Restauração da Torre do Relógio ficou incompleta e não foi entregue à população

A próxima etapa das obras na Torre do Relógio terá início em julho e não tem previsão para ser finalizada| Foto: Wesley Costa

Postado em: 21-05-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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A próxima etapa das obras na Torre do Relógio terá início em julho e não tem previsão para ser finalizada| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

A restauração da Torre do Relógio, na Avenida Goiás, Centro de Goiânia, ficou incompleta e não foi entregue à população. Falta recuperação total do revestimento, reforço estrutural e reativação do relógio de uma das maiores obras de Art Déco da Capital. A previsão de conclusão era em abril de 2020. A próxima etapa das obras terá início em julho e não tem previsão para ser finalizada. Apesar de estar coberta por tapumes, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Goiás afirma que a obra foi entregue junto com a restauração do Coreto da Praça Cívica.

O órgão informou, por meio de nota, que a obra de conservação da Torre do Relógio foi finalizada e entregue em 7 de maio, juntamente com a obra de restauração do Coreto da Praça Cívica. Ela incluiu serviços de limpeza e consolidação do revestimento externo em pó de pedra, restauração do maquinário do relógio, dos pisos em granitina, reposição dos vidros quebrados e pintura externa.

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A entidade admite que o relógio não foi totalmente restaurado. Os tapumes não foram retirados porque, durante a ação de conservação, a equipe técnica do Iphan constatou a necessidade de uma nova intervenção e o bem continuou com a proteção necessária para que os próximos serviços fossem executados. A próxima obra vai contemplar uma intervenção de caráter restaurativo do bem – recuperação completa do revestimento, reforço estrutural e reativação do relógio. Ela está na fase de instrução técnica para elaboração do edital e, posteriormente, realização de licitação.

A previsão é que a obra seja contratada e iniciada a partir de julho, quando só então será possível prever o tempo de obra. Ressaltamos que o início e término da obra podem ser alterados de acordo com o andamento, as especificidades da obra e as medidas de isolamento social devido à pandemia do Coronavírus. Após a reforma da Estação Ferroviária que foi devolvida à população em maio de 2019, foi anunciado reforma das outras duas obras históricas de Goiânia.

O custo total das duas reformas foi de R$ 461 mil aos cofres públicos. No entanto, mais dinheiro público deve ser investido na próxima etapa de revitalização do relógio. Na época, também ficou acertado que, após a conclusão das reformas, seria a vez da restauração do Palace Hotel, no Setor Campinas, e do Grand Hotel, no Setor Central.

Relógio e Coreto são tão antigos quanto a Capital 

O Coreto da Praça Cívica foi inaugurado em 1942, mesma ocasião quando foi feito o Batismo Cultural de Goiânia e faz parte da construção da paisagem do Centro Histórico da cidade. A obra do coreto tem riqueza de detalhes no acabamento, com composição simétrica, laje plana e elementos geométricos característicos da Art Déco. De acordo com o Iphan em Goiás, a revitalização do Coreto da Praça Cívica buscou valorizar o estilo arquitetônico com a recuperação integral da laje, dos pisos, bancos em granitina e revestimentos de pedra portuguesa na área externa.

Também foi feita a restauração do reboco, dos adornos e elementos decorativos, da recomposição de luminárias, paisagismo, execução de calçada acessível e, por fim, a pintura. Segundo o Iphan, a intervenção foi executada de forma a garantir a integridade e arquitetura do edifício histórico. O Instituto fez uma série de investimentos no Estado em obras de reforma em edifícios e espaços públicos nos últimos. Foram R$ 48 milhões investidos em oito obras em Goiás, sendo seis na cidade de Goiás e duas na Capital: a restauração da Estação Ferroviária e a requalificação urbana da Praça Cívica com custo total de R$ 18,3 milhões.

Este ano também foi entregue a obra de restauração da Antiga Delegacia Fiscal, onde abriga a sede da Superintendência do Iphan em Goiás. Outra revitalização em execução é a obra do edifício da Antiga Chefatura de Polícia, que vai receber a nova sede da Secretaria Estadual de Segurança Pública. Na Cidade de Goiás foram investidos mais R$ 30,3 milhões, com a recuperação da Ponte da Cambaúba, do Mercado Municipal, da sede da Prefeitura Municipal e da Escola de Artes Plásticas Veiga Valle. Houve também requalificações do Arquivo Diocesano e do Cine Teatro São Joaquim.

Substituição polêmica

O Coreto e o Relógio são tombados como acervo arquitetônico e urbanístico em Art Déco de Goiânia e, por isso, foi necessária a assinatura da autorização da execução da obra junto a então superintendente do Iphan em Goiás, a historiadora Salma Saddi.

Saddi, que estava no cargo desde a criação do Iphan Goiás em 2009, foi substituída pelo advogado Allyson Cabral, indicado para assumir a superintendência do Iphan em setembro de 2018.  A substituição foi marcada por polêmica. O atual superintendente foi uma indicação do deputado federal Alcides Ribeiro (PP).

À imprensa, o deputado confirmou que a indicação aconteceu após ter ganhado o cargo depois de um sorteio da bancada federal, na Câmara. O indicado não possuía experiência técnica na área de patrimônio e trabalhava na Faculdade Alfredo Nasser (Unifan). A unidade de ensino pertence à Alcides. Na época, o deputado justificou a indicação de Alysson por se tratar de um cargo de confiança e por isso fez escolhas de pessoas em que ele confiava.

Projeto faz parte do Adote uma Praça

A restauração dos monumentos históricos é de responsabilidade do Iphan. Após a conclusão do serviço, a Caixa de Assistência dos Advogados de Goiás (Casag), primeira entidade a aderir ao programa Adote uma Praça, vai ficar responsável por sua manutenção e conservação.

O maior escritório compartilhado de uma seccional da Ordem dos Advogados do Brasil foi abrigado em um prédio histórico da Rua 1, reformado e entregue à advocacia em 2017. Que hoje aloja o Meu Escritório. De acordo com a Casag, esses acontecimentos justificam as preocupações da entidade e da OAB com as questões urbanísticas e a preservação do patrimônio histórico em Art déco da capital goiana.

Outra justificativa histórica para a “adoção” é a proximidade geográfica dos monumentos na Avenida Goiás com o prédio que abrigava a primeira sede da Casag. A proximidade simbólica para a advocacia motivou a escolha da instituição para cuidar da Torre do Relógio revitalizada. O monumento foi inaugurado em 1942.

Patrimônio

O projeto Adote uma Praça foi instituído pela lei municipal 10.346/2019, sancionada pelo prefeito Iris Rezende em maio do último ano. A lei viabiliza ações conjuntas de conservação de equipamentos municipais por meio de parcerias entre a Administração Pública Municipal com a iniciativa privada, pessoas físicas ou jurídicas, sociedade civil organizada e demais entes públicos. (Especial para O Hoje)

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