRT. Aquela parte da cidade ainda está se desenvolvendo e não
exige muito da estrutura viária”.

Muitas obras

O engenheiro de Transportes que
atua junto ao Instituto Federal Goiano, Marcos Rothen, afirma que a quantidade
de obras acontecendo ao mesmo tempo pode deixar o cidadão confuso. “A cidade
está meio confusa, com muitas obras e sinalização mal feitas. Quando o cidadão
tem que passar por um desses lugares acaba ficando perdido”.

O especialista em transportes
ainda afirma que realizar muitas obras na cidade ao mesmo tempo é prejudicial.
“Isso de fazer muitas obras simultâneas prejudica comerciantes, moradores,
prejudica todo mundo. O pior é que depois que elas acabam não aparecem tantos
benefícios”.

Ele cita a trincheira da Rua 90
como exemplo e cita que não percebeu muitas melhorias depois da conclusão da
obra. “Ainda não vi grandes mudanças no trânsito da região. A trincheira encurtou as vias adjacentes,
fechou um pouco da Rua 90 e a sinalização foi implantada um mês depois da
inauguração da via”. (Especial para O Hoje)

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