City Bus 2.0: uma alternativa para o transporte coletivo de Goiânia

Apesar do franco crescimento dessa opção, e da facilidade que traz ao usuário, ela não representa a solução para o transporte coletivo| Foto: Wesley Costa

Postado em: 18-02-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Apesar do franco crescimento dessa opção, e da facilidade que traz ao usuário, ela não representa a solução para o transporte coletivo| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Uma das últimas inovações no transporte público foi o surgimento do transporte coletivo por demanda, City Bus 2.0, que este mês completa um ano de funcionamento. O uso da tecnologia no transporte é muito importante no planejamento de sistemas, integração e informação de quem se movimenta na cidade. Apesar do franco crescimento dessa opção, e da facilidade que traz ao usuário, ela não representa a solução para o transporte coletivo. No entanto, se o padrão de qualidade do serviço fosse valorizado nos ônibus comuns, a realidade da mobilidade da Capital poderia ser diferente, avalia especialista.

Para a Professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) Erika Cristine Kneib, arquiteta e urbanista, doutora em transportes, o atendimento das necessidades do transporte e mobilidade não passa por uma única solução, mas de um conjunto de medidas que integra as diferentes necessidades dos cidadãos. “Não existe uma solução única para a mobilidade. Ela só será melhorada com ações conjuntas e paralelas. A integração aumenta as opções e oportunidades de deslocamento, o que gera a utilização de modos mais adequados, como o caminhar, a bicicleta e o transporte coletivo”, defende Erika.

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A especialista afirma que a valorização do transporte coletivo na cidade é fundamental, pois este é o único modo motorizado de transporte capaz de promover uma mobilidade mais sustentável. Outro fator essencial é garantir o deslocamento adequado dos pedestres e ciclistas na cidade, principalmente para curtas distâncias. Usuários do City Bus 2.0 têm elogiado a qualidade do serviço. “Se o transporte coletivo comum oferecesse o mesmo conforto, segurança e pontualidade que as vans, muitas pessoas deixariam o carro em casa”, avalia Erika.

O estudante de engenharia mecatrônica, Lucas Charbel utiliza o City Bus 2.0 diariamente desde o início de circulação das vans, há um ano. “Eu não tenho nada a reclamar do serviço. Sempre foi bom e por isso nunca parei de usar”. Ele acredita que o padrão de qualidade do ônibus comum deveria ser o mesmo do transporte coletivo por demanda. “Se o eixão fosse bom desse jeito ninguém ia colocar o carro na rua”. Lucas não deseja comprar um carro. “O transporte por aplicativo e o coletivo por demanda suprem minhas necessidades”.

No entanto, ele alega que se não morasse em um setor próximo de suas atividades, teria que apelar para o transporte coletivo convencional ou na compra de um veículo individual. Lucas mora no Setor Sul e faz trajetos para o Centro e Setor Aeroporto. “Se eu morasse mais longe, o City Bus 2.0 deixaria de compensar para mim”, o estudante afirma que gasta cerca de R$ 7,5 em cada viagem. O preço do trajeto é proporcional à distância percorrida.

Distância

Os bairros mais periféricos são os que mais sofrem com o transporte público. As linhas são mais escassas nessas regiões. O sistema em sua fase de testes, o City Bus 2.0 começou a circular em apenas 11 bairros da Capital. Em um ano de atividades o serviço quase triplicou esse número. No entanto, como a taxa do transporte aumenta proporcionalmente à distância percorrida, ele fica oneroso para quem tem que ir para as regiões centrais todos os dias.

Para viagens mais longas, o custo fica muito superior à integração promovida pelos terminais onde o usuário paga apenas uma passagem para utilizar diversas linhas de ônibus e percorrer longas distâncias na Região Metropolitana. 

Fuga dos usuários

De acordo com a Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC), o transporte coletivo comum realiza cerca de 11 milhões de viagens por mês na Grande Goiânia, o número não inclui o número de viagens do City Bus 2.0.

Segundo o cálculo por meio da fórmula paramétrica encontrada no contrato de concessão do serviço e com os índices oficiais que são utilizados pela Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), a passagem do ônibus comum pode chegar a R$ 4,60 sem apresentar nenhuma melhoria para a população.

O manobrista Johnathan Oliveira, 22 anos, tem pesadelos só de pensar em voltar para o ônibus. “Desde os meus 18 anos eu financiei uma moto e saí do ônibus. Não quero voltar nunca mais. Todo mundo da minha família que anda no transporte coletivo almeja comprar um carro ou uma moto”. Johnathan trabalha em restaurantes do Setor Marista e mesmo que quisesse voltar a sofrer, seu horário é incompatível com os horários de circulação do transporte coletivo. Ele sai do trabalho às 2h. 

Transporte coletivo deve desencorajar o uso do carro 

Para a especialista em transportes, Erika Kneib o transporte coletivo deve desencorajar o uso do carro e da moto. “Eles podem participar da rede de transporte, mas não podem dominar esta rede, como acontece hoje”, defende. De acordo com dados do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran), o número de veículos que circulam na Região Metropolitana de Goiânia ultrapassa 1,8 milhões. A HP Transportes alega que retirou apenas 6,5 mil veículos das ruas desde que começou a oferecer o serviço do City Bus 2.0.

Erika ainda defende que a maneira como a cidade é ocupada é determinante para a qualidade do transporte coletivo. Cidades espalhadas, denominado espraiamento urbano, constituem um fato muito nocivo para a mobilidade, pois incentiva o uso do carro, encarece e prejudica a qualidade do transporte coletivo. “Enquanto a ocupação da cidade não for pensada para beneficiar a mobilidade e o transporte coletivo, dificilmente serão efetivadas soluções”, garante.

Ainda de acordo com a professora, as soluções para o transporte coletivo e mobilidade passam por um modelo denominado Desenvolvimento Orientado ao Transporte Coletivo, com oito princípios: cidades compactas; com atividades próximas, ou o denominado mix de usos urbanos; densidades adequadas e equilibradas; incentivo ao caminhar; incentivo à utilização de bicicleta; cidade bem conectada (para isso a integração entre os modos é fundamental); e, é claro, o incentivo ao uso do transporte público coletivo. Por fim, o modelo destaca o último princípio, que é o “mudar o modelo atual”, no qual o veículo motorizado individual (carro e moto) é incentivado e domina os deslocamentos. (Especial para O Hoje) 

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