Reabertura do comércio em Aparecida de Goiânia pode ameaçar saúde de moradores

Prefeito de Aparecida anuncia que mais de 80% das atividades econômicas da cidade devem ser retomadas| Foto: Wesley Costa

Postado em: 23-04-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Prefeito de Aparecida anuncia que mais de 80% das atividades econômicas da cidade devem ser retomadas| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Mesmo com 14 casos confirmados de Covid-19, o município de Aparecida de Goiânia segue ousado no avanço da abertura do comércio perante o decreto do governo do Estado. Apesar do prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha (MDB), ter prorrogado a portaria que mantinha as portas do comércio fechadas, ele mesmo anunciou que cerca de 80% das atividades econômicas da cidade devem ser retomadas a partir da próxima terça-feira (28). Aparecida de Goiânia é a única das grandes cidades do Estado com este nível de flexibilização.

Robson Alcântara, 31 anos, defende que a restrição do comércio foi positiva e ajudou a diminuição dos casos previstos no Estado até o momento, mas acredita que já é hora de começar abrir as porta do comércio. Para ele, a flexibilização requer o devido cuidado. “Estamos no meio de uma pandemia, mas acho que se as pessoas não abrirem as portas das lojas, a coisa vai ficar muito feia”, afirma.

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Ele concorda com a atitude do prefeito da cidade, mas têm ressalvas. “Tem que ter a consciência do uso dos equipamentos e fiscalização da quantidade de pessoas nos estabelecimentos para evitar aglomerações”, justifica.  O morador de Aparecida de Goiânia ainda defende que nem todo estabelecimento deve permanecer em funcionamento. “Acho que bares, restaurantes e casas noturnas não têm que voltar a funcionar. Esse não é o momento”.

Rose Câmara, 45 anos, aposta na consciência individual do cidadão para fazer com que os números de casos da doença não sofram um aumento alarmante com a volta das atividades econômicas da cidade. “Temos que acreditar que as pessoas terão consciência de utilizar equipamentos de proteção e evitar se aglomerar nos estabelecimentos ou a doença pode avançar”, afirma.

O motorista de ônibus Gilmar Antônio Nogueira acha que está na hora de abrir as portas do comércio, mas é a favor do controle e fiscalização por parte do município. “Se não voltar, o povo vai ter que começar a pedir esmola”, defende. “Acho que nas lojas muito grandes é preciso ter algum tipo de limite de entrada de pessoas porque nos supermercados já está havendo um descontrole”. Ele diz que há aglomeração de consumidores nos supermercados da cidade.

Apesar de defender um reforço dos cuidados com a abertura do comércio, o motorista de ônibus ressalta que o retorno das atividades econômicas é urgente. “Na crise, quem mais sofre é o pobre, o pequeno comércio, o microempresário. Se o dinheiro não começar a entrar, as dívidas vão se tornar uma bola de neve”, declara Gilmar. Ele lembra que os comerciantes ainda tinham ativos para receber do último mês para quitar dívidas, mas que daqui pra frente poucos terão dinheiro em caixa.

Pleno funcionamento

Até o próximo dia 28, o que vale é a portaria publicada no início do mês que concede a liberação ao funcionamento apenas de setores considerados essenciais à população. Supermercados, farmácias, feiras de hortifrutigranjeiros e distribuidoras de gás estão em pleno funcionamento na cidade.

As empresas que desejarem retomar as atividades a partir da próxima terça-feira vão ser obrigadas a emitir um novo alvará provisório de funcionamento por meio de uma plataforma digital que será especificada no decreto. O novo decreto deve ser publicado no Diário Oficial ainda nesta semana. O político pontuou que pode rever a determinação a qualquer momento dependendo da queda ou do aumento de casos da doença no município.

O prefeito afirma que deve flexibilizar a reabertura de pelo menos 24 setores do comércio.  No entanto, alerta que a Administração Pública vai tomar medidas para manter os cuidados de prevenção contra o novo coronavírus. Ele diz que houve uma série de critérios estabelecidos por meio de um comitê formado por agentes sanitários, médicos e o Ministério Público. Gustavo afirmou que haverá monitoramento de número de celulares dentro dos estabelecimentos cadastrados para evitar aglomeração de pessoas.

Cidades avançam na flexibilização, mas com menos força 

A cidade de Anápolis conta com mais de 34 casos confirmados da Covid-19 e também deve flexibilizar o comércio nos próximos dias. A administração do município, vigilância sanitária, setores empresariais, comerciais e representantes do legislativo se reuniram na última segunda-feira (20) em vídeo conferência para discutirem a reabertura de atividades econômicas da cidade.

Em entrevista a uma rádio de Anápolis, o presidente da Câmara Municipal do município, Leandro Ribeiro afirmou que a solicitação estipulada na reunião foi para liberação de pelo menos 30% da capacidade dos comércios e empresas locais. “Nossa demanda foi muito bem recebida e a expectativa dos setores comerciais e empresariais é de que a administração do município tenha uma resposta até o fim da semana”.

Leandro Ribeiro ressaltou que medidas preventivas deverão ser adotadas. “Estamos preconizando o fornecimento de EPIs para funcionários, escalonamento de horário, bancar a gasolina para não irem de ônibus. Se tivermos problemas na empresa como aconteceu no DAIA [Distrito Agroindustrial de Anápolis], os empresários devem assumir essa responsabilidade”, defende. A reportagem tentou falar com a Prefeitura de Anápolis, mas não teve respostas até o fechamento da reportagem.

Trindade

A Prefeitura de Trindade anunciou um novo decreto na última segunda-feira (20). O documento reativa o funcionamento de comércios, indústrias e prestação de serviços na cidade. Poderão voltar a funcionar academias, lojas de eletrodomésticos, eletrônicos, confecções, construção civis e profissionais liberais. As atividades voltarão a ocorrer a partir de ontem (22). Bares, boates e escolas vão continuar com atividades suspensas.

A volta ao funcionamento dos estabelecimentos deve acontecer mediante ao cumprimento de normas do Ministério da Saúde para combater a propagação da Covid-19. Algumas das medidas adotadas serão o distanciamento mínimo de dois metros e uso de máscara. Os comércios vão ter que dar prioridade à ventilação natural e ter a limpeza do ambiente intensificada. Além disso, deverão oferecer álcool em gel com graduação de 70% para os consumidores.

O novo decreto determina o retorno do funcionamento dos setores comerciais de móveis, eletrodomésticos, eletrônicos, óticas, papelaria, construção civil em geral, confecções, calçados, brinquedos, setor automotivo, cosméticos e beleza, higiene e limpeza, utensílios domésticos, embalagens, lembranças e suvenires, bicicletas e acessórios, gráficas, serigrafias e plotagens.

Setores aptos a funcionar 

Na área de indústrias, voltarão a funcionar o setor de produção de bebidas e gêneros alimentícios. Entidades de classe e sindicatos, cursos profissionalizantes e de atendimento individual, informática, agências de empregos, serviços de telemarketing, profissionais liberais (autônomos, empresas e entidades representativas); clínicas de saúde e exames em geral; laboratórios, radiologia e profissionais da saúde em geral. (Especial para O Hoje) 

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