Exemplo de superação

Daniel, sofreu um choque de cerca de 37,5 mil volts e passou por 112 cirurgias

Postado em: 29-02-2020 às 08h55
Por: Sheyla Sousa
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Daniel, sofreu um choque de cerca de 37,5 mil volts e passou por 112 cirurgias

Pedro Moura

Dificuldades, decepções, problemas são diversas situações que podem parar uma pessoa ou impossibilitá-la de realizar seus sonhos. O músico e empresário Daniel Londes, 27 anos, que passou por várias situações desesperadoras além de 112 cirurgias e 44 dias em coma, conseguiu superar cada obstáculo se tornando um exemplo de superação. Em 2012, há quase oito anos, Daniel trabalhava em uma empresa elétrica, em Goiânia. O até então eletricista sofreu um acidente no trabalho, recebendo uma descarga elétrica de cerca de 37,500 volts.

“É uma nova chance que Deus me deu para conseguir realizar meus sonhos, ele me deu força e esperança para conseguir superar todos os obstáculos que encontrei depois do acidente. Em setembro 2012 fui trabalhar em um prédio junto com meu irmão de criação, era um dia como qualquer outro, mas a sexta laje do prédio estava sem a grade de proteção. A empresa não a colocou para cortar custos. Quando eu estava passando o cabo de energia tive que desenrola-lo fora do prédio, então ao arremessa-lo o cabo acabou pegando no transformador e a descarga entrou na minha mão direita”, explica Daniel.

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Daniel comenta que quando o choque entrou em seu corpo pela sua mão esquerda o mesmo procurou uma saída. “Quando um choque de alta tensão entra, ele tem que sair como se fosse uma bomba. Ele entrou na minha mão direita e saiu pelas minhas costas, pelo meu braço esquerdo estourando-o, cabeça e pelo meu pé direito. Meu corpo pegou fogo, minhas luvas grudaram nas minhas mãos. O meu pé que o choque saiu teve o tendão de aquiles arrebentado. Meu corpo ficou bem lesionado, a pele do meu corpo tive que praticamente trocá-la, além de alguns ossos quebrados, que perfuraram meu pulmão”, diz.

Segundo o empresário, ao acordar do coma sua esposa explicou o que tinha acontecido. Ainda de acordo com ele, alguns de seus membros estavam muito danificados, e talvez poderiam ser reconstruídos. Quando Daniel ainda estava no hospital antes de fazer a cirurgia de reconstrução, pois até aquele momento tinha perdido somente alguns dedos, ele teve um sonho. “Eu nunca fui de acreditar nestas coisas, mas de repente tive um sonho que eu perdia a mão, um pouco para cima de onde estava cortado, entre cinco a dez centímetros depois do pulso e eu brincava com duas crianças de luta e falava vocês estão muitos moles. O papai só tem uma mão e vocês duas”.

De acordo com Daniel, ao acordar pela manhã ele chamou o médico e pediu para que amputasse a sua mão. “Pedi ao médico, mas ele falou que tentaria salvar pelo menos a palma da minha mão. Então o rebati e falei que não queria, ele se virou para mim e falou que se alguém assinasse uma autorização ele faria a operação como pedi, minha esposa me questionou se era isso que eu queria, eu disse que sim, e logo depois ela e meu pai assinaram”.

O empresário explica que ficou 26 horas no centro cirúrgico e após a cirurgia o médico disse a ele que a ideia de amputar a mão foi excelente, devido que o osso do seu membro estava completamente queimado. De acordo com Daniel o médico foi cortando sua mão pouco a pouco até chegar nos sete centímetros que ele desejava.

Superação

A história de Daniel pode ser contada antes e depois do acidente. Antes do acidente ele era cheia de sonhos e após o acidente o mesmo conseguiu realizá-los. E explica que sempre teve o pensamento que tudo que estava previsto para ele, outra pessoa não poderia viver. “O que é para uma pessoa passar outra não vai passar, tudo é na vontade de Deus. Se Deus quis que fosse assim, não há motivos para ficar contrariado, minha mão não irá regenerar. Se eu ficasse triste poderia contrariar Deus, pelos planos que a mim foram impostos, iria contrariar meus pais e minha esposa que me viveriam triste. Acho que isso me fez ser uma pessoa melhor, fez que eu me superasse e, através disso, consegui ajudar muitas pessoas”.

Segundo a esposa de Daniel, Jaqueline Jordana, 24 anos, quando seu marido soube da notícia ele reagiu de uma forma inesperada. “O Daniel reagiu de uma forma diferente, pois sempre teve muita vontade de viver, lutou cada minuto para viver, quando acordou do coma me perguntou o que havia acontecido, contei para ele que tinha sofrido um choque, e mesmo numa situação muito crítica e de muita dor, ele nunca reclamou e nem questionava o porquê daquilo ter aconteceu. Sempre surpreendia os médicos, no começo o que ouvíamos dos médicos era que se ele sobrevivesse não ia andar nem falar, e foi totalmente ao contrário, ele reagiu muito rápido a tudo, não foi fácil de forma alguma, mais a força de vontade dele pra se readaptar foi muito grande, hoje ele tem uma vida praticamente normal”, diz Jaqueline. 

Circunstâncias foram exigindo adaptações aos poucos  

Daniel comenta que sempre foi muito adaptado às circunstâncias. “Sempre fui muito trabalhador, minha família é muito rígida, nasci e fui criado na roça, sempre gostei muito do trabalho no campo, é um trabalho digno. Vim para Goiânia para terminar os estudos e trabalhar, enquanto não trabalhava na minha área que é a música, fiz alguns cursos de eletricista para não ficar parado, posteriormente comecei a trabalhar na área quando aconteceu o acidente”, comenta.

Depois do acidente o empresário comenta que a adaptação veio com o tempo. Segundo ele, no princípio, o que mais focou foi em voltar a andar, já que conseguia se mover apenas de muletas. E logo depois foi seguindo a mesma linha de trabalho, Daniel diz que não voltou exclusivamente para a área da elétrica, mas fez alguns serviços como tal. “Na época eu ainda precisava atuar como eletricista, eu e minha esposa continuamos fazendo algumas coisas na área, até que terminei os estudos. Posteriormente abriu uma vaga para mim como músico em uma orquestra aqui em Goiânia. Mas continuei estudando por quase dois anos, fiz as provas passei e mudei meu ramo”, ressalta.

Hoje, Daniel é musico e toca trompete em uma orquestra de Goiânia, ele comenta que começou a entrar no mundo da música pelo baixo, mas teve que se adaptar a tocar outro instrumento, devido à falta de uma das mãos. Mas diz arriscar tocar algumas melodias no violão. O músico também tem uma grande paixão por animais, o mesmo possui um canil. Daniel também tem uma enorme afinidade pelos esportes herquertes, além de criar cavalos ele os doma e participa de competições de marcha.

“Desde que morava na fazenda, inclusive meu pai ainda mora lá, criávamos cavalos. Minhas raízes são da zona rural, quando peguei idade meu pai começou a focar mais nesta questão. Ele sabia que eu era muito apaixonado por animais, principalmente por cavalos. Então comecei alguns cursos de domador, desde criança eu comecei a domar cavalos. O primeiro cavalo que domei eu tinha 12 anos”.

Segundo Daniel, ele começou a domar os cavalos com uma potra, então foi a domando até que conseguiu montá-la, e também comenta que depois do acidente foi se adaptando. “Naquele momento comecei a tomar mais gosto por domar animais, quando a gente começa uma coisa bem a tendência e ficar melhor ainda. Após o acidente eu fui me adaptando, meu plano foi me focar ao máximo nas coisas que eu mais gosto para me adaptar mais rápido, umas dessas coisas foi voltar a fazer as coisas do campo, estar no meio desde senário e a paz que o ambiente fornece foi como uma terapia”.

De acordo com o empresário, ele foi se adaptando nos dias que ficou na fazenda. “Eu mesmo fui tentando selar os cavalos, às vezes até machucava o colto, porque é muito sensível até ter a resistência, mas mesmo assim continuei, logo comecei a montar nos cavalos mais dóceis até pegar novamente o jeito. O maior problema foi o equilíbrio do meu corpo, já não era mais o mesmo, quando você perde um membro é diferente. É difícil pegar este equilíbrio em cima do cavalo em movimento, principalmente nas curvas. Aos poucos fui voltando novamente a este robe, mas na hora de fazer a doma há algumas dificuldades, como por exemplo, amarrar uma perna ou ferrar um cavalo, dificulta bastante”, exalta.

Ainda de acordo com Daniel, foram dois longos anos longe de uma das suas maiores paixões, pilotar motocicletas. “Após me recuperar consegui o direito na Justiça de pilotar motocicletas sem uma das mãos. Minha moto tem duas adaptações a primeira é o acelerador do lado esquerdo e a outra é o freio”, explica. Daniel também prática vários esportes, como tênis de mesa, futebol, natação, treino e musculação. Além de jogar vôlei, ele que era destro foi obrigado a se tornar canhoto. “Participo de uma liga de vôlei de praia em Goiânia, sou o único deficiente que joga nesta liga, em quatro anos consegui 11 troféus.”.

Família

Daniel explica que ainda no hospital o médico falou que ele não poderia ter filhos, que devido ao acidente ele tinha ficado estéreo. “Na hora foi um baque, eu e minha esposa tínhamos apenas dois meses de casados, e todo mundo quer ser pai, mas eu tinha a confiança que eu estava fazendo a coisa certa e aquele sonho iria se realizar de uma forma ou de outra, fiz o exame e descobri que fiquei estéreo apenas de um testículo, mas posteriormente tive dois filhos com a minha esposa. O primeiro após três anos do acidente”. 

Jaqueline reforça. “O médico falou para nós dois juntos que provavelmente ele ficaria estéril por conta da voltagem, foi um choque muito grande, mais sempre acreditávamos que se fosse da vontade de Deus, esse palavras não teriam efeito sobre nós, como não teve. Nossa fé em Deus sempre nos ajudou nessas horas. Hoje temos dois filhos, Henrique Londes, de 5 anos e Filipe Londes, de 2 anos”, afirma Jaqueline. (Pedro Moura é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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