Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Casos de Covid-19 em Trindade saltam após flexibilização

Divergindo indicações do Decreto Estadual sobre abertura de comércio, prefeito liberou até bares e academias - Foto: Wesley Costa

Postado em: 18-06-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Casos de Covid-19 em Trindade saltam após flexibilização
Divergindo indicações do Decreto Estadual sobre abertura de comércio, prefeito liberou até bares e academias - Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Casos confirmados de Covid-19 quase dobram em uma semana em Trindade. De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde, no dia 9 de junho o município da Grande Goiânia contava com 78 casos confirmados. O boletim epidemiológico emitido pela pasta no último dia 16 revela 123 pessoas infectadas pela doença. Divergindo das indicações do Decreto Estadual sobre abertura de comércio, o prefeito Jânio Darrot colocou até bares e academias de esporte em funcionamento.

Basta dar uma volta pelas ruas mais movimentadas do centro de Trindade para perceber que o uso de máscara não está sendo cumprido à risca pela população. É fácil ver pessoas andando sem o equipamento de proteção. Apesar do aumento no número de casos, as pessoas que conversaram com a reportagem acreditam que o decreto do prefeito Jânio Darrot foi assertivo. O índice de isolamento da cidade figura entre os mais baixos dos municípios com mais de 100 mil habitantes do Estado. De acordo com dados da empresa In Loco solicitados pela equipe do jornal O Hoje, índice ficou em 33% no último dia 15.

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De acordo com os números da Secretaria Municipal de Saúde de Trindade do dia 17 junho o município tem 179 casos da doença confirmados, 43 destes estão em isolamento domiciliar e 15 estão internados. A Prefeitura afirma que os dados da Secretaria Estadual de Saúde divergem dos números do município e já questionou o estado sobre a questão. Além disso, assegurou que o cumprimento das medidas de prevenção do coronavírus do comércio está sendo intensamente fiscalizado pelos órgãos municipais. Os estabelecimentos que forem flagrados descumprindo normas, vão sofrer as devidas punições, podendo ser até interditados.

O comerciante Danilo Tomás de Aquino Costa é a favor da abertura das atividades econômicas. “Acho que o prefeito está certo de liberar as atividades econômicas”. Ele acredita que se os estabelecimentos seguirem os protocolos de prevenção ao Coronavírus, os casos não vão aumentar. No entanto, os dados da Secretaria Estadual de Saúde mostram um crescimento vertiginoso de casos. 

“Na situação que a gente está, sem Festa do Divino, o povo ta sofrendo muito sem dinheiro. Se o prefeito abre o comércio, pelo menos é uma oportunidade para tirar o atraso e prejuízo”, declara o comerciante. Ele ainda diz que nesta época do ano, pela proximidade das festividades, não haveria mais vagas em hotéis da cidade. “O que a gente vê hoje é que ninguém conseguiu alugar nada, nem quarto, nem casa”, lamenta. 

Apesar das celebrações terem sido canceladas Danilo tem esperanças de que a data ainda consiga trazer movimento ao município. “Algo me diz que esse povo ainda vai aparecer aqui no dia da festa”, defende. O comerciante ainda declara que, de forma geral, a questão da pandemia trouxe muita dificuldade financeira à população. “A gente depende do turismo, mesmo que a maior intensidade de movimento seja na festa, muita gente vem de outros estados aqui durante o ano. Desde março o povo de fora sumiu das ruas”.

O aposentado de 84 anos, Ernesto Cândido Melo também concorda com a abertura do comércio pelo prefeito de Trindade. “Eu acho que se não abrir as portas, o povo vai passar muita dificuldade, até mesmo fome”. Apesar de ser do grupo de risco, Ernesto diz que rompe o isolamento social às vezes. “Eu saio bem pouco de casa, mas sempre com máscara e mantendo a distância das outras pessoas”. 

Ernesto diz que segue os protocolos de prevenção da Covid-19. No entanto, acredita que a doença seja perigosa apenas para os grupos de risco com comorbidades. “Eu sei que a doença é perigosa, mas acho que não é tanto com está sendo noticiada na mídia”, afirma. Um estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revela que mais de 50% da população adulta brasileira, equivalente a 86 milhões de pessoas, apresenta ao menos um dos fatores que aumentam o risco de manifestações graves da Covid-19

De acordo com o estudo, considerando apenas os adultos com menos de 65 anos, a proporção dos suscetíveis a complicações, caso venham a se infectar pelo novo Coronavírus, é de 47%. Para chegar a essa conclusão da pesquisa, os pesquisadores levaram em consideração para a análise tanto os fatores de risco apontados pelos estudos iniciais sobre a doença, em países asiáticos, quanto os observados nas pesquisas mais recentes, conduzidas na Europa e nos Estados Unidos.

 

Estudo aponta locais de supercontaminação da Covid-19 

O último decreto municipal permitiu a abertura de várias atividades. O comércio de Trindade voltou ao trabalho no último dia 16. Foi liberado o funcionamento de academias esportivas, restaurantes, sanduicheiras, pizzarias, pamonharias, lanchonetes, açaíterias, sorveterias, pit-dogs, distribuidoras, bares, pesque-pagues e similares.  Uma pesquisa japonesa com pacientes afetados pelo Coronavírus identificou estabelecimentos como bares, karaokês e academias como ambientes de supercontaminação para a doença.

De acordo com o estudo, publicado no último dia 10 no Emerging Infectious Diseases, um periódico científico ligado ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças do Governo dos Estados Unidos (CDC, em inglês). Na pesquisa foram avaliados 3.184 casos de Covid-19 confirmados em laboratório, incluindo 309 importados de fora do Japão. 

Familiares ou pessoas que convivem em uma mesma residência não foram incluídas na análise, que revelou 61 incidentes do tipo. O espaço considerado de maior risco para supercontaminação foram as unidades de saúde (30%), seguido por outros locais de atendimento, como casas de repouso e clínicas (16%). Os bares possuem indicativo de porcentagem semelhante, de 16%, acima até dos locais de trabalho (13%).

Em relação à quantidade de pessoas contaminadas, o hospital foi o espaço onde aconteceu a maior disseminação: incluindo pacientes e funcionários, 100 contraíram o Coronavírus no mesmo local. Mas em segundo posto, aparece uma única apresentação de música ao vivo, na qual 30 pessoas acabaram se contaminado com o vírus, entre músicos, público e a equipe que trabalhou no evento. 

A pesquisa conseguiu identificar os possíveis causadores de 22 dos 61 das contaminações, e quando 16 delas ocorreram. Essas respostas mostraram que 50% dessas pessoas tinham menos de 40 anos e 41% estavam pré-sintomáticos ou assintomáticos quando transmitiram o Coronavírus. 

O estudo foi coordenado pelos doutores Yuki Furuse, Eiichiro Sando, Naho Tsuchiya, Reiko Miyahara, Ikkoh Yasuda e Yura K. Ko e suas equipes com apoio do Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia no Japão e da Agência Japonesa de Pesquisa e Desenvolvimento Médico. (Especial para O Hoje)

 

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