População lota supermercados com medo de faltar alimentos nas prateleiras

Nos primeiros dias da medida de restrições à população no Estado houve um aumento de 60% na demanda nos supermercados| Foto: Wesley Costa

Postado em: 23-03-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Nos primeiros dias da medida de restrições à população no Estado houve um aumento de 60% na demanda nos supermercados| Foto: Wesley Costa

Pedro Moura

Com o surto do coronavírus tomando proporções cada vez maiores, o efeito de pânico que se instalou ao redor do mundo já é realidade nas ruas da Capital. No dia a dia, um sinal claro de medo da doença é a imagem de famílias estocando comida, mesmo que não haja crise real de abastecimento, ainda. Em meio ao processo de isolamento e home office, para muitas pessoas, os supermercados já sentem os efeitos de uma alta na demanda. 

Nos primeiros dias da medida de restrições à população no Estado houve um aumento de 60% na demanda nos supermercados. Alguns supermercados estão enfrentando problemas pontuais com falta de produtos de higiene, alimentos e hortifruti.

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Estocar comida diante do temor do coronavírus virou uma realidade nas filas dos supermercados da Capital. Neste momento, a população goiana se encontra em um cenário que já conhece bem, o engarrafamento, mas desta vez um pouco diferente. Em vez de veículos, os carrinhos abarrotados de compras tomam conta dos corredores dos supermercados.

Ao ser perguntado sobre está crise de pânico em que a população se encontra, o Presidente da Associação de Supermercados (Agos), Gilberto Soares, explicou que o abastecimento de supermercados está normal, mas devido à grande demanda por parte dos consumidores, manter as prateleiras cheias, tem gerado dificuldade. “Na última semana foi uma loucura, estamos com equipes para manter as prateleiras cheias para não faltar alimentos”, disse o presidente.

Gilberto também diz que os consumidores podem ficar despreocupados por que não irá faltar alimentos nos supermercados. “Nossa preocupação é com a vida, estamos sugerindo aos consumidores para não se aglomerarem, evitando assim uma contaminação do coronavírus. Não há necessidade de estocar alimentos”, explica.

Ainda de acordo com ele, os supermercados estão fazendo sua parte para conter a proliferação dos vírus no Estado. “Nós, donos de supermercados, estamos fazendo a higienização das certas de compras, carrinhos, todos os lugares ao qual os clientes tem contato”. 

Portas fechadas

Com o comércio fechado desde a semana passada e parte da população trabalhando de casa, é natural o aumento no consumo de alimentos. Segundo o presidente da Federação da Indústria do Estado de Goiás, Sandro Mabel, agora não é hora brigar com ninguém. Ele alerta o consumidor para se conscientizar, devido que quem gasta dois sacos de arroz, compra oito para estocar. 

“Não precisa sair correndo, vamos continuar com o abastecimento, se continuar assim haverá falta. Estamos conversando com o governo, que está de olho para não espalhar o vírus, é o que todos nós desejamos, mas não podemos tomar atitudes, por exemplo, está faltando arroz, não adianta só a indústria do arroz ficar funcionado, por que você tem o fardo de papelão, a embalagem de plástico do arroz, para não faltar uma coisa outras tem que funcionar”, disse.

Ainda de acordo com o presidente da Fieg, a indústria de alimentos estava tomando uma série de precauções, no sentido de variar turnos, alternar os transportes. Mas no fim de semana o governo estendeu o decreto que fechou as portas do comércio para se estender para a indústria também. 

Sandro ainda diz que a indústria farmacêutica não deve parar. “Não pode parar de forma alguma, assim como todas as indústrias, a farmacêutica precisa de bula para colocar no remédio, a bula gráfica, a fábrica que faz a caixinha do remédio também precisa trabalhar, são cadeias que precisam se organizar, temos a expectativa para não parar, não pode faltar alimento, remédio”.

Mercados

A redação do O Hoje andou pelas ruas da Capital ouvindo supermercadistas e os questionando sobre a demanda de consumidores. Segundo eles, os produtos mais procurados são o álcool em gel, papel higiênico e carne, mas não se engane, mantimentos como arroz, óleo e feijão também estão na lista de prioridades dos consumidores. 

Segundo o gerente de um supermercado de Goiânia, Arthur de Paula, a demanda tem sido intensa. “Os clientes estão pensando que irá faltar produtos nos mercados, então eles vem comprando grandes quantidades de alimento para estocar em casa, estamos tendo uma saída muito grande de produtos que têm um prazo de validade maior, como arroz, feijão, molho de tomate”.

Arthur explica que álcool em gel e mascaras já estão esgotados. “Não achamos em nenhuma distribuidora. E já estamos sendo notificados para fazermos os pedidos com antecedência, como os pedidos de arroz, leite e até mesmo refrigerantes, para não vir a faltar”.

Arthur ainda diz que possivelmente pode vir a faltar mercadorias. “Tanto a indústria, quanto as embaladoras podem ser comprometidas, devido ao coronavírus. Provavelmente vai ser comprometida estas áreas”. O clima de calmaria ainda prevalece entre os consumidores ouvidos pela reportagem do O Hoje em alguns supermercados, mas a previsão é que isso mude nas próximas semanas.

A advogada Mara Fernanda explica que comprou apenas produtos essenciais e não há perigo de acabar o estoque. “Comprei alguns ovos, nada de mais, sem exagero, para que não falte para ninguém, principalmente para as pessoas que não têm condição de comprar tudo de uma vez, se cada um fizer sua parte e não exagerar, penso que não irá faltar mercadorias”.

Já o motorista Thiago Araújo foi ao supermercado para se prevenir e não deixar para fazer as compras de última hora, para evitar tumultos. “Nas mídias estão informando a possibilidade de acabar os alimentos, então resolvi fazer algumas compras antes das prateleiras se esvaziarem. Minha prioridade foi os produtos de higiene, como álcool, mascaras”. 

Ainda não há desabastecimento, garantem supermercados  

A Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) também se pronunciou por meio de nota, informando que não houve desabastecimento, mas em alguns estados foram registradas falta de reposição, como com o álcool em gel, devido a velocidade que o produto foi consumido. Segundo a Associação, a falta de um ou outro produto não configura desabastecimento.

“O abastecimento nas lojas que integram o autosserviço nacional segue dentro da normalidade. O aumento nos casos de coronavírus tem gerado maior procura por álcool gel, que é um produto preventivo, e também por alguns itens de primeira necessidade, como papel higiênico, por exemplo. Contudo, não há registros de desabastecimento das gôndolas, especialmente em relação a itens essenciais para o consumo das famílias”.

A entidade conta com 27 associações estaduais de supermercados e está monitorando essa questão de forma permanente e destacou que todos os elos que integram a cadeia de abastecimento (produtores, indústrias, distribuidores, transportadores e varejo) estão empenhados em manter a qualidade operacional das mais de 89 mil lojas do setor, que atendem, diariamente, mais de 27 milhões de consumidores.

Vale lembrar que o Ministério da Saúde recomenda a redução de deslocamentos para o trabalho, incentiva que reuniões sejam realizadas virtualmente, que viagens não essenciais sejam adiadas/canceladas e que, quando possível, realizar o trabalho de casa (home office). Adotar horários alternativos para evitar períodos de pico também é uma das medidas recomendadas pelo ministério aos estados. (Pedro Moura é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

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