Etanol deixa de compensar em alguns postos de Goiânia

Cotação do dólar, valor do frete, entressafra e impostos afetam o preço dos combustíveis

Postado em: 11-02-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Etanol deixa de compensar em alguns postos de Goiânia
Cotação do dólar, valor do frete, entressafra e impostos afetam o preço dos combustíveis

Igor Caldas

De acordo com a última Síntese Semanal do Comportamento dos Preços dos Combustíveis feitos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço de revenda do etanol subiu pela décima sétima vez consecutiva e, na relação entre os preços do biocombustível e da gasolina, ultrapassou o valor de 70%, fazendo com que o biocombustível deixe de ser vantajoso na hora do abastecimento. Em alguns postos de gasolina de Goiânia a opção pelo etanol já não está compensando.

Segundo o levantamento de síntese de preços praticados, feito pela ANP, entre o dia 2 e 8 de fevereiro, o valor médio do litro da gasolina em Goiânia ficou em R$ 4,75. Nesse caso, abastecer o carro com etanol só compensaria se o valor estiver abaixo de R$ 3,32. No período, o valor médio de preço por litro do biocombustível ficou em R$ 3,50. Para saber qual combustível é mais favorável, basta dividir o valor do litro do álcool pelo da gasolina. Se o resultado for menor que 0,7, é mais vantajoso abastecer com álcool. Se maior, a opção mais barata é a gasolina.

Continua após a publicidade

Calculadora na mão

O administrador de empresas Carlos Gomes Júnior já sabe que abastecer com o etanol não está compensando, na maioria dos postos de combustível da cidade. Ele sempre faz o cálculo da tabela para saber se o preço do biocombustível está mais favorável do que a cotação da gasolina comum. Ele não consegue entender o motivo do aumento repentino. “A cotação do dólar não subiu tanto, e nós somos um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do Brasil. Ficamos reféns do preço dos combustíveis”.

O gasto de Carlos com combustível é alto. O carro da família percorre, em média, 500 km por semana nas atividades escolares da filha e de trabalho dele e da mulher. Ele gasta cerca de R$ 700 por mês para abastecer. “Antes, a gente tinha dois carros, mas tivemos que vender um por causa das despesas”. Carlos comprou uma bicicleta para realizar alguns dos percursos pedalando. “Preferi privilegiar minhas rotas com a bike. Além de economizar, também me exercito”.

Cadeia produtiva

O economista e coordenador da Finam Economia, Marcus Teodoro, afirma que a cadeia de produção de combustíveis é complexa e não envolve apenas a usina e distribuição do produto. “Existem muitos fatores que influenciam no preço dos combustíveis, a cotação do dólar, o preço do frete, a entressafra da cana e os pesados impostos que esse tipo de produto sofre no país também são parte deles”. No entanto, o economista defende que o fator que mais influenciou no preço do etanol foi o aumento da procura do biocombustível nos postos de gasolina. “Está muito caro abastecer com gasolina, então a procura pelo etanol cresceu e os preços se elevaram”.

De acordo com os dados da ANP, o preço médio de revenda do etanol hidratado apresentou variação positiva de 1,76% em relação à semana anterior, para R$ 3,241/litro, décima sétima semana consecutiva de alta. Nas últimas quatro semanas, um avanço de 2,86%, e na comparação anual, alta de 14,93%. O preço médio de distribuição do etanol hidratado também registrou elevação de 1,76% na comparação semanal, para R$ 2,896/litro. No acumulado das últimas quatro semanas, a elevação foi de 3,58% e comparando com o mesmo período de 2019, alta de 16,31%.

A região sudeste teve a maior alta do biocombustível. Na comparação regional, houve variações semanais positivas em todas as regiões, tendo sido a maior na região Sudeste (2,02%) e a menor na região Norte (0,60%). A relação de preços entre o biocombustível e a gasolina subiu de 69,88% na semana anterior para 70,67% na média nacional, superando o limite de 70% pela primeira vez desde abril/2018.

Perspectivas para o mercado

De acordo com dados do CEPEA/ESALQ, o preço à vista do etanol hidratado para venda interna no Estado Goiás, entre os dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro de 2020, apresentou avanço de apenas 0,8% frente ao da semana anterior, comercializado a R$ 1,84/litro. Segundo o CEPEA/ESALQ, em nota sobre perspectivas para o mercado de etanol hidratado no ano de 2020, “o preço do etanol deveria continuar competitivo relativamente à gasolina nos estados onde ocorre a maior parte da produção e consumo nacional”. O que não vem acontecendo em Goiás.

Segundo o Sindicato da Indústria de Fabricação de Açúcar do Estado de Goiás (SIFAEG), o preço para o produtor de cana-de-açúcar não subiu na mesma proporção que os postos de gasolina. Goiás representa um dos estados com maior produção de etanol do país, mas o produto se encontra na entressafra. As usinas não produzem etanol neste período que se iniciou em novembro e deve seguir até o final de março, meados de abril.

De acordo com o presidente executivo do Sindicato da Indústria de Fabricação de Açúcar do Estado de Goiás (Sifaeg), o preço do etanol funciona como qualquer outra commodity que obedece a lei básica da economia da oferta e da procura. “Como estamos no período de entressafra, a oferta da cana-de-açúcar diminuiu. Ao mesmo tempo, a procura do biocombustível aumentou muito”. André afirma que a procura do etanol bateu um recorde histórico em dezembro.

Além disso, André defende que a alta nos preços não foi puxado pela cadeia produtiva do etanol. Ele cita compara os dados do CEPEA/ESALQ da primeira semana de janeiro com a primeira semana de fevereiro. “Neste período, o valor teve uma queda de alguns centavos ao invés de aumento”. O presidente executivo da Sifaeg ressalta que os incentivos fiscais do Estado são fundamentais para ajudar a fazer com que os preços do produto final não subam. 

O relatório da Agência Nacional de Petróleo revela que o preço médio de revenda da gasolina C apresentou variação positiva de 0,61% em relação à semana anterior, para R$ 4,586/litro. Nas últimas quatro semanas, elevação de 0,70%, e na comparação anual, avanço de 7,70%. Todas as regiões apresentaram variações positivas, tendo sido a maior na região Sudeste (1,12%) e a menor na região Nordeste (0,09%). O preço médio de distribuição da gasolina C registrou variação positiva de 0,39% na comparação semanal, para R$ 4,139/litro. Nas últimas 4 semanas, avanço de 0,83%, e, comparando com o mesmo período de 2019, alta de 10,82%. 

 

Coronavírus afeta preço de combustíveis  

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, defendeu na última sexta-feira (07) que o surto de doenças causadas pelo coronavírus não afetou as vendas e as exportações de petróleo da companhia. A doença teve seu epicentro mundial na cidade de Wuhan, na China. De acordo com Castello Branco, por enquanto, apenas os preços dos produtos da Petrobras foram impactados.

“É apenas um choque, tem duração temporária, estamos atentos. Por enquanto, apenas afetou os preços, não afetou nossas exportações, nossas vendas, tudo indo bem”, afirmou Roberto durante evento na B3, antiga Bolsa de Valores de São Paulo. Castello Branco frisou que existem fábricas fechadas em 20 províncias chinesas, onde o surto do coronavírus começou. Com menos indústrias consumindo petróleo e derivados, o preço dos combustíveis tende a cair — devido à diminuição da demanda e dos consequentes excedentes de oferta.

“O coronavírus representa primeiro um choque de demanda, que acaba se transformando também em um choque de oferta. O país é muito importante na indústria, representa 25% do PIB [Produto Interno Bruto] industrial do mundo e, certamente, terá efeitos sobre o comportamento da economia global, garantiu o presidente da Petrobras.

Castello Branco destacou, no entanto, que a empresa tem se preparado para atuar em um mercado com preços baixos de petróleo. “Uma empresa de commodities, para ser rentável, para gerar valor, tem que ter custos baixos para atravessar ambientes de preços baixos sobrevivendo bem, confortavelmente.” (Especial para O Hoje) 

Veja Também