Aparecida deve endurecer quarentena se o decreto municipal não for cumprido

Foi a partir da data de abertura do comércio local pelo decreto municipal que os casos confirmados da doença tiveram um salto em quase o dobro| Foto: Wesley Costa

Postado em: 06-05-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Foi a partir da data de abertura do comércio local pelo decreto municipal que os casos confirmados da doença tiveram um salto em quase o dobro| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Desde o dia último dia 28 Aparecida de Goiânia abriu 84% das atividades comerciais. O Prefeito Gustavo Mendanha prometeu que fecharia o comércio se o decreto municipal transformasse as ruas da cidade em um “formigueiro humano”. E foi exatamente o que se transformou um dos locais com maior comércio da cidade, a Avenida Igualdade, no Setor Garavelo. Na tarde da última segunda-feira (4) o local tinha pouquíssimos estabelecimentos que cumpriam a recomendação de aferição de temperatura dos clientes antes da entrada nas lojas. 

De acordo com boletim epidemiológico da última terça-feira (5) da Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia tem 62 casos confirmados, 36 amostras em análise, 464 casos descartados e 24 recuperados de Covid-19. A taxa de ocupação total de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no somatório de públicas e privadas está em 32%. Segundo a pasta, até as 17h da última segunda-feira (4), foram coletadas 562 amostras de material para realização de testes de diagnóstico do Covid-19.

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Foi a partir da data de abertura do comércio local pelo decreto municipal de Aparecida de Goiânia que os casos confirmados da doença tiveram um salto em quase o dobro de casos. De acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do município, a cidade registrava 39 casos da doença no último dia 28. Seis dias após o decreto, o número de casos quase dobrou e foi para 62. 

A prefeitura defende que a elevação na curva de evolução da doença foi graças à intensificação de testagem da população executada desde o último dia 22.Antes do último dia 21, eram realizados 15 testes por semana disponibilizados pelo (Laboratório de Saude Publica Dr. Giovanni Cysneiros) Lacen, do Governo Estadual. A partir de então, depois da contratação de um laboratório particular, a prefeitura alega realizar 300 testes por semana.

Mara Carvalho trabalha em uma ótica que ainda não usa o aparelho de aferir a temperatura dos clientes. “O equipamento está difícil de ser encontrado no mercado”, justifica. “Eu procurei no comércio local, farmácias, mas aparentemente só está sendo vendido pela internet”. Mara afirma que apenas as filiais de empresas grandes estão com o aparelho. “Eu acho que eles devem ter um contato mais próximo com os fabricantes para garantir o produto”. No entanto, a lojista reconhece a importância do aparelho e afirma que vai comprá-lo.

A reportagem verificou que as lojas na extensão da Avenida Igualdade estavam tomando as medidas de prevenção contra o novo Coronavírus. A maior parte dos estabelecimentos tinha algum tipo de controle de entrada dos clientes, exigência do uso de máscara e disponibilidade do álcool em gel a 70% na porta das lojas, mas pouquíssimas delas tinham o aparelho de aferição de temperatura para os clientes. 

Antônia Gomes de Oliveira saiu de casa para comprar uma bateria para seu celular e confessou que só sai do isolamento quando realmente é necessário. “Eu saí de casa porque precisava muito. Vou ter que viajar e não posso ficar sem meu celular”, afirma. Antes de entrar em uma loja de eletrônicos, ela teve sua temperatura aferida e mãos higienizadas por uma funcionária da loja. “A gente se sente mais confortável e segura de vir a um lugar onde tem controle de entrada de clientes e medidas de prevenção”, declara. 

No entanto, ela afirma estar preocupada com o número de pessoas nas ruas, principalmente nas áreas comerciais. “A gente vê muita gente na rua e nem todas estão tomando o devido cuidado, tem muita gente sem máscara”, relata. Ela ainda diz que a população deve se conscientizar para tomar as medidas preventivas fora das lojas também.

Fiscalização

As equipes de fiscalização da prefeitura estiveram nas ruas também na última segunda-feira (5) para verificar se os comércios e indústrias estão cumprindo as regras de funcionamento estabelecidas pelo Comitê de Prevenção e Enfrentamento ao novo Coronavírus de Aparecida. Em caso de descumprimento, o estabelecimento poderá ser fechado, e com a reincidência do descumprimento, ele poderá ser multado e até mesmo ter o alvará cassado.

Uma hipótese sobre a causa do aumento de casos, defendida pela Administração Municipal, é a intensificação de testes da doença realizados na população. 

Municípios se reúnem para debater fiscalização  

A administração dos maiores municípios do Estado estiveram reunidos por videoconferência com representantes do governo de Goiás na última segunda-feira (4). Os dois maiores municípios do interior somam 98 confirmações da doença e estão entre os municípios interioranos com maior número de casos da Covid-19. A Capital lidera o ranking com 496 casos da doença confirmados.

Na reunião houve o reconhecimento de que é preciso intensificar a fiscalização das medidas de proteção contra o novo Coronavírus nos comércios e nos espaços públicos para manter sob controle o combate à Covid-19 nestes municípios. Além de autoridades do Estado, estiveram presentes o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, de Goiânia, Iris Rezende e de Anápolis, Roberto Naves. 

O secretário Estadual de Saúde, Ismael Alexandrino, pediu reforço na fiscalização sob a justificativa da queda brusca no nível de isolamento social no Estado após vários municípios aderirem à abertura de atividades comerciais. No contexto do aumento na fiscalização, recomendado pelo governo de Estado, Gustavo Mendanha afirma que intensificou a fiscalização em Aparecida com 400 servidores municipais monitorando a reabertura de atividades comerciais.

O isolamento social é considerado a melhor forma para controle da curva de contágios e combate à Covid-19. Na última quinta-feira (30), o índice no Estado chegou a 31%, quase igual à média de uma situação de normalidade, sem medidas restritivas por conta da pandemia onde nível de isolamento social varia de 20% a 30%.

A prefeitura de Aparecida afirma que mesmo após a reabertura do comércio, o município mantém uma taxa de isolamento social acima da média estadual. O grau de isolamento na cidade ficou em 41,7%, ante os 36% que a Secretaria de Estado de Desenvolvimento e Inovação (Sedi) calculou na média de Goiás.

Também participaram da videoconferência o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, Lissauer Vieira; o presidente do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO), Joaquim de Castro Neto; o procurador-geral do Ministério Público de Goiás (MP-GO), Aylton Vechi; o presidente do Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE-GO); CelmarRech; o defensor público-geral de Goiás, Domilson Rabelo; o 1º sub-defensor geral, Tiago Gregório.  

Queda em isolamento afeta trânsito em Goiânia 

A queda do isolamento social já afeta o trânsito da Capital. Em horários de pico, motoristas voltam a ficar parados em filas de carros, mesmo com o sinal verde aberto à frente. O pintor Divino Soares percorre a Região Metropolitana todos os dias para trabalhar. Ele afirma que os engarrafamentos quase voltaram a ser como eram antes da pandemia. “Desde a semana passada eu acredito que o volume de carros tenha voltado pelo menos em 70%”, declara. 

A equipe de reportagem do Jornal O Hoje esteve no fim da tarde da última terça-feira (5) na Avenida T-63, em Goiânia onde os veículos faziam filas no fluxo lento de trânsito. Apesar de reconhecer que o trânsito está mais engarrafado do que desde início da pandemia, Talita Magalhães diz que ainda não percebeu o mesmo volume de carros na rua do que era em dias anteriores ao coronavírus. “Eu ainda estou chegando mais cedo no trabalho, saindo no mesmo horário que saía antes. Não voltou ao trânsito caótico de antes, mas já começou a piorar bastante”.

Nair Gontijo pôde se conservar em quarentena, isolando-se em casa. Havia uma semana que não colocava seu automóvel nas ruas. Ela admite que percebeu as ruas mais movimentadas desde a última vez que saiu de casa. “Tem uma semana que eu não saía de casa, me parece que os engarrafamentos já estão voltando tudo de novo”. Outro fato destacado por Nair foi o de não ter notado a adesão da população ao uso de máscara nas ruas. “O pior é que a gente passa de carro e vê todo mundo com a máscara no queixo”, relata. 

O gesseiro Carlos Alexandre também dirige diariamente pelas ruas de Goiânia para trabahar. “Eu passo por aqui na T-63 todo dia neste horário, mas começou a engarrafar desde o início da semana”. Carlos diz que na última semana não teve que ficar parado no trânsito nenhuma vez. “Dá para perceber que os carros começaram a sair mais nas ruas e os congestionamentos estão voltando a aparecer”, constata. (Especial para O Hoje)

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