Centro de Goiânia é marcado por depredações, pichações e abandono

Quem passa pelas ruas do setor vê como o local está abandonado pelas autoridades públicas, além da circulação de usuários de drogas| Foto: Wesley Costa

Postado em: 30-07-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Quem passa pelas ruas do setor vê como o local está abandonado pelas autoridades públicas, além da circulação de usuários de drogas| Foto: Wesley Costa

Daniell Alves

Depredações, pichações e abandono. Estas palavras que resumem a situação do Centro de Goiânia atualmente. A reportagem do O Hoje acompanhou de perto essa situação. A pandemia do Coronavírus só agravou uma realidade que já existia. Quem passa pelas ruas do setor vê como o local está abandonado pelas autoridades públicas. Somado a isso, o local tem sido alvo de tráfico de drogas e as aglomerações são frequentes nos espaços de maior circulação de pessoas.

Locais mais movimentados, como a Avenida Anhanguera e as ruas 74 e 68, têm registrado aglomerações, circulação contínua de ambulantes, além de tráfico de drogas, denuncia a Associação Comercial e Industrial do Centro de Goiânia e Adjacências (ACIC). De acordo com a entidade, estas situações são rotineiras e assustam moradores, comerciantes e condutores que passam por estes lugares.

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Como era previsto, a quantidade de ambulantes nas ruas aumentou drasticamente após a reabertura do comércio. Depois de acompanhar pontos no Centro, a reportagem do O Hoje verificou que muitos apresentavam tumultos de pessoas, mas não tinham agentes para fiscalizar e orientar a população. “A aglomeração é tão grande que é difícil transitar em algumas avenidas, principalmente na Anhanguera”, ressalta a Associação.

Drogas

Além destes problemas, há outro maior: o crescimento de pessoas em situação de rua e de usuários de drogas. Na Capital existem pelo menos 350 pessoas que fazem da rua o próprio lar, segundo o último levantamento divulgado pela Prefeitura de Goiânia. Em todo o Estado, a estimativa do Comitê Técnico de Saúde da População em Situação de Rua de Goiás é que duas mil pessoas estejam nesta condição. Alguns deles acabam abordando moradores e veículos que param para estacionar, principalmente à noite. “Chegam a bater nos vidros, a constranger os condutores dos automóveis que param no sinaleiro”, denuncia a ACIC.

O presidente da Associação Uilson Manzan alerta que esta situação é preocupante quando é considerada a pandemia do novo Coronavírus. Ele ressalta que o aumento das aglomerações pode fazer com que o número de casos exploda nestes bairros. As pessoas que transitam na região também têm a segurança afeta neste sentido. Os comerciantes, principalmente das ruas abaixo da Paranaíba (61, 62, 68, 74), estão com medo de deixar os estabelecimentos abertos devido à presença de moradores de rua e usuários.

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Goiânia para um posicionamento diante da denúncia, mas não houve resposta por parte da gestão municipal. Conforme já mostrado pelo O Hoje, desde o início da pandemia, diversos lugares têm registrado aglomerações e, em muitas vezes, a fiscalização não consegue atender todas as denúncias feitas. Além do tumulto de pessoas em terminais de ônibus, estabelecimentos comerciais não estão respeitando algumas regras estabelecidas pelo decreto municipal e uma parcela da população tem transitado pelas ruas sem a máscara.

Moradores de rua 

A última ação feita pela prefeitura para dar assistência a esta parcela da população foi em maio deste ano, quando foram disponibilizadas barracas. Inicialmente, a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) cadastrou 100 famílias para ocuparem as barracas. Para essa escolha inicial o órgão levou em consideração alguns critérios, dando preferência aos portadores de necessidades especiais, idosos e pessoas com morbidades.

Já o Estado, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), no último ano, instalou Consultórios de Rua para atender os moradores de rua. As equipes atuaram de forma análoga à dinâmica de atuação da Estratégia de Saúde da Família, com proximidade e estabelecimento de vínculos, sendo ela uma das portas de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS). A população foi contemplada com visitas das equipes de profissionais compostas, na maioria das vezes, por médicos, enfermeiros, assistentes sociais e educadores físicos.

Desvalorização imobiliária

A ACIC foi criada para buscar melhorias no Centro de Goiânia no ano de 2018. Uma das justificativas para fundar a Associação foi que a cidade estava sendo desocupada e apresentava desvalorização imobiliária, problemas de insegurança e ausência do poder público, afirmou o presidente Uilson.

“Nós tínhamos um grupo que eu criei e mobilizei alguns empresários e o objetivo era um grupo de WhatsApp, com intuito de gerar uma cultura entre nós de consumirmos os produtos e serviços uns dos outros, era mais um grupo empresarial do Centro de Goiânia. Mas, nas nossas reuniões, os empresários solicitaram para criarmos uma associação e buscarmos melhorias para o local”, lembra ele.

A pasta está envolvida em Projetos de Revitalização do Centro Histórico de Goiânia, sendo parceira de diversas instituições e órgãos públicos. “Criamos a Associação para viabilizar a parceria entre o poder público e a iniciativa privada e para solicitar do poder público melhorias, seja relativo ao trânsito, mobilidade urbana, restauração de monumentos históricos, enfim, benefícios tributários para a abertura de novas empresas, ou seja, uma presença muito maior do poder público no centro de Goiânia”, destaca Uilson.

 Furto de comércio, veículos e residências é reduzido

Embora haja aglomerações e tráfico na região, a violência no local foi reduzida, mostra levantamento feito pela Polícia Militar de Goiás (PM-GO). Os quesitos furto de comércio, de veículo, em residência e a transeunte registraram queda. Portanto, o principal problema se refere à quantidade acima da média de ambulantes neste momento de pandemia e os usuários de drogas.

O estudo da PM aponta que o furto de comércio apresentou uma redução de 22% em comparação ao ano passado nos meses de abril, maio, junho e julho. O furto de veículos teve queda de quase 50%. Já a modalidade furto em residência foi reduzida para 29% e o furto a transeuntes mostrou queda mais expressiva, de quase 59%, diz a Polícia.

Dados não são atípicos

Coronel Edson Ferreira, comandante do Policiamento da Capital (CPC), ressalta que há criminalidade em todos os locais da Capital, porém o trabalho dos agentes da PM segue firme. Ele também esclarece que todos estes dados não são atípicos em Goiânia, ou seja, eles já acontecem há muito tempo. Segundo ele, a Polícia irá entrar em contato com a ACIC para verificar as denúncias.

Edson diz que estas reduções na violência e criminalidade confrontam as denúncias feitas pela Associação. “Mas o trabalho é diário e o desafio enorme, principalmente em relação aos usuários de drogas e pessoas em situação de rua que cometem delitos na região. Temos impedimentos e entraves como o fato de eles não ficarem presos, mas o trabalho da PM é realizado com responsabilidade e não para”, afirma.

No último fim de semana, agentes da PM, em diferentes ações, apreenderam de pelo menos 25 suspeitos de tráfico de drogas e/ou porte ilegal de armas. As principais ocorrências aconteceram em Trindade, Nova Crixás, Chapadão do Céu, Senador Canedo e Goiânia e apreenderam, juntas 13 armas de fogo e mais de 1 tonelada de entorpecentes. A mais recente foi a Operação Duas Rodas, que tem como objetivo combater furtos a veículos e a residências. (Especial para O Hoje)

  

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