Atraso histórico da conclusão do BRT traz lentidão no trânsito de Goiânia

As obras estavam previstas no Plano Diretor desde 2007, mas começaram a ser executadas ao mesmo tempo| Foto: Wesley Costa

Postado em: 12-03-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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As obras estavam previstas no Plano Diretor desde 2007, mas começaram a ser executadas ao mesmo tempo| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

O atraso histórico da conclusão do BRT já dura quatro anos com uma obra que se arrasta desde 2015. O grande número de obras viárias acontecendo ao mesmo tempo na Capital tem trazido muitos transtornos e lentidão na mobilidade urbana da cidade e revelam falta de planejamento da administração pública. Todas elas estavam previstas no Plano Diretor de 2007, mas começaram a ser executadas nos últimos anos do mandato do prefeito Iris Rezende. Especialistas afirmam que a falta de planejamento pode comprometer o resultado das obras.

O comerciante José Luís de Lima Júnior está sofrendo na pele os transtornos que a obra está causando no trânsito. “Moro há 56 anos em Goiânia e nunca vi esse tanto de obra acontecendo ao mesmo tempo. Para mim, isso é obra eleitoreira”. Ele defende que as obras deveriam ter sido feitas de forma ordenada. “Deveriam acabar uma e começar outra, mas o prefeito resolveu fazer tudo de última hora. Quero até ver se vai melhorar alguma coisa”.

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Erika Cristine Kneib, arquiteta, urbanista e doutora em transportes afirma que as obras viárias em Goiânia são muito importantes, mas têm que estar dentro de um planejamento maior do sistema viário da Capital. “Se forem planejadas de maneira equivocada, as estruturas podem agravar a situação do trânsito ao invés de melhorá-la”. Erika defende que a solução para fluidez no trânsito é o investimento em transporte público que diminuiria os veículos nas ruas.

A especialista em transportes alega que a baixa fluidez no trânsito está associada ao excesso de uso de automóveis e por sua vez, está relacionada à quantidade de vias na cidade. Segundo ela, a melhoria do transporte coletivo diminuiria veículos nas ruas, melhorando a mobilidade da Capital. “Sabemos que viadutos são instrumentos ultrapassados. Quanto mais ruas e viadutos são feitos, mais congestionamentos são gerados, pois eles estimulam a aquisição de novos veículos”.

A urbanista questiona se o alto investimento em estruturas viárias complexas não seriam melhores empregados se fossem aplicados na melhoria do transporte público.  “Será que a melhoria do transporte coletivo não merece prioridade nestes investimentos? Estas obras viárias foram pensadas para realmente melhorar a mobilidade da cidade ou estão sendo feitas por questões políticas? ”, indaga. 

Ela ainda diz que problemas no trânsito são uma questão mundial e todas as cidades que pensam em melhorar a mobilidade urbana têm muito cuidado para começar a executar obras viárias. “Temos vários exemplos de viadutos que são um marco na paisagem de Goiânia e não resolveram o problema do trânsito”. Erika afirma que as implantações destas estruturas degradam o espaço urbano porque privilegiam os veículos sobre outros meios de transporte. “O viaduto é a maneira mais rápida de chegar ao próximo ponto de congestionamento”, afirma.

Eixos estão previstos no Plano Diretor há mais de 12 anos

Erika Kneib elogia o Plano Diretor de Goiânia de 2007 que prevê uma série de obras para o transporte público. O documento está sendo revisado pela Câmara Municipal de Goiânia. “A proposta do Plano Diretor de 2007 é muito positiva no fortalecimento do Transporte Público e a revisão que está sendo feita continua com esse planejamento”. No entanto, alega que nos mais de 12 anos que estão entre a aprovação e atual revisão do Plano Diretor, pouco do que foi pensado teve implementação. 

“O grande problema é que o planejamento existe, mas implementou-se pouco do que foi planejado”. Ela garante que de todos os corredores de ônibus e ciclovias presentes no mapa do Plano Diretor de 2007, apenas 15% pode ter saído do papel. “Muito do que foi planejado ainda precisa ser implementado e tem que estar articulado com o todo. Não dá para brotar uma obra nova que não está no contexto da cidade”.

A presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Municipal de Goiânia, Vereadora Sabrina Garcêz, faz críticas em relação a falta de planejamento na execução das obras viárias de Goiânia. A revisão do Plano Diretor já passou pela CCJ e está em discussão na casa de leis do município. “Os eixos que estão sendo executados ao mesmo tempo na cidade já existiam no Plano Diretor de 2007. Porque estão sendo feitos no último ano de mandato? Me parece que é porque são obras de caráter político”.

Outra crítica feita pela vereadora é a centralização das obras que compromete o trânsito da cidade. Uma das obras previstas no Plano Diretor é a extensão da Avenida Goiás Norte até o Jardim Primavera na Região Noroeste. “Porque a prefeitura escolhe investir R$ 50 milhões em obras na mesma região ao invés de descentralizá-las? O prefeito sabia onde eram os eixos estruturantes desde o primeiro dia de mandato”. Ela defende a necessidade de se fazer obras de eixos estruturantes, principalmente nos lugares mais afastados das regiões centrais.

Andamento das obras

A Prefeitura de Goiânia retomou na última segunda-feira (9) as obras do BRT na Avenida Goiás e na Praça do Cruzeiro. As obras estavam suspensas devido às últimas chuvas intermitentes e intensas. A conclusão dos serviços fica para a próxima semana, se o tempo continuar firme. A conclusão da obra do BRT está atrasada há mais de 4 anos. A Secretaria Municipal de Transito mantém interdições com desvios na Praça do Cruzeiro, Marginal Botafogo, Avenida Segunda Radial e na Avenida Deputado Jamel Cecílio.

Na Avenida Goiás está sendo feita a base para a execução dos dois pavimentos, de concreto para o corredor, e de asfalto para os demais veículos, entre a Avenida Anhanguera e a Rua 1. Após conclusão deste trecho, a obra será transferida para a outra pista, iniciando pela Avenida Independência.

No trecho da Avenida Goiás, a partir da Rua 1, as obras acontecerão junto com as do entorno da Praça Cívica, finalizando o BRT Norte-Sul. A previsão para o início deste último estágio será em junho. Terminais do BRT também estão sendo construídos no Setor Recanto do Bosque, com término previsto para julho deste ano; Terminal Perimetral localizado na Avenida Goiás Norte, no Setor Urias Magalhães, previsto para ser terminado em outubro; Terminal Rodoviária ao lado da Rodoviária, com previsão para ser finalizado em maio.

Na Praça do Cruzeiro, o Corredor do BRT foi executado e o pavimento flexível, em CBUQ, está concluído na metade da Praça. Com a retomada dos trabalhos, estão sendo executados serviços de pavimentação, rede de drenagem e as calçadas no entorno do espaço. Após a conclusão dos serviços na praça, o trânsito será liberado e a obra será estendida para a Rua 84 até a Praça Cívica. A extensão da Avenida Leste-Oeste está prevista para  ser concluída no fim deste ano. (Especial para O Hoje)  

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