Em menos de 15 dias, avenida é recapeada pela segunda vez

Água que acumula na pista da Avenida São Paulo compromete a pavimentação| Foto: Wesley Costa

Postado em: 14-02-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Água que acumula na pista da Avenida São Paulo compromete a pavimentação| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

As obras da Avenida São Paulo, na divisa de Goiânia com Aparecida de Goiânia, parecem não ter mais fim. Já é a segunda vez que o trecho no cruzamento com a Avenida Rio Verde recebe obras de recapeamento. A execução dos trabalhos começou na última terça-feira (11), 11 dias após ter sido recapeado.  A via já passou por vários reparos e o reaparecimento de buracos no asfalto é frequente. A água da chuva que acumula no local contribui para fazer com que o asfalto fique danificado.

A consultora de vendas Larissa Feitosa passa de carro pelo local todos os dias para ir trabalhar e afirma que é a terceira vez que o trecho passa por obras. “Eu nunca vi isso. Acabaram de inaugurar e já estão trabalhando nela de novo”, lamenta. Ela alega que o trecho estava repleto de buracos e que a execução dos reparos perde a eficiência quando recebe a água da chuva.  “Passar por aqui estava tenso, vários buracos gigantescos”.

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Larissa não crê que esse último recapeamento vá durar. “Não me assusta se eu passar aqui no próximo mês e perceber que ainda estão trabalhando. Fico triste de constatar que é nosso dinheiro que vai embora junto com o asfalto”. Ela alega que havia buracos em todos os retornos da Avenida São Paulo. “Eu via uma ‘panela’ a cada conversão que tinha que fazer nessa via”, defende.

O prejuízo dos buracos no asfalto já atingiu o bolso da representante de vendas que teve de trocar algumas peças do carro. “Com essa buraqueira por toda cidade eu já tive que trocar uma roda e um pneu”. Ela conta que seu veículo caiu dentro de um buraco e teve um pneu estourado e uma roda danificada. “Gastei R$ 230 em um novo pneu e optei por comprar uma roda usada porque não tinha mais dinheiro, custou R$ 120”.

Justiça

Sobre uma possível ação judicial contra a administração pública para ter o valor do prejuízo de volta, ela se mostra descrente. “Se eu entrar na justiça para receber indenização do dinheiro da prefeitura, eles vão recorrer até não poderem mais. Nem meus netos receberiam esse dinheiro”, lamenta. 

No entanto, há ações judiciais em outros municípios que foram favoráveis aos motoristas que tiveram prejuízos em decorrência de problemas no asfalto das vias. Em São Paulo, a 8ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado condenou a Prefeitura de Bauru a pagar indenização por danos materiais a uma cidadã que teve problemas com seu carro em razão de um buraco no asfalto. O valor de R$ 693 correspondeu ao serviço de mecânica e aquisição de peças para o conserto do veículo.

Ela trafegava em uma avenida da cidade quando o carro caiu no buraco e danificou o amortecedor do carro. A Prefeitura de Bauru recorreu ao Tribunal de Justiça de São Paulo alegando que o acidente ocorreu por falta de atenção da motorista e que ela deveria ter realizado três orçamentos antes de consertar seu carro.

No entanto, o desembargador que julgou o caso disse que não havia indícios de que a motorista havia dirigido com imprudência e que a apresentação de três orçamentos não era uma exigência legal para pedir indenização e condenou a administração do município a pagar a indenização.

A Secretaria de Infraestrutura de Aparecida de Goiânia explica que desde terça-feira (11) as equipes trabalham na recuperação da malha asfáltica do cruzamento da Avenida São Paulo, Rio Verde, Transbrasiliana e 4ª Radial, na divisa com a Capital. A Secretaria alega ainda que foi preciso refazer o asfalto no local, em parceria com a Secretaria de Obras da Prefeitura de Goiânia, já que o cruzamento com sinalização semafórica é temporário até que seja iniciada as obras do BRT no local. 

Manutenção deve ocorrer antes de aparecerem buracos 

A manutenção da pavimentação nas cidades tem que ser constantes e ocorrer antes dos buracos aparecerem nas vias. Se a estrutura estiver comprometida, nem o recapeamento da pista pode solucionar o problema. Lilian Ribeiro de Rezende, Professora Titular da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da UFG, Doutora em Geotecnia, explica que serviços de manutenção periódicos podem garantir a vida útil do asfalto.

“Nota-se que o pavimento não é eterno, mas sua vida útil pode ser garantida ou até mesmo aumentada se forem realizados serviços de manutenção periódica”, aponta. A selagem de trincas para que o processo de deterioração seja interrompido e que elas não virem os buracos é um desses serviços. “Quando se adotada procedimentos contínuos de gestão de pavimentos, os defeitos são diagnosticados e tratados no início do problema, de forma mais simples e menos onerosa”.

Existem vários tipos de soluções de manutenção e restauração, sendo que o tipo a ser escolhido depende de uma análise técnica prévia e da elaboração de um projeto de restauração. Dependendo dessas análises, o recapeamento pode ser uma das soluções. No entanto, quando toda a estrutura está tecnicamente condenada, somente a troca do revestimento (recapeamento) não irá resolver o problema.

Com relação à operação tapa buraco, a especialista afirma trata-se de um serviço emergencial realizado quando não é possível executar, geralmente devido às condições climáticas (chuva), um serviço de manutenção mais eficiente. “Neste caso, o buraco é tampado para dar condição de rolamento para o usuário naquele momento, mas não é a solução definitiva”, Lilian ainda afirma que o ideal é que cada município tenha um setor responsável pela gerência de seus pavimentos.

Este setor deveria manter um banco de dados atualizado sobre as condições das vias e seus dados técnicos, avaliar os projetos de restauração e indicar as soluções para cada caso, apresentar um plano de manutenção e fornecer informações para os gestores tomarem decisões sobre prioridades e investimentos. Dessa forma, os serviços de manutenção e restauração são realizados durante a seca e os pavimentos ficam preparados para suportarem as solicitações que ainda virão.

Ela ainda destaca que revestimento asfáltico é a última camada componente da estrutura do pavimento urbano ou rodoviário. Para essa estrutura apresentar o comportamento adequado durante sua vida útil, seu projeto/dimensionamento deve definir quais materiais serão utilizados em cada camada, qual a espessura de cada camada e qual o número de camadas que serão necessários para suportar o tráfego existente. Tanto em termos de peso como de frequência dos veículos, além das interferências do clima como chuva e temperatura.

Estrutura do pavimento

Outro aspecto destacado pela especialista é que a estrutura do pavimento só funciona bem se houver sistema de drenagem adequado. “Se a água atingir as camadas que estão abaixo do revestimento asfáltico, toda a estrutura estará condenada”, afirma. Lilian também garante que o pavimento asfáltico geralmente apresenta durabilidade em torno de 10 anos; já o de concreto em torno de 20 anos, ou seja, nenhum pavimento é eterno e todos irão precisar de manutenção  preventiva/periódica e de restauração em algum momento.

A especialista aponta vários fatores que podem contribuir para o aparecimento de problemas precoces: falta ou falha de projeto e dimensionamento, erros construtivos, falta de controle tecnológico durante a construção, falta de sistema de drenagem adequado e falta de manutenção preventiva.

No caso específico dos buracos, existe a seguinte explicação: o revestimento asfáltico (geralmente, constituído de brita, areia, fíler e cimento asfáltico de petróleo) irá apresentar fadiga ao longo do tempo devido às solicitações geradas pela ação do tráfego e do clima, sendo que o primeiro sinal de que isso está ocorrendo é o aparecimento de trincas. Se essas trincas não são seladas/tratadas, com o clico contínuo do tráfego e do clima, as trincas vão aumentando e se transformando nos buracos.  (Especial para O Hoje) 

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