Mato alto esconde sepulturas no Cemitério Vale da Paz, em Goiânia

Cemitérios administrados pela Secretaria Municipal de Assistência Social estão praticamente abandonados| Foto: Wesley Costa

Postado em: 07-05-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Mato alto esconde sepulturas no Cemitério Vale da Paz, em Goiânia
Cemitérios administrados pela Secretaria Municipal de Assistência Social estão praticamente abandonados| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Cemitério Vale da Paz,
administrado pela Secretaria de Assistência Social de Goiânia, está em situação
lamentável. A vegetação alta torna impossível a visitação da maior parte dos
túmulos no campo santo. O abandono do local voltado para sepultamentos da população
carente da Capital é claro.  Algumas
covas abertas à espera de serem preenchidas estavam rodeadas de vegetação com
altura superior a de um homem adulto. Caso haja crescimento vertiginoso de
óbitos devido à pandemia do Coronavírus, o Cemitério Vale da Paz não estaria
preparado.

O pedreiro José Orlando de Souza,
morador do Jardim Conquista, teve um dos seus vizinhos sepultados na manhã
desta quarta-feira (6). Ele ficou indignado ao ver que uma família do berço da
sua comunidade teve de enfrentar o velório em um cemitério naquelas condições.
“Fomos lá hoje enterrar um vizinho e o mato está tão alto que não dá para ver
nem as sepulturas. Fiquei ainda mais triste quando me deparei com essa
situação”, declara.

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Há menos de um ano, o trabalhador
sepultou um sobrinho no cemitério Vale da Paz, mas não conseguiu encontrar o
túmulo do parente em meio ao matagal. “O túmulo dele tem aquela grama sintética
em cima para a gente identificar melhor, mas não tem como achar nada com o mato
medindo mais de um metro e oitenta, dando na altura da sua cabeça”, lamenta.
Além disso, José afirma que ao chegar ao cemitério, presenciou um funcionário
do local lavando o banheiro apenas com água por falta de produtos de limpeza.

 “Os políticos da nossa
cidade podiam ter a vergonha na cara de limpar pelo menos o cemitério público.
Em respeito à dor das famílias que perderam um ente querido”. O pedreiro foi ao
cemitério na manhã desta quarta-feira (6) para ajudar a levar os familiares do
seu vizinho até o local. “Eu gosto de ajudar a comunidade quando está ao meu
alcance. Foi revoltante chegar ao cemitério e vê-lo neste estado”, lamenta. Ele
ainda diz que conhecia o rapaz que foi velado desde criança.

O pedreiro afirma que não houve fornecimento de equipamentos de proteção
individual para prevenção da Covid-19, como máscaras e álcool em gel. José
Orlando relata que ao chegar ao local, recebeu um telefonema da sua esposa que
pediu a ele que visitasse o túmulo do sobrinho. “Infelizmente, eu tive que
falar para ela que era impossível achar onde ele havia sido enterrado por causa
da situação de abandono do local”.  O pedreiro relata que não há poda de
vegetação nem quando a cova está sendo aberta. “Eles abrem a cova e jogam a
terra por cima do capim”.

Inaugurado em agosto de 1997, o
Vale da Paz ocupa uma área de 290 mil metros quadrados, às margens da rodovia
GO-020. É voltado especialmente para a população carente e, por isso, os
terrenos não são comercializados. No local estão sepultados, hoje, mais de 30
mil corpos. O Cemitério Vale da Paz fica localizado na GO-020 KM 08, saída para
Bela Vista. Mais de 30 mil corpos estão sepultados neste cemitério público
localizado às margens da rodovia GO-020, saída para Bela Vista.

A Secretaria Municipal de
Assistência Social administra mais três cemitérios públicos na Capital e chegou
a lançar um aplicativo para que as famílias possam localizar em qual cemitério
um parente foi sepultado por meio do nome completo. No entanto, se o
sepultamento tiver sido realizado no cemitério Vale da Paz, seria necessário no
mínimo um trabalho de roçagem para localizar alguma sepultura. A equipe de
reportagem tentou falar com a pasta para questionar sobre a situação dos
cemitérios públicos, mas não obteve respostas até o fechamento da reportagem.

CORRELATA

Produtos de limpeza e EPIs em falta

Morador da Região Leste de Goiânia, Davi Moreira,
esteve presente no mesmo velório que José Orlando Souza, na manhã desta
quarta-feira (6). Ele afirma que não houve disponibilização de equipamentos de
proteção ou álcool em gel em concentração de 70% para higienização dos
presentes.

Em um vídeo publicado nas redes sociais Davi
denuncia o descaso com o cemitério Vale da Paz. “Não tem nem papel higiênico ou
produto de limpeza no local”. No vídeo, ele questiona às autoridades
responsáveis pela administração do cemitério. “Gostaria de saber se o secretário teria coragem de enterrar algum de
seus parentes nesse matagal”.

Mesmo diante dessas condições de funcionamento, a
Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) recomenda procedimentos a
serem adotados em cemitérios, em casos eventuais de mortes causadas pela
Covid-19, na Capital. Elas foram publicadas por meio de portaria no Diário
Oficial do Município. As salas de Velório deverão seguir as recomendações da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com número de pessoas
reduzidas.

Em caso de confirmação de morte causada pela
infecção do coronavírus, o caixão deverá ser mantido fechado durante o velório,
com funeral restrito apenas aos familiares mais próximos e que não apresentem
sintomas gripais, tomando devidas precauções para diminuir a probabilidade de
contágio, como uso de máscara e álcool em gel.

Os quatro cemitérios administrados pelo município
terão funcionamento normal. De segunda a segunda, das 7h às 17h. Funcionários
vão trabalhar em escala de trabalho por causa de servidores dispensados por
estarem inclusos nos grupos de risco da Covid-19. A Central de Óbitos deverá
funcionar normalmente por 24 horas, também com turnos escalonados. (Especial
para O Hoje)

 

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