Prefeitura de Goiânia lança nova obra com trecho inacabado há 29 anos

Construção de pistas da Marginal Cascavel começa, mas não há previsão de continuidade de trecho abandonado| Foto: Wesley Costa

Postado em: 14-05-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Construção de pistas da Marginal Cascavel começa, mas não há previsão de continuidade de trecho abandonado| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Trecho da Marginal Cascavel entre a Avenida T-9 e T-63 em Goiânia está abandonado. O local é usado como descarte ilegal de resíduos, o que acelera a degradação da Área de Preservação Permanente (APP) à beira do Córrego Cascavel. A pista está erodida em vários pontos e cerca de 30 famílias foram desocupadas do local. As obras de pistas marginais e de acesso da via, entre as avenidas T-9, no Setor Bueno, e C-12, na Vila Alpes, começaram, mas não há previsão ou projeto para execução do trecho abandonado da Marginal Cascavel.

Pelo menos 30 famílias viviam em barracos à beira do córrego Cascavel, no Setor Jardim América, ao lado da Avenida T-63. Parte da ocupação, conhecida como Cantinho do Céu, estava em Área de Preservação Permanente (APP). A equipe do jornal O Hoje acompanhou o drama das famílias que viviam em condições precárias de saneamento e moradia em setembro do ano passado.

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Os moradores do local que não quiseram ser identificados afirmavam que estavam no local por não terem para onde ir, mas que já haviam sido notificados pela prefeitura para saírem do espaço. Hoje, o mato cobre o espaço onde os barracos eram instalados. Mesmo com a ausência da invasão, o local continua extremamente degradado, com erosões e muito lixo que polui o Córrego Cascavel. A reportagem flagrou uma carroça despejando restos de móveis e eletrodomésticos na beira do curso d’água. 

A Seinfra informa que não há projeto ou previsão para execução do trecho da Marginal Cascavel, entre as Avenidas T-9 e T-63, durante este ano. Sobre a erosão, em dezembro, a Secretaria executou serviço de recuperação e contenção da área degradada abaixo das duas pontes existentes no trecho.

A Secretaria de Planejamento e Habitação (Seplanh), responsável pela desocupação dos moradores do Cantinho do Céu, afirma que as pessoas foram notificadas a deixarem o espaço por se tratar de uma Área de Proteção Permanente. A Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) afirma que o local recebe fiscalização intensa e que os crimes de descarte ilegal de resíduos acontecem principalmente no período noturno.

Descarte de lixo

O órgão afirmou, por meio de nota, que esteve no local por volta das 19h da última terça (12). Os fiscais chegaram a tempo de impedir novos descartes ilegais. Nesse caso, não houve como aplicar multa, pois não houve crime em flagrante. No entanto, as pessoas foram obrigadas a levar seu entulho ao Eco Ponto, do Jardim Guanabara, ou ao Aterro Sanitário de Goiânia.

Ainda de acordo com a Amma, a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) realiza a limpeza desse e de outros locais de descarte constantemente, mas os poluidores sempre retornam e cometem os crimes ambientais novamente. Há um processo em curso na Amma para aquisição câmeras para serem instaladas nos locais mais recorrentes de descarte para intensificar a fiscalização dessas áreas.

De acordo com a Agência, grande parte das ações fiscalizatórias decorre de denúncias feitas pelo disque denúncia (161) ou no site da Prefeitura de Goiânia. Essas denúncias envolvem diversos tipos de poluição — sonora, atmosférica, hídrica, visual —, maus-tratos a animais domésticos e silvestres.

A Amma ressalta que o descarte de entulho e lixo doméstico é um problema recorrente nas ações de combate do órgão, que, além de multa, realiza apreensão de veículos utilizados nessa modalidade de crime ambiental.

Nos pontos de descartes mais utilizados, a Amma realiza monitoramento frequentemente com apreensões de veículos em flagrantes e aplicação das penalidades compatíveis com o crime ambiental, cujo valor inicial da multa é R$ 5 mil.

Marginal Cascavel está inacabada há quase 30 anos 

Algumas estruturas que compõem a Marginal Cascavel já foram feitas. Uma delas é a restauração da Avenida C-07 para utilização como marginal esquerda (Avenida dos Alpes / Avenida C-12). Outra foi a execução das pistas esquerda e direita da Avenida dos Alpes, pelo lado da Vila União, na margem esquerda do Córrego, até as proximidades do apoio extremo das pontes de transposição das marginais. A alça de acesso da Avenida C-07 para a Avenida dos Alpes também foi executada. O ponto de implantação das pontes da Avenida dos Alpes está em execução.

O município deu início a construção das pistas marginais e de acesso da Marginal Cascavel, no trecho de 1,7 km, entre as avenidas T-9, no Setor Bueno, e C-12, na Vila Alpes. Os trabalhos contemplam ainda a sinalização horizontal e vertical, a construção de calçadas acessíveis e a canalização do Córrego Cascavel. Vencedora da concorrência pública, no valor de R$ 18.961.679,57, a empresa Sobrado Construções Ltda deve concluir o serviço em 240 dias.

Segundo o projeto, a pista que será construída deve variar de 9 metros a 11,98 metros de largura, com acessos de 6 metros a 6,73 metros de largura. A camada de revestimento será em concreto betuminoso na espessura de 10 centímetros, dividido em uma camada de 5 centímetros de pavimento asfáltico, recoberta por outra camada de mesma espessura de capa para as vias marginais.

As alças e as vias da Avenida dos Alpes terão camada em cinco centímetros de revestimento em CBUQ, uma vez que se espera um fluxo de trânsito significativamente menor do que para as vias principais das marginais. Para as calçadas, o projeto indica concreto de 20 Mpa, dos dois lados da via, com dois metros de largura e espessura de seis centímetros.

O projeto também vai contemplar a canalização proposta para esse trecho do Córrego Cascavel em uma estrutura de concreto armado composta de segmentos cerca de 20 metros de extensão, interligadas por juntas de dilatação, com fundo plano interligado a paredes verticais com as dimensões projetadas.

O canal foi dimensionado para atender a uma vazão de 171.668 litros por segundo e tempo de recorrência de 100 anos para pontes e canais em concreto e borda livre aproximada de 40 centímetros para o topo das paredes do canal.

Fluxo rápido

O projeto de uma obra que forneça um fluxo rápido para diminuir o congestionamento na região Sudoeste da Capital nasceu em 1991 e foi batizado de Marginal Cascavel. A proposta inicial era a ligação entre a Avenida Rio Verde, em Aparecida de Goiânia e a Leste-Oeste, na Capital. O trabalho tinha o objetivo de ser levado adiante ao longo dos anos 1990, mas apenas as obras entre a Avenida Castelo Branco e a Avenida T-2 foram concluídas.

A totalidade da obra seria a construção de duas pistas com 2,2 km de extensão, além da canalização do leito do Córrego Cascavel. O objetivo era fazer uma ligação entre a Avenida Castelo Branco e a Avenida Leste Oeste, na Vila Santa Helena, a um custo estimado de R$ 40 milhões provenientes, posteriormente, do Programa Aceleração do Crescimento (PAC),do Governo Federal.

A obra não foi concluída por que foi revelado que a empresa Delta, que foi contratada para a realização do empreendimento, estava envolvida em escândalo de corrupção denunciado por meio da Operação Monte Carlo.

A operação denunciou envolvimento de políticos goianos em esquemas corruptos que visavam contratos com o governo do Estado em troca de benefícios. A Construtora Delta teve o contrato para a construção da obra suspenso devido ao envolvimento do empresário Carlinhos Cachoeira em pagamento de propina para que contratos fossem liberados.Desde então, a expectativa de que a obra fosse finalizada desapareceu. (Especial para O Hoje)

 

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