Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Parques de Goiânia se tornam contagiosos durante pandemia do coronavírus

A presença de pessoas se exercitando no fim de tarde nestes locais, inclusive sem máscaras, acontece diariamente| Foto: Wesley Costa

Postado em: 25-05-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Parques de Goiânia se tornam contagiosos durante pandemia do coronavírus
A presença de pessoas se exercitando no fim de tarde nestes locais, inclusive sem máscaras, acontece diariamente| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Os parques em Goiânia têm sido buscados para lazer e prática de esportes no momento em que a curva de casos confirmados de Covid-19 aumenta vertiginosamente. A presença de aglomeração de pessoas, inclusive sem uso de máscaras, se exercitando no fim de tarde, acontece diariamente, tanto nas regiões periféricas quanto nas regiões centrais da Capital. O risco de contaminação de Coronavírus aumenta muito durante prática de atividade física e estudos mostram que a distância entre as pessoas em atividade física deve aumentar consideravelmente.

Não parecia haver nenhuma pandemia na tarde de ontem, no Parque Leolídio Ramos Caiado, no Setor Goiânia 2. O local estava repleto de crianças sem máscaras e adultos que se exercitavam na pista de caminhada. Os equipamentos de ginástica ao ar livre estavam sendo utilizados com naturalidade. A pista externa do Parque Areião, no Setor Pedro Ludovico também estava cheia de gente praticando corrida. Os equipamentos de ginástica também estavam sendo utilizados livremente. O mesmo acontecia na pista de corrida da Avenida Ricardo Paranhos, no Setor Marista.

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O Ministério Público de Goiás (MP-GO) recomendou à Prefeitura de Goiânia à execução de demarcação de perímetros nas áreas livres e áreas verdes dos parques, com distanciamento de dois metros entre uma marcação e outra, impedindo a aglomeração de pessoas, em razão da necessidade de restringir o contato social da população. A promotora de Justiça Alice de Almeida Freire recomendou a instalação de sinalização informativa sobre os riscos da Covid-19 nos parques, praças e pistas de caminhada.

Máscaras de proteção

A recomendação também pede reforço na fiscalização e na instalação de lacres no perímetro dos equipamentos de ginástica e brinquedos ao ar livre nos locais públicos, e no uso de máscaras pela população. No documento, o MP-GO sugeriu que a prefeitura fiscalize o uso de máscaras pelos frequentadores, orientando aos que não estiverem usando o equipamento de proteção para que retornem aos seus lares e somente frequentem esses ambientes públicos usando a proteção.

A Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), responsável pela gestão de 42 parques em Goiânia informa por meio de nota que a fiscalização foi intensificada nestes locais desde a última quinta-feira (21), mas que essa fiscalização deve envolver vários órgãos municipais.

O estudo Modelagem da Expansão Espaço-Temporal da Covid-19 em Goiás, executado pelo grupo de trabalho composto pelos professores Thiago Rangel, José Alexandre Felizola Diniz Filho e Cristiana Toscano, da Universidade Federal de Goiás (UFG), indica que o isolamento social do mês de abril contribuiu para a redução da velocidade de transmissão da Covid-19 no Estado. O estudo da UFG aponta que a manutenção do isolamento social em 50% a 55% é fundamental para manter o número de contaminações em níveis baixos.

A nota técnica projeta até 144 mortes até o final deste mês e de 871 a 1.239 mortes até o final de junho em Goiás, podendo esse número ser ainda maior caso faltem leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) e a população permaneça com baixo índice de adesão ao isolamento social e continue a frequentar parques e praças.

Distância mínima

Apesar da recomendação de distanciamento social, o médico Sandro Reginaldo, membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Comissão Científica da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Trauma do Esporte (SBRATE) afirma que as pessoas podem e devem se exercitar ao ar livre de forma esporádica, mas frequentar parques não é recomendável. “É preferível dar uma volta no quarteirão a ir até os parques públicos onde têm ocorrido aglomerações de pessoas”. Ele recomenda sempre o uso de máscara e a distância mínima média de 4,5 m entre as pessoas caminhando. Para atividades intensas, a distância deve ser ampliada.

O espaço entre as pessoas realizando atividades físicas de maior intensidade como correr, andar de bicicleta e musculação deve ser bem maior que para uma pessoa parada. “Uma coisa é você estar caminhando, outra coisa é correr, e transpirar. Essa intensidade amplia o alcance de partículas e microgotas da respiração e suor que podem estar contaminadas”, alerta o médico.

O ortopedista cita um estudo realizado pela Universidade de Tecnologia Eindhoven, na Holanda e da KU Leuven, na Bélgica, que simula diversas situações de atividades físicas ao ar livre. A pesquisa recomenda que pessoas paradas devem manter distância mínima de 1,5 metros entre elas. Em atividades de corrida ou bicicleta, a distância mínima deve ser de 10 metros. Se a pessoa estiver em velocidade elevada, o distanciamento deve dobrar para 20 metros.

As simulações feitas pelo estudo mostram que as partículas transportadas pela respiração de alguém que possa estar infectado com o vírus podem entrar em contato com pessoas localizadas logo atrás delas. As partículas seriam transportadas por meio do que o estudo se refere como “slipstream”, uma espécie de onda formada pelo deslocamento de ar causado pelo movimento. Uma das recomendações do estudo é evitar se posicionar atrás de uma pessoa que esteja em atividade física.

De acordo com o médico Sandro Reginaldo, o isolamento social não é uma questão política, mas de saúde pública. “A medida de quarentena é um fator técnico. Não foi nosso governo ou ministro que inventaram. Os países que afrouxaram a determinação pagaram com muitas vidas”, constata o médico. Ele ressalta que a prática de exercícios físicos durante a pandemia é fundamental para a manutenção da saúde física e mental, mas é necessário tomar cuidados para evitar aglomerações.

Falta de atividades físicas pode causar patologias 

Sandro ressalta que a falta de atividade física pode trazer à tona patologias, principalmente em pessoas que estão na melhor idade. Segundo o médico, idosos que não praticam exercícios podem desenvolver sarcopenia, um tipo de atrofia muscular e avanço de osteoporose. “Nesse caso, uma simples queda pode ocasionar uma fratura que pode levar ao agravamento do quadro de saúde da pessoa de”, afirma.

No entanto, ele ressalta que a manutenção das atividades físicas também é importante para o quadro de saúde dos jovens durante o isolamento. “A gente vê um monte de memes circulando na internet sobre essa questão. Eles podem se tornar uma verdade. Se as pessoas não se cuidarem, ao final do isolamento podem estar obesas e com muitos problemas de saúde, como hipertensão e diabetes”.

O médico afirma que o período de quarentena pode intensificar problemas como ansiedade, depressão e outros quadros psicológicos que os exercícios físicos ajudam a combater.  “Nesse momento, devemos usar a criatividade e temos que ter muito foco para poder criar uma rotina de exercícios”, declara.  Ele ainda diz que a condição de isolamento leva a uma espécie de letargia, uma armadilha para o próprio corpo. “A pessoa acaba entrando em uma condição de inatividade que se torna um ciclo vicioso e prejudicial”, constata.

Tipos de atividades

A forma como a pessoa deve se exercitar vai depender do local onde ela está isolada, diz o médico. “Se a pessoa mora em uma chácara, por exemplo, fica mais fácil, mas se está em um apartamento apertado vai ter que se esforçar mais”.  Ele sugere a utilização de aplicativos que ajudam as pessoas com exercícios e aulas de educação física. “Há como improvisar algumas coisas, alongamentos, abdominais, usar aplicativos que sugerem dicas”.

Alternativa para locais de prática de atividades físicas fora de casa deve ser a área de lazer de edifícios. No entanto, vai depender de como é a organização da utilização desse espaço pelo condomínio. Alguns edifícios com muitas unidades habitacionais decidiram interditar as áreas de lazer para evitar aglomerações. Outros optaram por agendamento de horários. “Obviamente, nos parques públicos não dá para agendar horários, por isso ocorre à aglomeração que facilita muito o meio de transmissão do vírus”. (Especial para O Hoje)

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