Estado anuncia redução de verbas para investimentos em infraestrutura das rodovias

Antes do corte, a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) contava com R$ 300 milhões para investimentos, agora terá apenas R$ 180 milhões disponíveis| Foto: Wesley Costa

Postado em: 16-04-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Antes do corte, a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) contava com R$ 300 milhões para investimentos, agora terá apenas R$ 180 milhões disponíveis| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Última pesquisa sobre qualidade das rodovias feita pela Confederação Nacional de Transportes (CNT) aponta que maior parte das estradas como ruim (26,5%), regular (35%) e péssimas (9,1%), em Goiás. Categoria de caminhoneiros aponta as GO-330, GO-060, GO-174, GO-422, GO-206, GO-320, GO-319, GO-410 como as piores para se trafegar em Goiás. Estado anuncia redução de verbas para investimentos em infraestrutura das rodovias devido à crise do Coronavírus e preocupa segmentos que dependem do trânsito nas estradas.

Antes do corte, a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) contava com R$ 300 milhões para investimentos, agora terá apenas R$ 180 milhões disponíveis. A pasta afirma que vai concentrar os gastos na manutenção das rodovias. O trecho da rodovia GO-060 entre Israelândia e Iporá continua interditado, trecho da GO-070, erodido na saída da Capital, também segue parcialmente interditado.

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Geraldo Guilherme Correa costuma se exercitar todos os dias ao lado do trecho interditado da GO-070. Ele se mudou do interior para a Capital há cerca de três meses e, desde então, adotou esse comportamento. Ele admite que não viu a obra caminhar muito nesse período. “Eu vejo os homens trabalhando, mas as máquinas sempre ficam paradas. Nunca vi funcionando. Pelo tempo e urgência, acho que eles já deveriam ter consertado”. O jovem acredita que falta vontade do governo para concluir os trabalhos.

Setor produtivo

O setor produtivo está em alerta com a malha rodoviária do Estado. O Coordenador Técnico do Instituto para Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG), do Sistema FAEG, Alexandro Santos, esclarece que o setor produtivo agropecuário de Goiás depende e muito da qualidade de toda malha viária no Estado. No entanto, destaca as rodovias GO-070, GO-010, GO-174, GO-020, GO-164 (regular). De acordo com o levantamento da CNT, apenas a GO-070 e GO-020 estão em bom estado de conservação.

“Todas as rodovias, de Norte a Sul, Leste a Oeste, que cruzam o Estado, são muito importantes para o escoamento de toda produção”. Alexandro explica há uma grande variedade de segmentos de produção agropecuária em Goiás e todas as regiões do Estado possuem alguma cadeia produtiva que necessita das rodovias em bom estado de trafegabilidade. Ele cita a cadeia produtiva do leite como exemplo, presente em praticamente todos os municípios do Estado. “O produtor tem que vender o leite para o laticínio. Um caminhão precisa ir até sua propriedade para fazer a coleta do produto. Se não tiver estradas boas, claro que o setor vai ser prejudicado”, afirma.

Cenário pessimista

O técnico defende que as rodovias federais encontram-se em bom estado de conservação, mas que as rodovias estaduais são motivo de preocupação. Em relação aos cortes de orçamento nos investimentos da Goinfra, Alexandro não se mostra otimista. “Se a situação está ruim na maior parte das rodovias estaduais, com esse corte, vai ser pior ainda”. Ele defende que o Estado deveria buscar parcerias público-privadas para garantir a trafegabilidade das vias. “O agro é um grande propulsor da economia no Estado, mas não podemos esquecer de que a boa trafegabilidade das vias também afeta a segurança das pessoas de forma geral”.

Caminhoneiros 

O presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) e líder da categoria de caminhoneiros no Brasil, Wallace Landim (Chorão), defende que a principal preocupação das condições da estrada é na parte da segurança dos condutores. “A gente fica preocupado, principalmente em relação às rodovias estaduais que são muito mal conservadas e possuem um serviço mal feito de infraestrutura”. Ele ressalta que em épocas de safra, como agora, elas se danificam muito com o tráfego por causa da infraestrutura precária.

Chorão declara que apesar do movimento de fretes dos setores industriais e comerciais ter caído, Goiás ainda está conseguindo segurar a baixa de trabalho da categoria porque entrou no período de safra. “O que está rodando pelas rodovias é o grão. O frete de produto acabado diminuiu muito. Já temos vários motoristas confinados porque não conseguem carga para voltar pra casa”. No entanto, o líder da categoria afirma que o trabalho da safra vai minguar dentro de aproximadamente 20 dias.

O presidente da Abrava julga que a prioridade é um plano emergencial para categoria e pressiona o Governo Federal e o Ministério da Economia. No entanto, afirma que a questão da infraestrutura das estradas tem que vir logo em seguida. “O movimento de fretes caiu mais de 40%, mas não adianta voltar a trabalhar com as estradas nessas condições”, constata.

Transparência

Chorão diz que há falta de transparência nas contas da Goinfra. “A gente vê o montante de dinheiro, mas não sabe para onde ele vai. Onde esses R$180 milhões serão aplicados?”. Ele cita o exemplo do trecho interditado na GO-070 por causa de uma erosão que aconteceu há mais de três meses. “Têm dinheiro aplicado ali. Porque até hoje não foi consertado? Aquele trecho é muito importante para todo Estado”, condena.

Ele defende maior transparência e fiscalização dos gastos públicos por meio de uma câmara temática que analisaria qual montante de dinheiro foi direcionado para o Estado consertar as rodovias e fazer um acompanhamento se o serviço está realmente sendo feito ou não. “A Abrava vai começar a rodar as rodovias, fazer levantamentos e cobrar do governador Ronaldo Caiado e da superintendência da Goinfra”.

Empresas de transporte temem recessão 

Presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística do Estado de Goiás (SETCEG), Paulo Afonso Rodrigues, diz que poucas rodovias goianas estão em bom estado. O levantamento feito pela CNT confirma que a maior parte delas é ruim ou regular. Ele acredita que para manter o setor de transportes funcionando, é fundamental que as empresas, indústrias e comércios tenham funcionamento.

“Estávamos em um ritmo de recuperação econômica no Brasil. Tínhamos a expectativa de que o país fosse dar um salto porque a gente vinha de um período de recessão intenso. As esperanças de melhorarias morreram quando fomos surpreendidos com o efeito devastador dessa pandemia”, constata.

Primeiramente, estamos pensando em como manter as estradas abertas. Paulo lembra que o setor de transportes é de prestação de serviços intermediários entre indústria, comércio e consumidores. “Se considerarmos que o movimento do comércio e indústria diminuiu e muitas pequenas empresas estão fechando as portas, vamos concluir que isso afeta drasticamente o setor de transportes”.

Sem esperanças

O líder sindical acredita que as rodovias estaduais que estão em estado ruim devem continuar do mesmo jeito. “Estamos saindo desse período de chuvas onde há uma piora considerável das rodovias. No entanto, onde há trafegabilidade ruim por conta de lama e água deve dar uma ‘melhoradinha’. O restante continuará a mesma coisa”. Paulo afirma que o governo deve ampliar esforços para manter a trafegabilidade das rodovias.

O presidente do Sindicato afirma ser importante adotar medidas que garantam o funcionamento de indústrias e empresas o quanto antes, pois paira no ar o mistério de quanto tempo a situação de isolamento vai permanecer. “Estamos procurando, por meio da Confederação Nacional de Transportes, uma forma de que o governo disponibilize essas linhas de no crédito também para os pequenos empresários”, afirma.

Ele defende que empresas estão ameaçadas e isso vai resultar em queda na arrecadação de impostos para o Estado. “Isso vai gerar uma reação em cadeia onde tudo vai se deteriorar”. Paulo declara que o Estado terá que refazer seu planejamento, mas concorda que a prioridade neste momento é o sistema de saúde. No entanto,ressalta a importância de que o governo, tanto em âmbito federal quanto estadual,em adotar medidas para que as empresas se mantenham em funcionamento. “No restante, vamos ter que ir administrando isso,à medida que os problemas vão surgindo”, afirma. (Especial para O Hoje)

 

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