Tratamento com plasma já é testado em pacientes com Covid-19 em Goiânia

Testes são submetidos apenas em pacientes em estado grave e monitorados de forma minuciosa| Foto: Wesley Costa

Postado em: 22-04-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Testes são submetidos apenas em pacientes em estado grave e monitorados de forma minuciosa| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Enquanto não há conclusão sobre os efeitos benéficos ou adversos da hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento contra a Covid-19, pesquisadores têm dedicado esforços em alternativas no tratamento da doença causada pelo novo Coronavírus. Uma delas tem sido o uso do plasma sanguíneo com anticorpos de quem já se curou da doença. O material já está sendo testado nos maiores hospitais do país e também em enfermos de Goiânia. O teste do procedimento já foi feito em duas pessoas em estado grave na Capital.

O advogado Marcelo Pinto Pacheco, 46 anos, sofreu com sintomas graves após ter contraído a Covid-19. No dia 17 de março, com sintomas de dor no corpo e tosse,  consultou a um médico. Marcelo foi diagnosticado com uma pneumonia bacteriana depois de resultado de tomografia. Após ter uma piora dos sintomas, o advogado voltou a procurar ajuda médica e realizou uma segunda tomografia. Foram notadas manchas em seu pulmão por meio do exame e ele foi internado com suspeitas de Covid-19.

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No entanto, Marcelo só recebeu a confirmação da doença depois de estar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital do Coração Anis Rassi em Goiânia. Ele se recuperou da doença sete dias depois e se voluntariou para ser doador de plasma sanguíneo. “Depois que eu tive alta do hospital, fiquei um período de quarentena em casa e quando estava apto, me tornei doador de plasma porque quero ajudar a quem sofre com o que eu passei”, relata. Ele ainda afirma que ficou sabendo sobre a doação de plasma sanguíneo quando estava hospitalizado.

O advogado doou para um banco de sangue privado da Capital que atende vários hospitais, tanto da rede privada quanto do Sistema Único de Saúde (SUS) que está coletando o material de pessoas que foram curadas da Covid-19.  O procedimento do uso do plasma para tratamento contra a doença consiste na coleta de plasma sanguíneo de um paciente que entrou em contato com o vírus, sarou da doença e não acusa mais cópias virais em exames.

Preconceito

Apesar da disponibilidade de ajudar e de não apresentar mais cópias do vírus no sangue, o advogado afirma ter sentido preconceito no condomínio onde mora. Ele acredita que a discriminação aconteceu devido à quantidade de desinformação que a população vem recebendo no período da pandemia. “Eu vi as pessoas se afastarem ou fazer manifestações acusatórias de que eu estivesse ajudando a espalhar a doença”. Marcelo afirma que apesar de não apresentar mais o Coronavírus, toma todas as precauções recomendadas pelo Ministério da Saúde.

O médico hematologista e diretor do Laboratório Hemolabor que realiza a coleta de doadores de plasma em parceria com vários hospitais de Goiânia, Luís Henrique Ribeiro Gabriel, explica o procedimento. “Os doadores apresentam um anticorpo chamado IGG positivo para Covid-19 que está presente apenas no sangue de pessoas que já entraram em contato com o vírus”, explica.

Segundo o médico, a ideia do uso do plasma sanguíneo com anticorpos é de que as células de defesa específicas contra o vírus produzidas no corpo de um antigo hospedeiro ajude outra pessoa infectada a derrotar a doença. O diretor do banco de sangue ainda afirma que é necessária uma seleção rigorosa de doadores para que o processo tenha resultados eficazes e seguros. Ele diz que os testes são submetidos apenas em pacientes em estado grave e monitorados por diversos profissionais da equipe médica na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Luís explica que a especificidade dos IGG positivo para Covid-19 faz com que as células de defesa ataquem apenas o novo Coronavírus no corpo do hospedeiro, tornando impossível que ela destrua outras células humanas. “O tratamento consiste em infusão de plasma com anticorpo específico no corpo de pacientes com a Covid-19. Já temos vários doadores cadastrados no nosso banco de sangue, eles são aqueles pacientes que fizeram exames nos hospitais parceiros do laboratório”, declara o médico. 

De acordo com o diretor do banco de sangue, o uso de plasma sanguíneo no tratamento contra a Covid-19 não envolve medicamentos e por isso não é necessário o envolvimento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mas todos os procedimentos estão sendo tratados formalmente como pesquisas por entidades governamentais e associações científicas como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ele ainda afirma que a eficácia do tratamento só será comprovada após o resultado dos testes em um grande número de enfermos. 

Tratamento com plasma sanguíneo já foi testado  

A infusão de plasma sanguíneo para o tratamento da Covid-19 já foi testada em dois pacientes internados na Capital. “Já testamos em dois pacientes internados em hospitais parceiros. Esse tipo de tratamento se mostrou eficaz em várias outras viroses enquanto não havia vacina ou medicação específica para combatê-las”. O médico esclarece que os estudos com plasma sanguíneo são capitaneados pela Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH) e está sendo testado também em hospitais de reconhecimento internacional como o Albert Einstein e Sírio-Libanês, em São Paulo.

“Os dados para o tratamento da Covid-19 com plasma sanguíneo ainda estão sendo levantados com testes porque é um procedimento experimental que não está definido por estudos clínicos, mas na prática, pacientes apresentaram melhora com o procedimento”, defende o médico. No entanto, o hematologista afirma que há variáveis que influenciam na melhora do paciente após o recebimento de plasma com anticorpos. “A melhora do quadro de saúde pode depender muito do momento em que se inicia a infusão”, esclarece.

Efeitos colaterais

O médico afirma que o doador do material pode sofrer alguns efeitos colaterais porque a quantidade de plasma sanguíneo retirada do corpo não é pequena em alguns casos, chega-se a retirar 10% do plasma sanguíneo presente no corpo humano.  Ele afirma que após a coleta, o doador pode desenvolver uma hipotensão e em casos mais acentuados pode ser necessária uma infusão sanguínea para atenuar esse desequilíbrio.

O doador de plasma, Marcelo Pinto afirma não ter sofrido efeitos colaterais após a doação de plasma. “Mesmo depois retirarem cerca de 500 mililitros de plasma sanguíneo do meu corpo, eu fiquei muito bem. Não senti nenhuma alteração”. Ele afirma que todo o processo foi monitorado de forma intensa pela equipe do banco de sangue. “Foi tudo muito bem vigiado por eles e qualquer alteração maior que meu corpo sofresse, o processo seria interrompido”, lembra o advogado.

Para quem recebe o material, o diretor do banco de sangue afirma que as complicações podem ser as mesmas de qualquer outra infusão sanguínea. Podem acontecer reações alérgicas, febris e de hipervolemia, quando a pessoa fica com muito líquido no interior das veias e há aumento de pressão que leva excesso de líquido aos pulmões. Para evitar que qualquer um desses problemas leve a uma piora do quadro de saúde do paciente, o médico afirma que o procedimento é executado de forma totalmente controlada dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva. (Especial para O Hoje) 

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