“Negócios não podem parar”, diz empresário do setor de transporte em Goiás

O ex-presidente da Aciag de Aparecida de Goiânia, Osvaldo Zilli, do segmento logístico, lembrou-se da greve dos caminhoneiros e agora teme crise econômica com fechamento total do comércio.

Postado em: 30-03-2020 às 19h00
Por: Nielton Soares
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O ex-presidente da Aciag de Aparecida de Goiânia, Osvaldo Zilli, do segmento logístico, lembrou-se da greve dos caminhoneiros e agora teme crise econômica com fechamento total do comércio.

Nielton Soares

O empresário do setor de
logística, Osvaldo Zilli, dono da transportadora Transzilli e ex-presidente da
Associação Comercial e Industrial (Aciag) de Aparecida de Goiânia, em
entrevista ao jornal O Hoje, nesta segunda-feira (30), opinou acerca das
medidas do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, para combater o novo
coronavírus no Estado, e entende que as atividades econômicas não podem parar.

Jornal O Hoje: se o senhor for
chamado pelo governo para opinar sobre o fim ou prorrogação do Decreto, que
paralisa o comércio em Goiás, qual seria seu posicionamento?

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Como empresário e falando em nome
dos empresários, a gente tem que voltar ao trabalho. Essa seria a minha posição.
Eu mesmo presidi a Associação Comercial e Industrial [Aciag de Aparecida de
Goiânia] por dois mandatos e sei muito bem como é a minha vida de empresário,
mas também seis como é a dos meus colegas empresários. Da dificuldade de se
tocar uma empresa. Então hoje a gente não pode ficar nenhum dia parado. Você
imagina essa quarentena. A gente entendeu que no começo seria até necessário,
mas sabemos também da dificuldade de quem precisa dos serviços, sejam os emergenciais,
sejam aqueles que precisam de algo no dia a dia: alimentos e medicamentos, mas àqueles
que realizam viagens, quem faz todo esse trabalho. Quem precisa de um
restaurante para se alimentar, precisa de um posto para abastecer, precisa de
uma oficina para fazer uma manutenção. Então é uma quarentena muito grande. Da
minha parte, se dependesse de mim, que a gente continuasse tomando cuidado sim,
quem sabe o estádio de futebol, podia continuar por mais uma temporada, até
fechado? Quem sabe essas festas, essas baladas?  Que são organizados, que não tem necessidade.
Que daria para esperar um pouco mais: fechados. Mesmo me colocando no lugar
deles, têm dificuldades, porque eles também precisam sobreviver. Assim, seus
negócios, mas quem sabe mais alguns dias? Até dar uma acertada nesta situação.
E, volto a ser um pouco insistente, acho que a gente tem que voltar a começar a
trabalhar, com suas limitações, com seus cuidados, de repente, essa mudança de
cultura, entre a própria empresa, com os colaboradores, os funcionários, no dia
a dia terem mais capricho na limpeza. Eu penso nesse aspecto.

O Hoje: o senhor acha que foi um
pouco duro esse decreto e faltou, inicialmente, o governo conversar com o empresariado
e a sociedade civil organizada, antes de determinar a quarentena?

Eu até acredito que o governador
[Ronaldo Caiado – DEM] teve até boas intenções. Acho que a preocupação,
realmente, era do acúmulo de pessoas precisarem dos hospitais, pois não há estruturas.
Mas também se entrasse em discussão com a sociedade, a gente sabe que várias
pessoas pensam de um jeito, outros pensam de outro jeito. Eu acredito que não
se chega, realmente, a um acordo. Eu acho que foi, sim, o governador foi duro,
se preocupou, acho que muito como médico, e vejo ele como um bom profissional,
no seu segmento, mas como empresário ele não tem a experiência que nos temos, isso
porque nós precisamos pagar contas todos os dias. Eu sempre falo: o empresário
está neste mundo, com uma missão. Eu acredito que a gente está aqui, para dar
emprego, gerar renda, para nossos estados, nossos municípios, para o Brasil. Eu
acredito que o empresário está nessa missão. Então ele não pode também, daqui a
pouco, fechar seu negócio, parar sua empresa por falta de dinheiro, não vai
conseguir pagar seus impostos, não vai honrar seus compromissos de aluguel, não
vai honrar seus compromissos para pagar o FGTS [Fundo de Garantia por Tempo de
Serviços], pagar o INSS [Instituto Nacional da Seguridade Social] do colaborar,
pagar o salário, pagar PIS, Cofins, e assim sucessivamente, toda essa carga
tributária que o empresário tem. Eu acredito que o empresário tem que ser mais
ouvido, por mais boas intensões que o governo teve, que a sua equipe teve. Mas às
vezes eu até defendo, o próprio presidente da República [Jair Bolsonaro]. Às
vezes o modo de falar dele acaba atrapalhando, a gente sabe que a intenção dele
é boa, às vezes ele coloca mal as palavras e a mídia acaba interpretando até
mal o que ele fala, mas eu noto que a grande preocupação, daqui a pouco, é o desemprego,
as empresas fechando e não conseguindo honrar seus compromissos. E, todo mundo,
felizmente e infelizmente tem seu negócio, ele precisa estar aberto, com portas
aberas para fazer a comercialização dos seus produtos.

O Hoje: o segmento do senhor, no
ano retrasado, enfrentou um momento difícil, com a greve dos caminhoneiros, dessa
época para cá, o setor já se recuperou ou ainda estava se recuperando. E, agora
se avizinhando essa nova crise?

Sim, a parte logística, a parte
do transporte, toda a cadeia logística, ela foi bastante afetada naquela greve
dos caminhoneiros, de 2018. E a gente levou uma lição muito grande. Aliás,
muitas empresas pararam, quebraram, principalmente os autônomos, muitos
venderam seus caminhões, não deram mais continuidade nos seus negócios. A margem
de lucro do setor é pequena. Então, para você se recuperar é difícil. Eu sei
que nós levamos mais de seis meses para conseguirmos retornar ao ponto de equilíbrio
novamente e voltarmos o transporte ao normal. E a gente sabe que a economia estava
meio capenga, nesses últimos dois, três anos, também ajudou a atrapalhar mais
ainda. Enxergando agora de modo geral, nós que transportamos para o Brasil todo
e distribuímos para vários estados, a gente vê a dificuldade, digamos, de quem
opera, porque quem opera, não é só quem vai lá e entrega o produto, quem vai
vender o produto, quem vai fazer a sua entrega, quem vai fazer suas
transferências? Mas volto a enxergar em um todo, o Brasil estava saindo de uma
crise econômica, tentando tornar que este ano a gente podia ter um 2020 melhor.
Dar uma decoladinha com calma, e um 2021 ser melhor, assim sucessivamente. Infelizmente,
veio este vírus, que veio nos atrapalhar. Então eu volto a ser insistente, logística
ela precisa sim, de infraestrutura, ela precisa de quem estar em volta dela,
que esteja também trabalhando, e volto a disser, o mercado precisa estar
recebendo, o restaurante precisa estar recebendo, o posto de gasolina precisa
estar abastecendo. O restaurante na beira da pista precisa estar fornecendo o
alimento para nossos colaboradores e para quem passa nela. Então eu sou um
empresário que gosta de construir. Eu quero ajudar a construir, quero fazer meu
papel, assim, de ser humano, quero fazer meu papel de brasileiro. Eu sou muito
patriota. Sou goiano de coração, mesmo nascido lá no Sul. Mas eu quero fazer a
minha parte, como ser humano. Eu acho que nós vamos ter que abrir as portas das
empresas. Volto a ser insistente, com cuidado sim, eu acho que todo mundo tomou
esse aperto, e vai começar a mudar a própria cultura nas suas casas, nos seus
trabalhos, mas sem trabalho, nós vamos daqui a pouco… o que a gente vai
fazer? Com quem está dentro de casa, o que a gente vai fazer, para daqui a
pouco pagar os colaboradores para eles comparem seus alimentos? Se a empresa
não estiver produzindo. Então eu acho que vamos precisa de muito consenso, não
adianta neste momento, estar medindo forças políticas, medindo forças para
saber quem manda e quem desmanda. Quem põe o decreto, quem depende da situação
do governo federal, do governo estadual e da própria prefeitura. Então, a minha
posição é que a gente volte a trabalhar, mais uma vez: com cuidado.

    

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