Falta de sinalização faz com que travessia se torne perigosa na BR-060

Inadequações estruturais na BR-060 revelam falta de planejamento para pedestres| Foto: Wesley Costa

Postado em: 20-05-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Inadequações estruturais na BR-060 revelam falta de planejamento para pedestres| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Falta de sinalização e infraestrutura deficientes faz com que a travessia como pedestre da Avenida Pedro Ludovico, entre o Setor Vila Canaã e Parque Oeste Industrial, em Goiânia, se torne perigosa. Nas duas rotatórias que antecedem o início da BR-060, a sinalização vertical e horizontal inexiste. Ao seguir em direção ao município de Rio Verde, quando a avenida se torna rodovia federal, nos primeiros quilômetros da saída do perímetro urbano notam-se passarelas onde o fluxo de pessoas é quase inexistente.

A instalação das quatro primeiras passarelas de travessia para pedestres da BR-060 na saída de Goiânia, sentido Rio Verde, revela falta de planejamento e subtilização. Elas foram instaladas em locais onde o fluxo de pedestres é quase nulo. Os acessos de algumas delas levam a pastos, plantações ou lugares inóspitos, rodeados de vegetação sem poda. Edivan Martins usa a bicicleta como meio de transporte e passa pelo trecho com passarela da BR-060. Ele justifica a instalação da infraestrutura com a promessa de um loteamento na região. “Agora, ninguém está usando, mas um dia vai ter utilidade, assim que começarem o loteamento”, declara.

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Belchior Alves vende frutas na Avenida Pedro Ludovico há três anos e desde então acompanha a dificuldade dos pedestres de fazer a travessia. “Aqui sempre foi assim. Tem que disputar com os carros para atravessar. Nunca vi semáforo ou qualquer tipo de sinalização neste trecho”, declara. Ele ainda diz que o jeito mais próximo de atravessar a via com segurança está a quilômetros de distância.  “Não tem como atravessar sem correr risco. O jeito seguro mais perto está bem lá na frente, na BR-060”, lamenta.

Funcionária de uma padaria ao lado de uma das duas rotatórias que antecedem ao início da BR-060, Marcilene Gonçalves tem que atravessar a Avenida Pedro Ludovico todos os dias para ir ao seu local de trabalho. “Acho perigoso porque não tem nenhuma sinalização, não tem semáforo, não tem nada. Tem que confiar na graça de Deus para não ser atropelado”, declara. Ela culpa  o Poder Público pela falta de infraestrutura no trecho. “Deviam pintar pelo menos um “pare” e uma faixa de pedestre”, defende a trabalhadora.

Colega de Marcilene na padaria, Delvanir Pereira denuncia o perigo da travessia com bom humor. “Ela diz que trabalha aqui na padaria, mas só vem cumprir expediente se conseguir atravessar a avenida”, brinca. Delvanir ainda diz que já ficou sabendo de atropelamentos em pontos próximos ao seu trabalho. Ela acredita que falta infraestrutura na Avenida Pedro Ludovico. “É fácil para a administração vir aqui e fazer a instalação de um semáforo, poderia impedir que alguma pessoa se machuque ou morra tentando atravessar”.

O motorista de caminhão Antônio Pereira passa pela Avenida com frequência para alcançar a rodovia federal BR-060. Apesar de conduzir o veículo de carga pesada, Antônio também realiza paradas no local ocasionalmente e precisa fazer a travessia da Avenida Pedro Ludovico. “Eu acho perigoso, sempre tem que atravessar correndo e ficar muito atento”, alerta o trabalhador. Ele ainda diz que o risco da travessia pode aumentar muito quando o pedestre é idoso ou criança.

“Eu consigo correr, mas uma pessoa mais se for mais velha, pode ser perigoso”, afirma. O motorista ressalta que o problema estrutural da via não atinge apenas os pedestres. “O trânsito nessa avenida praticamente fica parado de tanto engarrafamento no início da manhã e fim de tarde”.  As rotatórias e a falta de sinalização da Avenida Pedro Ludovico no trecho que antecede o início da rodovia há anos. Especialistas afirmam que a infraestrutura no trecho é mal planejada.

Para o professor do Instituto Federal de Goiás e especialista em trânsito, Marcos Rothen, a solução para a lentidão do trânsito e congestionamentos passa pela garantia de um transporte público de qualidade, que poderia diminuir o fluxo de carros nas vias. Além disso, ele reitera que a infraestrutura das vias precisa ser mudada constantemente para conseguir acompanhar o crescimento da cidade.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) alega que as passarelas, incluindo os viadutos com passagem de pedestres, foram planejadas com distância fixa, fazendo com que os pedestres tenham que andar no máximo 500 metros de uma passarela à outra. Na época, o DNIT realizou estudos e decidiu os locais das passarelas em comum acordo com as prefeituras de Abadia de Goiás e Goiânia. Desde o início das obras de duplicação e restauração da BR-060/GO (Goiânia – Jataí), o local passa por um desenvolvimento considerável. É possível verificar, durante e após a obra, a implantação de novas fábricas, galpões, espaços de festas e loteamento as margens ou próximos da via. Portanto, todas as ações realizadas se mostram necessárias, defende o DNIT. 

Estruturas de trânsito precisam ser renovadas 

“O transporte coletivo de qualidade já ajudaria muito, mas não podemos deixar a renovação da infraestrutura das vias de lado”. De acordo com o especialista, esses gargalos de trânsito precisam ser resolvidos para dar mais mobilidade no perímetro urbano. “Tem que fazer os dois lados. Aqui em Goiânia, os problemas de trânsito são antigos e o poder público não resolve”, afirma o professor.

Para ele, algumas estruturas que poderiam ter um bom funcionamento para o trânsito no passado não conseguem acompanhar o crescimento do fluxo de carros e acabam se tornando obsoletas.  Essas estruturas devem ser substituídas por outras, que cumpram a função adequada para o melhoramento do trânsito. No futuro, com as mudanças ocorridas pelo crescimento urbano, elas poderão não servir mais e deverão ser substituídas novamente.

No caso do trecho da BR-060 que leva a saída para Rio Verde, Marcos acredita que a solução mais rápida seria a instalação de um semáforo para controlar o fluxo de trânsito. “A rotatória que existe lá só atrapalha. Ela não é bem feita e não tem sinalização que ordene o movimento dos carros. Um semáforo funcionaria melhor para controlar o fluxo de trânsito e dar mais proteção ao pedestre”.

Segundo Rothen, o investimento em mudanças nas estruturas viárias deve ser constante para que a fluidez possa acompanhar o crescimento urbano.  “As transformações podem parecer paliativas, mas não devem ser ignoradas. Não é por que o trânsito vai ficar ruim de novo no futuro que o investimento em mudanças não deve ser feito. Quem acaba sofrendo com isso é o cidadão”.

Marcos afirma que as rotatórias já se tornaram obsoletas em vários locais da Capital. “Goiânia não percebeu que atualmente a rotatória não resolve mais problemas de trânsito. São coisas que funcionaram no passado e agora não servem mais. O problema é que nenhuma mudança é feita pelo poder público e essas estruturas acabam atrapalhando o fluxo do trânsito, quando na verdade deveriam ajudar”.

O especialista em trânsito afirma que o problema do trecho da BR-060 que fica entre o Parque Oeste Industrial e a Vila Canaã é antigo. “Eu já passei por esse trecho há quase cinco anos e o problema persiste até hoje. Falta vontade do poder público de fazer investimentos nesses locais. Muitas vezes, o cidadão que está preso no trânsito não tem noção do tempo que aquele problema existe no local e não faz pressão para que as mudanças necessárias sejam feitas. O problema acaba sendo ignorado”. 

A Secretaria Municipal de Trânsito (SMT) informa, por meio de nota, que a sinalização no trecho da Avenida Pedro Ludovico está no cronograma de execução da equipe de engenharia desde o último ano. A pasta ainda declara que o secretário deve ir ao local ainda nesta semana e que a execução das obras de sinalização e semaforização serão executadas em breve. A SMT afirma que sua equipe está reduzida e trabalhou em regime de revezamento, nesses dias de quarentena.(Especial para O Hoje)

 

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