Patrimônio histórico trava trecho central do BRT Norte-Sul, em Goiânia

Instituto solicitou projeto de execução da obra em 2015, mas a prefeitura os entregou apenas este mês| Foto: Wesley Costa

Postado em: 16-07-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Instituto solicitou projeto de execução da obra em 2015, mas a prefeitura os entregou apenas este mês| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

A promessa do prefeito Iris Rezende de entregar o trecho central do corredor BRT Norte-Sul até o fim da atual gestão está apertada. A prefeitura culpa o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pela suspensão dos trabalhos, já que as obras poderiam afetar os prédios históricos ao redor da Avenida Goiás. O Iphan afirma que solicitou o projeto de execução da obra à Prefeitura de Goiânia desde 2015, mas a administração municipal os entregou apenas este mês.

Após a liberação da continuidade do serviço, a prefeitura deve levar pelo menos mais quatro meses para a conclusão do trecho até a Praça Cívica. Por meio de nota, a Secretaria de Infraestrutura e Obras de Goiânia (Seinfra) informa que está aguardando a liberação do órgão. Assim que isso for feito, o trecho ficará concluído em 120 dias.

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A implantação da via e infraestrutura do BRT na Avenida Goiás começou na altura da Praça do Trabalhador, mas estacionou na Rua 1 do Setor Central, ao lado dos tapumes que rodeiam a  restauração incompleta da Torre do Relógio no canteiro central.  No entanto, no sentido Norte-Sul da Avenida Goiás, os trabalhos da rede de drenagem e do corredor do BRT, entre a Avenida Independência até a Rua 1, foram concluídas. Resta executar as calçadas acessíveis, iluminação e o paisagismo.

O secretário de Infraestrutura do município, Dolzonan Mattos, afirma que a continuidade da obra depende do Iphan. “Estamos jogando pela janela mais de 90 dias em que já poderíamos ter iniciado as obras no outro lado da via, desde a Av. Independência até o entorno da Praça Cívica. É só o Iphan liberar para a gente recomeçar essa obra”, lamenta. O superintendente do Iphan em Goiás, Alysson Cabral, tem aprovado em etapas a execução das obras do corredor do BRT voltado para a área do traçado urbano tombado.

“Em 2015, o Iphan solicitou à Prefeitura de Goiânia o envio dos projetos executivos, que só neste mês de julho foram apresentados. Os mesmos estão em análise, e devido à complexidade e a dimensão dos projetos, requer um trabalho técnico detalhado por parte do Iphan para que se possa finalizar o parecer”, diz Alysson. Ele ressalta que o Iphan ainda não recebeu da Prefeitura de Goiânia o relatório técnico que indique alternativa de compactação da via com menor vibração e, consequentemente, menor impacto aos prédios e monumentos históricos no entorno da Avenida Goiás e Praça Cívica. 

Como parte da obra do BRT, o superintendente do Iphan em Goiás diz também que solicitou para a prefeitura a abertura de processo para o licenciamento ambiental na obra. Ele alega que a obra do BRT pode ter agravado o estado de conservação da obra histórica. “Desde o início da obra em torno de edifícios históricos, o Iphan tem feito análises e acompanhado a fragilidade do revestimento dos bens, como da Torre do Relógio, que pode ter tido seu estado de conservação afetado pelas trepidações causadas pelos maquinários pesados da obra do BRT”, declara Alysson.

Tapumes só serão retirados após conclusão das restaurações  

Apesar de Alysson Cabral afirmar que o Iphan executou a restauração da Torre do Relógio, a obra não foi entregue à população. De acordo com o Superintendente do Iphan em Goiás, os tapumes não foram retirados porque durante a ação de conservação, a equipe técnica do Iphan constatou a necessidade de uma nova intervenção de caráter restaurativo.

“O monumento continua com a proteção necessária para os próximos serviços que serão executados e o processo de restauração está em fase final de instrução e será aberto para a licitação”, afirma Alysson. Ele ainda garante que a próxima obra vai contemplar a recuperação completa do revestimento, reforço estrutural e reativação do relógio.

Falta recuperação total do revestimento, reforço estrutural e reativação do relógio de uma das maiores obras de Art Déco da Capital. A previsão de conclusão era em abril de 2020. A próxima etapa das obras está em fase final de instrução para ser aberta para licitação e não tem previsão para ser finalizada. A próxima obra deve contemplar uma intervenção de caráter restaurativo do bem – recuperação completa do revestimento, reforço estrutural e reativação do relógio.

O custo total das duas reformas foi de R$ 461 mil aos cofres públicos. No entanto, mais dinheiro público deve ser investido na próxima etapa de revitalização do relógio. Na época, também ficou acertado que, após a conclusão das reformas, seria a vez da restauração do Palace Hotel, no Setor Campinas, e do Grand Hotel, no Setor Central.

Centro histórico

O Coreto da Praça Cívica foi inaugurado em 1942, mesma ocasião quando foi feito o Batismo Cultural de Goiânia e faz parte da construção da paisagem do Centro Histórico da cidade. A obra do coreto tem riqueza de detalhes no acabamento, com composição simétrica, laje plana e elementos geométricos característicos da Art Déco. De acordo com o Iphan em Goiás, a revitalização do Coreto da Praça Cívica buscou valorizar o estilo arquitetônico com a recuperação integral da laje, dos pisos, bancos em granitina e revestimentos de pedra portuguesa na área externa.

Também foi feita a restauração do reboco, dos adornos e elementos decorativos, da recomposição de luminárias, paisagismo, execução de calçada acessível e, por fim, a pintura. Segundo o Iphan, a intervenção foi executada de forma a garantir a integridade e arquitetura do edifício histórico. 

Obras

O Instituto fez uma série de investimentos no Estado em obras de reforma em edifícios e espaços públicos nos últimos anos. Foram R$ 48 milhões investidos em oito obras em Goiás, sendo seis na Cidade de Goiás e duas na Capital: a restauração da Estação Ferroviária e a requalificação urbana da Praça Cívica com custo total de R$ 18,3 milhões.

Este ano também foi entregue a obra de restauração da Antiga Delegacia Fiscal, onde abriga a sede da Superintendência do Iphan em Goiás. Outra revitalização em execução é a obra do edifício da Antiga Chefatura de Polícia, que vai receber a nova sede da Secretaria Estadual de Segurança Pública. Na Cidade de Goiás foram investidos mais R$ 30,3 milhões, com a recuperação da Ponte da Cambaúba, do Mercado Municipal, da sede da Prefeitura Municipal e da Escola de Artes Plásticas Veiga Valle. Houve também requalificações do Arquivo Diocesano e do Cine Teatro São Joaquim. (Especial para o Hoje)

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