Construção do novo prédio do Hospital das Clínicas de Goiânia se arrasta há mais de 20 anos

O prédio da unidade de saúde deverá funcionar com força total após quatro anos de operação| Foto: Wesley Costa

Postado em: 27-02-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O prédio da unidade de saúde deverá funcionar com força total após quatro anos de operação| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

A construção do novo prédio do Hospital das Clínicas de Goiânia se arrasta há mais de 20 anos. O motivo é a dependência exclusiva de investimento a “conta gotas” de emendas parlamentares. Apesar da inauguração do novo edifício estar prevista para meados abril deste ano, o prédio só irá funcionar com força total após quatro anos de funcionamento, pois demanda o dobro de recursos humanos com abertura de concursos públicos. O fato esbarra no respeito às leis de responsabilidade fiscal do governo federal e no andamento da recuperação econômica do país.

No entanto, o superintendente do Hospital das Clínicas e professor da Faculdade de Medicina da UFG, Doutor José Garcia Neto, garante que houve um combinado com o governo federal que prometeu suprir a necessidade de novos servidores por meio do Ministério da Educação em até quatro anos, a depender da melhora da economia. Na opinião do superintendente, a articulação política com deputados para o recebimento dos recursos foi a melhor maneira possível no decorrer de todos esses anos.

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“Fizemos todo possível para que os parlamentares priorizassem o investimento no HC, mas ao longo de 20 anos o país também necessitava de cumprir outras demandas”, opina. O médico acredita que o elevado custo da obra do HC de Goiânia fez com que pressões políticas direcionassem a divisão do valor das emendas para outras prioridades. Ele estima que o custo total da obra seja de aproximadamente R$ 200 milhões. “Os parlamentares não tinham obrigação de priorizar a construção dos HC. Esse tipo de verba é a mais disputada do país”, defende.

Estrutura

Trabalhando com força total, o HC deve dobrar sua eficiência. A quantidade de leitos sairá de 328 para 600 distribuídos em 20 andares com 70 enfermarias por andar. Hoje, o hospital funciona em apenas três pisos de um edifício construído há mais de 60 anos. A nova estrutura vai contar com dois leitos por enfermaria, que poderá ser isolada a qualquer momento. A sessão de radioterapia deverá ser implantada até julho deste ano. Atualmente, além de atender a Capital e o interior, o hospital também recebe pacientes de outros estados como Pará, Bahia, Piauí e Maranhão.

Além dessa estrutura, o novo edifício deve contar com mais quatro andares para garagem, equipamentos de manutenção, administração, área técnica e informática. Mais 16 andares hospitalares serão destinados ao atendimento, laboratórios, capela, necrópsia e estudo de óbitos, diagnóstico, internação transplante e UTIs. Ainda assim, o superintendente afirma que o HC de Goiânia não dará conta de suprir a demanda regional por atendimento à saúde.

“A demanda sempre será maior que nossas estruturas. Mas a conclusão do HC é uma questão estratégica, pois estaremos regionalizando uma referência em atendimento à saúde. Mesmo assim, ainda temos muito a avançar”. 

A Secretaria de Infraestrutura e obras da Universidade Federal de Goiás informou que ainda faltam a ligação da rede de água e esgoto da Saneago, testes de instalações e os ajustes finais. A obra civil também já está na reta final. A Enel se comprometeu em entregar a rede elétrica no prazo de 30 a 40 dias. Assim que for entregue, a mudança para o novo prédio será feita.

Prédio velho

O superintendente explica que todas as internações eletivas serão transferidas para o novo prédio, enquanto as de urgência ficarão no pronto-socorro. As salas emergenciais serão ampliadas para todo o prédio atual do HC que, passando de 20 para 100 ou 150, ainda não se sabe ao certo. Este edifício de três andares vai continuar hospedando laboratório, ambulatório, consultório e pesquisa.

Após a inauguração do novo prédio, os leitos do HC atual serão desativados e transferidos. No entanto, não deverão ser realizados novos concursos para médicos, professores ou abertas vagas para residência em primeiro momento. José Garcia reitera que espera que o edifício atinja funcionamento completo quatro anos depois de sua inauguração. 

Assistência depende de rede filantrópica 

Muitos pacientes que chegam do interior do Estado para serem atendidos no Hospital das Clínicas de Goiânia necessitam que parentes os acompanhem na viagem. Como a maior parte das pessoas que busca o hospital é de baixa renda, elas dependem de assistência social e filantropia de outras entidades. O superintendente do HC de Goiânia, José Garcia Neto, afirma que sozinho, o Hospital não dá conta de atender a necessidade dessas pessoas.

O médico ainda diz que há a articulação da direção do hospital com casas de apoio e filantropia de cidades no interior e organizações filantrópicas como a Organização das Voluntárias de Goiás (OVG). “É necessário criar uma rede de ajuda para que as pessoas que chegam de fora para acompanhar seus parentes não fiquem desassistidas, o hospital conta com essa ajuda porque não conseguimos dar assistência a todos”.

Apesar de todas as dificuldades, o superintendente garante que o atendimento do Hospital das Clínicas de Goiânia está entre um dos melhores do país. Ele cita a posição da instituição em relatório da Controladoria Geral da União que mede o grau de eficiência entidades que prestam serviços públicos. O HC de Goiânia ficou em 11º lugar no ranking de eficiência de atendimento. “Apesar de enfrentarmos várias limitações no atendimento à saúde pública, nós fazemos todo o possível para que o cidadão seja acolhido da melhor forma”.

José Garcia Neto reconhece as limitações de atendimento dos hospitais universitários, mas garante que a existência dessas instituições é de fundamental importância para a melhoria da questão da saúde no país. “Nem digo que seja importante apenas para a saúde pública, mas sim para a saúde do país de uma forma geral, porque quando você melhora a pública [saúde], consegue avançar o todo”.

Os hospitais universitários são geridos pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) que administra mais de 40 hospitais universitários No Brasil. A Ebserh é pública de direito privado e foi criada pelo Congresso Nacional em 2011. O HC atende exclusivamente pacientes pelo SUS e tem recursos destinados pelo Ministério da Educação e Cultura. (Especial para O Hoje) 

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