Empresa goiana desenvolve spray que aumenta a durabilidade de alimentos em até 21 dias

O produto pode ser usado pelo agricultor, na lavoura e em casa e impede contaminação por fungos e bactérias| Foto: Wesley Costa

Postado em: 08-07-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O produto pode ser usado pelo agricultor, na lavoura e em casa e impede contaminação por fungos e bactérias| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Em parceria com uma empresa suíça, startup goiana desenvolveu um produto que aumenta a durabilidade de frutas e verduras em até 21 dias. O spray líquido baseado em nanotecnologia foi desenvolvido pelo jovem químico de 25 anos, Nichollas Serafim Camargo, e deve entrar no mercado nacional no próximo ano. O produto poderá ser usado pelo agricultor, na lavoura e em casa, como produto doméstico, para aumentar a durabilidade do alimento e prevenir contaminação de fungos e bactérias.

Nichollas explica que o produto deve aumentar a margem de lucro da produção agrícola. “A maior parte da perda de produção na lavoura é quando o fruto está maduro porque a planta gasta muita energia para mantê-lo Dessa forma, o vegetal acaba ficando suscetível às infecções fúngicas e bacterianas”. O spray foi desenvolvido em colaboração com pesquisadores da AgroSustain, empresa suíça com histórico importante na área de compostos bioativos antimicrobianos, utilizados para impedir a contaminação de frutas e legumes.

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O spray forma um nanofilme sobre os vegetais e é feito com ativos naturais e extratos vegetais produzidos no Brasil. O filme é totalmente comestível e não possui nenhum produto tóxico na sua formulação, conforme atestado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).  Atualmente o produto está na fase de prototipagem. Para poder ser comercializado no Brasil ainda resta passar pela barreira regulatória. Após essa conquista, ele será produzido na planta industrial da Nanoceuticals, em Aparecida de Goiânia.

De acordo com Nichollas, o filme pode ser aplicado em todo tipo de alimento, mas é mais indicado para frutas, legumes e folhagens, em que o aumento do tempo de prateleira é fundamental para a sua viabilidade comercial, principalmente aqueles que são exportados e importados entre os hemisférios e as estações do ano. “O produto pode ser usado em larga escala, dentro do supermercado, na lavoura ou até mesmo dentro de casa”, explica o químico.

Cheiro e sabor

Considerando o aspecto da concorrência internacional, o produto desenvolvido em Goiás possui diferencial como o de ser extremamente fino em escala nanoscópica. Essa característica faz com que o odor e sabor desse recobrimento sejam bastante reduzidos e se diferencie dos produtos da concorrência que possuem cheiro e sabor muito característicos.

Apesar de ter concorrência científica, Nichollas explica que ainda não há um produto semelhante no mercado brasileiro. “A parte regulatória para o produto não deve demorar muito. As expectativas são para que ele seja vendido no próximo ano”, declara. O químico diz que um dos principais diferenciais do produto é ser baseado em tecnologia verde, com uso de biotecnologia.

“Quando falamos de produtos que combatem contaminação em plantas, logo associamos com produtos químicos tóxicos, como os pesticidas e agrotóxicos”, pondera Nichollas. Apesar de servir para combater a contaminação de fungos e bactérias nas lavouras, o químico, que também é sócio da startup, diz que ainda é cedo para que os agrotóxicos possam ser substituídos por um produto baseado em nano e biotecnologia.

“Comparado aos agrotóxicos, o produto ainda é caro para ser aplicado na lavoura com o mesmo efeito. Ele precisaria do custo mínimo de aplicação de R$ 50 por hectare para poder substituir o veneno”.

Nanotecnologia deve transformar indústria de alimentos

A nanotecnologia é a aplicação prática da ciência em uma escala extremamente pequena com implicações no mundo real. Esses mecanismos estão além da percepção da visão humana e operam em uma escala chamada nanométrica, feitas em um milionésimo de milímetro ou um bilionésimo do metro. Cientistas descobriram que partículas podem apresentar propriedades significativamente diferentes dos mesmos materiais em maior escala.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a aplicação de nanotecnologia nos sistemas produtivos ou na indústria de alimentos deve trazer impactos sem precedentes e gerar benefícios, segundo cálculos das Nações Unidas, a um número estimado em cinco bilhões de pessoas nos próximos anos.

Foi dessa forma que a empresa goiana, especialista em desenvolver soluções tecnológicas para indústrias que atuam no ramo de ciências da vida, criou o produto em colaboração com a companhia europeia. Foi desenvolvido um sistema em forma de filme nanoscópico, que recobre e dispersa o ativo desenvolvido pela empresa suíça AgroSustain sobre os alimentos. Esse detalhe possibilitou ganhos para ambas as empresas em termos tecnológicos, ao potencializar as chances de sucesso do produto.

A concepção do produto da startup goiana Nanoceuticals foi o desenvolvimento de um filme dispersível, que pudesse ser aplicado de forma fácil na superfície dos alimentos. Esse é um dos principais diferenciais do produto. A tecnologia desenvolvida permite a aplicação em larga escala e só foi possível graças ao intercâmbio das tecnologias das empresas.

O avanço da nanotecnologia levará esta ciência, cada vez mais, para o cotidiano das pessoas, assim como aconteceu com a eletricidade. No entanto, por ser uma ciência que reúne vários conhecimentos, deve interferir em inúmeros segmentos econômicos e a agricultura não é uma exceção.

Os benefícios trazidos por essa tecnologia não serão somente do ponto de vista econômico, mas também como crescimento da qualidade de vida, incremento da produção alimentícia por área cultivada, aumento da qualidade dos processos agroindustriais e o acesso a novos produtos por um maior número de consumidores. Outros países de economia baseada em agropecuária como a Índia, Tailândia, México, África do Sul e a Argentina têm desenvolvido programas específicos de nanotecnologia e nanociências aplicadas no setor agroindustrial, meio ambiente, farmacêutico e alimentício. (Especial para O Hoje)

  

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