Estudantes da rede municipal de Goiânia estão sem receber uniformes

Na saída das escolas é comum ver as crianças saindo sem as vestimentas padronizadas| Foto: Wesley Costa

Postado em: 13-02-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Na saída das escolas é comum ver as crianças saindo sem as vestimentas padronizadas| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

A Prefeitura de Goiânia está sem distribuir uniformes escolares para alunos da rede municipal de ensino desde o Cmei até o 9º ano do ensino fundamental há anos. Os alunos têm que fazer o uso de roupas comuns na sala de aula e pais reclamam que esse fato acaba gerando custos adicionais pelo desgaste das vestimentas usadas a cada dia letivo. Na saída das escolas é comum ver as crianças indo embora sem uniformes.

Funcionária de uma padaria na região, Daniela Matias de Sousa Vieira afirma que a direção da Escola Municipal Alonso Dias Pinheiro, no bairro Vila Clemente, não está exigindo o uso do uniforme. No entanto, a falta dessa vestimenta tem gerado aumento das contas em casa. “A gente tem que ficar usando as roupas comuns. Se quiser uniforme, tem que comprar”. Os filhos gêmeos dela, Maria Eduarda e Marco Antônio, frequentam a escola há um ano sem uniformes. “Tive que comprar roupas novas porque já tinham desgastado elas com o uso escolar”. 

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De acordo com a mãe dos gêmeos, a escola nunca mencionou a questão dos uniformes. “Quando eles estudavam no Cmei foi dado uniforme, mas agora eles cresceram e não servem mais”.  Na saída do horário de aula da escola, a falta do uniforme era latente. Apesar da prefeitura não fornecer o material, mães e pais denunciam que ele pode ser adquirido por R$ 30 na porta das escolas.

Daniela se sente prejudicada, com a falta de atenção que a administração pública dá ao material escolar. “Eles deveriam dar o uniforme, a gente já tem que comprar um monte de coisa, caderno, mochila, e todas as coisas que eles usam para estudar, tem que comprar tudo. Nem todo mundo tem condições”.

Nicolas Bastos estava com uma camiseta de uniforme tão desgastada que mal dava para enxergar o escudo da Prefeitura de Goiânia estampado no peito da camiseta. Sua irmã, Sara Bastos, não estava uniformizada na saída da escola.  “Esse uniforme, ele ganhou do primo que fez o Cmei e depois passou para ele, mas já está ficando pequeno. Ele recebeu a camiseta há quatro anos”, afirma a mãe dos estudantes, Daiana Bastos.

Os três filhos de Manuel Ribeiro da Silva estão matriculados na Escola Municipal Alonso Dias Pinheiro há três anos e eles nunca tiveram uniforme. Ele afirma que Josué e Saraiane estão sem uniformes desde que estudavam no Cmei. Eles cursam o 1º e 5º ano, respectivamente. “Eles vendem na porta das escolas, mas eu não estou com condições de comprar”.

Horário

Outra reclamação de Manuel é sobre a mudança de horário da escola. Ele trabalha de pedreiro e em alguns serviços, começa o expediente às 7h. A escola abre a partir das 7h30 porque mudou o horário recentemente. Antes, abria os portões às 7h. “Fica difícil trazer os meninos para escola por causa do trabalho. O horário de pegá-los é 16h30, que patrão libera funcionário para pegar filho em escola”?, indaga. Ele afirma que tem saudades do Cmei que podia deixar as crianças a partir das 6h30 e havia tempo suficiente para chegar ao trabalho no sem atrasos.

A Secretaria Municipal de Educação e Esporte (SME) rebate que o fornecimento de uniformes para os alunos da rede não é uma demanda especifica das prefeituras por se tratar de um item de Assistência Social.

Entretanto, a SME reitera que a ampliação do atendimento e a manutenção preventiva do ambiente escolar são prioridades da gestão, que também prevê a aquisição dos uniformes. Atualmente, a pasta encontra-se em vias de finalização do processo para aquisição de uniformes para que, tão logo possível, os mesmos possam ser distribuídos na rede.

O Ministério Público de Goiás não foi provocado a respeito desta situação. Portanto, não tem como se manifestar. No entanto, a entidade já acompanhou a entrega de uniformes da rede municipal em outros anos.

Ministério Público já se pronunciou sobre uniformes escolares em outras ocasiões 

Há oito anos, a promotora Simone Disconsi Sá Campos afirmou que a entrega dos uniformes representa grande passo no sentido de garantir segurança e dignidade aos alunos, principalmente em virtude da melhor identificação e da padronização das vestimentas, que reduz as situações de bullying, por exemplo.

De acordo como site Brasil Escola, o uniforme escolar é um material que proporciona grande praticidade para os estudantes e gera economia para os pais. Porque usar roupas diferentes, a cada dia de aula, é oneroso devido ao desgaste. Além disso, crianças e adolescentes geralmente gostam de chamar a atenção dos colegas usando roupas diferentes e mais caras, desencadeando o consumismo e diferenças que podem gerar o bullying.

Origem

A prática das escolas em constituir o uso da mesma roupa uniformizada entre os alunos tem sua origem no exército, uma das primeiras instituições a adotar uma roupa única para todos os seus militares.  Os uniformes escolares começaram a ser usados por volta de 1890 pelos estudantes da Escola Normal, responsável pela formação de professores. As escolas mais tradicionais iniciaram o uso do uniforme somente na década de 1920. As demais escolas, na década de 1930.

Ainda de acordo com o site Brasil Escola, os uniformes foram criados com o objetivo de simbolizar as cores, o nome, a tradição e o símbolo da escola. Por isso, os alunos uniformizados deveriam manter um comportamento exemplar e zelar pela imagem das instituições, mesmo se estivessem fora delas.

Entre as décadas de 1940 e 1970, o uniforme de uma instituição conceituada poderia significar um marco de aceitação social, sendo o sonho de muitos alunos e pais. A partir da década de 1990, as instituições de educação, principalmente privadas, mudaram bastante os modelos de seus uniformes, transformando-os em roupas mais confortáveis e descoladas. (Especial para O Hoje) 

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