Zoológico busca proteger animais do novo coronavírus, em Goiânia

Unidade quer evitar que primatas se contaminem e haja disseminação da Covid-19, como aconteceu com uma tigresa em Nova Iorque (EUA) - Foto: Wesley Costa.

Postado em: 11-04-2020 às 06h59
Por: Sheyla Sousa
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Unidade quer evitar que primatas se contaminem e haja disseminação da Covid-19, como aconteceu com uma tigresa em Nova Iorque (EUA) - Foto: Wesley Costa.

Pedro Moura

As visitas ao Jardim Zoológico de Goiânia, ao lado do Lago das Rosas, no Setor Oeste, estão suspensas por meio do decreto do governador do Estado Ronaldo Caiado (DEM), como forma de conter a disseminação do Coronavírus no Estado. A suspensão das visitas é uma forma de prevenir que os animais se contaminem com o Covid-19, como ocorreu com a tigresa de um zoológico em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

De acordo com o supervisor geral do Zoológico, Raphael Cupertino, algumas medidas já foram implantadas no parque para evitar uma possível contaminação. Ele afirma que há possibilidade de transmissão do Coronavírus, principalmente para os primatas.“Em função desta possibilidade, colocamos uma rotina, onde os tratadores entram nos recintos com máscaras e botas de borracha, após passarem uma solução de cal hidratado nas botas, para evitar carregar micro-organismos para dentro dos recintos, na hora de fazer a limpeza e tratar os animais, prevenindo uma possível contaminação. Uma vez que não temos certeza de como os animais podem se manifestar e se isso afetaria sua saúde”.

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Raphael explica que não houve alteração na rotina dos animais, somente na parte de visitas. “Estamos com uma escala de meia equipe, são duas equipes que trabalham dia sim, dia não. Estão em números suficientes para fazer a limpeza dos recintos, desinfecção, confecção do trato dos animais. Para os bichos, não teve nenhuma alteração em questão do Coronavírus”.

Ainda de acordo com o supervisor, as equipes responsáveis pelo parque continuam a exercer as atividades. “Há sempre um veterinário e um biólogo no parque. Além de uma equipe de tratadores, manutenção, limpeza, nutrição e administração. O funcionamento interno do parque continua da mesma forma”, concluiu.

Comportamento 

A falta de visitas no zoológico pode afetar o comportamento de alguns animais, uma vez que estão acostumados a multidões de pessoas os cercando. Ao ser perguntado como os animais estão se portando, durante a quarentena, o supervisor diz que a equipe do parque ainda não notou diferença no comportamento dos moradores do Zoológico. 

“Os animais estão bem acostumados com a visitação, temos criado o que chamamos de pontos de fuga, dentro dos recintos do urso, leão, para que o animal possa se esconder se não quiser ser visto. Continuam tranquilos, há a equipe de veterinários que fazem a avaliação diária, em relação ao comportamento e estão se alimentando bem”, disse.

Lugar de lazer

O Zoológico, para muitos, é uma ótima opção para passear, reunir os amigos e descobrir curiosidades sobre o mundo animal. Além de ser um local amado pelas crianças, por lá, é possível encontrar espécies raras como a serpente Píton, originária do Sul do continente asiático e a Arara Azul, espécie brasileira ameaçada de extinção. Elas estão entre as espécies mais visitadas do parque. 

Hoje, o Zoológico conta com 470 animais de 123 espécies no seu plantel, entre elas pode-se encontrar tucanos, pavões, onças, tigres de bengala, leões, hipopótamos, capivaras e muitos outros.

Tigresa do Bronx

A tigresa no zoológico do Bronx testou positivo para o Coronavírus. Nádia, a tigresa malaia de 4 anos, foi testada para a doença depois de desenvolver uma tosse seca junto com outros três tigres e três leões. Acredita-se que o vírus que causa o Covid-19 tenha se espalhado de animais para humanos. Antes da tigresa, um pequeno número de animais domésticos testou positivo em Hong Kong.

Mesmo com outros tigres e leões também apresentando sintomas, o zoológico decidiu testar apenas Nádia, porque ela estava mais doente e começou a perder o apetite. A tigresa foi submetida a raios-X, um ultrassom e exames de sangue para tentar descobrir o que a estava afetando. Então o zoológico decidiu testar o Covid-19, devido ao aumento de casos na cidade de Nova York, o epicentro do surto nos Estados Unidos. O zoológico está fechado desde meados de março. 

Transmissão entre animais são casos isolados 

Após a transmissão do Coronavírus entre animais ganhar repercussão mundial, devido a tigresa do zoológico de Nova York testar positivo, o Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás (CRMV-GO) divulgou nesta semana considerações sobre a possibilidade. Segundo avalia a entidade, os casos ainda são isolados e os estudos experimentais que avaliam animais como possíveis transmissores ainda não foram confirmados.

Segundo o médico-veterinário Fernando Zacchi, assessor técnico da presidência do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), estatisticamente, são casos isolados e, epidemiologicamente, esses animais não representam fonte de infecção significativa, com potencial de disseminação da doença. Ainda de acordo com Zacchi, há duas formas de se identificar agentes infeciosos virais nos animais, a identificação direta da partícula viral, e a indireta, que sinaliza a resposta imune do paciente ao agente ou seus componentes.

“A presença do agente, isoladamente, tem pouco valor diagnóstico, pois apenas nos informa que o animal teve contato com o vírus, sendo necessários outros testes e acompanhamento epidemiológico para obtermos uma informação mais apurada. Existe uma grande diferença entre encontrar o agente infeccioso e o animal ser capaz de desenvolver e transmitir qualquer doença”, destaca.

Estudos chineses

Para o Conselho, pode haver desencontro de informações até mesmo entre os profissionais da área. As discussões ganharam força em razão de um estudo realizado por pesquisadores chineses que expuseram cães, porcos, galinhas, gatos, furões e patos a altas doses do vírus, concluindo que haveria capacidade de replicação, mais alta entre furões e gatos.

O estudo e sua divulgação, sem questionamentos, gerou críticas de pesquisadores brasileiros, publicadas no Jornal da Universidade de São Paulo. Na reportagem, o professor Paulo Eduardo Brandão, do Laboratório de Zoonoses Virais da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ/USP), é enfático: “se eu fosse revisor e recebesse esse artigo, negaria a publicação”.

Necessidade de cautela

Apesar disso, a entidade destaca alguns cuidados que devem ser tomados com os animais. Tendo que ter mais cuidado no trato com os animais de estimação, se a pessoa estiver se isolando, protegida, não há por que se preocupar com os animais silvestres. Outro ponto que o CFMV chama atenção é para a necessidade de isolamento de animais domésticos de pessoas infectadas. “O tutor infectado, ao espirrar ou tossir, poderá espalhar partículas com vírus pela pelagem do animal. Se o pelo estiver contaminado e outra pessoa o tocar, não há garantia de que não haverá transmissão”. (Pedro Moura é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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