Centro, Campinas e 44 desertos

O primeiro dia de fechamento do comércio na Capital foi marcado por ruas vazias e policiamento

Postado em: 20-03-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O primeiro dia de fechamento do comércio na Capital foi marcado por ruas vazias e policiamento

Pedro Moura

O primeiro dia de fechamento do comércio por conta do coronavírus, em Goiânia, deixou milhares de lojistas desamparados e outros preocupados. As ruas desertas e o trânsito rápido evidenciam a pandemia do Covid-19 e as medidas preventivas adotadas pelo Estado. O decreto prevê que as lojas permaneçam fechadas durante 15 dias. A reportagem do O Hoje foi até alguns locais de maior movimento da Capital para saber a opinião dos lojistas. Algumas lojas do Centro tentaram abrir, mas foram orientadas por agentes da polícia para o fechamento imediato.

Inúmeros lojistas ficaram em casa, acatando o decreto do governador Ronaldo Caiado. Apesar de estarem preocupados com o lucro, afirmam que a saúde é a prioridade neste momento. “Foi passado para nós que tínhamos que fechar as lojas. Sobre os alugueis das galerias e despesas que temos lá, nada ainda não foi falado. Penso que teremos prejuízo”, informou um lojista que preferiu não se identificar.

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Segundo ele, alguns comerciantes ainda não se conscientizaram, mesmo com os casos de coronavírus já confirmados em Goiás e mortes pelo Brasil. “Gostaria que todas as pessoas se conscientizassem. Ficar em casa para manter o vírus sem proliferação. Ontem, foi um dos dias que mais vendemos porque as pessoas estavam correndo para estocar as lojas, e hoje teve algumas pessoas que voltaram a abrir”, revelou outro comerciante.

No entanto, as opiniões se dividem. Outro lojista ouvido pela reportagem não concorda com o decreto, mas, por segurança, está vendendo produtos on-line, sem abrir as lojas para o público. “Nós, do comércio, fomos muito atingidos, já que as vendas pararam. Ninguém quer investir e quem tem dinheiro está guardando. As transportadoras não fazem mais transportes, tudo parou completamente”, explicou o dono de uma loja de roupas, Rafael Silva.

As mudanças afetam ainda mais os funcionários, que temem perder seus empregos. “A gente conversa entre si, não sabemos o que vem depois, por que querendo ou não, estamos em crise. O pessoal está com medo. Muita gente gastou o que não tinha para fazer reservas de alimento em casa”, comentou Rafael. Sobre o policiamento e a segurança, alguns comerciantes ouvidos pela reportagem dizem que o policiamento estava intenso. Segundo eles, as pessoas estão nas ruas ajudando bastante e as ruas seguem desertas.

Prejuízo

Em nota, a Associação Empresarial da Região da 44 (AER44) diz que o efeito para os mais de 13 mil lojistas e outros empreendedores da 44 será realmente grande, “já que com 15 dias de suspensão do atendimento ao público a estimativa é de que se deixe de circular na região aproximadamente R$ 300 milhões.

A Associação, contudo, reconhece urgência do momento e a necessidade de sacrifícios para a preservação de vidas humanas. “Por isso, os lojistas, galerias e shoppings da Região iram cumprir o que determina o decreto do governo do Estado publicado esta semana, neste primeiro dia, e com certeza nos próximos dias esse quadro se repetirá”, diz a nota.

Policiamento

A reportagem do O Hoje questionou o Tenente Coronel da Policia Militar responsável pela operação na 44, Marcos de Barro, sobre o policiamento na região. Ele explicou que o policiamento segue intenso e que não houve problemas em relação aos lojistas e ambulantes. “Fomos bem recebidos, ninguém abriu as lojas, nem montou barracas. Estamos tratando da situação preventiva para evitar que o decreto seja descumprido, com isso estamos contando com o apoio da prefeitura e dos órgãos, que compõem o poder executivo, responsáveis pelas fiscalizações”, comentou.

O Tenente ainda diz que o decreto poderá ser prorrogado e que as ações criminosas na região têm chances meninas de acontecer. “Não é propício, com menos pessoas nas ruas e mais eficaz para a PM exercer o seu trabalho, os delinquentes vão estar mais expostos nestes dias. E com as distribuidoras de bebidas inativas alguns crimes, como o homicídio, tendem a cair”, disse Marcos.

Impacto 

De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), as vendas caíram 16,3% devido às medidas preventivas adotadas pela população, nos últimos dias. Em Goiânia, está situação também se reflete, ruas estão mais vazias, o trânsito mais rápido e as lojas com pouco movimento, desde o início da semana.

Segundo a superintendente executiva da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Goiânia, Dina Marta, alguns lojistas já solicitaram até mesmo o cancelamento de compras que haviam sido pré-agendadas. Ela explica que foram feitas, nos últimos dias, reuniões com os grandes empresários de Goiânia para busca de soluções.

Ainda de acordo com Dina, a Câmara tem buscado incentivos e benefícios aos empresários para tentar reverter estes prejuízos. “Vamos tentar facilitar o dia a dia desses funcionários, com renegociação de débitos, liberação de linha de créditos e parcelamento de débitos”, explica a superintendente da Câmara.

 

Trabalhadores temem prejuízos salariais  

Com o anúncio de fechamento, a Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg), por exemplo, solicitou medidas ao Estado para minimizar os danos causados aos comerciantes. Recomenda-se suspensão, pelo prazo de 120 dias, dos contratos de aluguel dos lojistas de shoppings centers, galerias e comércio de rua; suspensão da cobrança de tarifas de serviços públicos (água e luz) das empresas privadas pelo prazo de 120 dias; linhas de créditos com custo zero de juros para empresas que apresentem o real impacto de não liquidez por 15 ou mais dias. Além disso, a Associação pede auxílio na negociação de benefícios aos trabalhadores das empresas. O objetivo é viabilizar a suspensão dos contratos de trabalho com menor impacto financeiro para o empregador.

A postergação do prazo para recolhimento do IPTU/2020, pelo prazo de 120 dias, sem prejuízo da opção pelo pagamento parcelado também é citada pela Acieg, que também pede a redução da alíquota modal do ICMS para 7% e compensação de valores referentes às Taxas já recolhidas aos municípios e ao Estado. 

Acompanhar e reduzir

Para o consultor empresarial Marcelo Camorim, as empresas menores precisam, dentro de suas respectivas proporções, montar seus comitês de monitoramento para acompanhar a situação e planejar as inevitáveis reduções de custos. “Essa é uma hora em que o controle dos números da empresa é fundamental para evitar o mínimo de perdas ou até mesmo para a empresa sobreviver. Porque você sabe que haverá uma queda na receita devido ao baixo consumo e depois da crise haverá o período de recuperação e os investimentos deverão estar retraídos por muito tempo ainda”, explica o especialista em governança corporativa.

Camorim lembra que uma das primeiras medidas tomadas pelas empresas, sejam elas grandes ou pequenas, é a suspensão das admissões e avaliação de desligamentos. “As companhias precisam ficar de olho nos seus custos, isso em tempo real, e reduzir onde é possível, fazendo novas negociações com fornecedores, revendo a necessidade de compra ou expansão de maquinário e, infelizmente, avaliar a necessidade de demissões”, destaca o especialista. (Pedro Moura é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

 

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