Em tempos de pandemia, uso de objetos descartáveis dispara

Somente em maio, Goiânia, acumulou 2,3 mil toneladas de resíduos recicláveis| Foto: Wesley Costa

Postado em: 31-07-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Em tempos de pandemia, uso de objetos descartáveis dispara
Somente em maio, Goiânia, acumulou 2,3 mil toneladas de resíduos recicláveis| Foto: Wesley Costa

Pedro Moura

Aumentou em 30% a geração de materiais descartáveis no mês de junho, segundo dados inéditos da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Em maio, esse aumento foi de 28% e, em abril, de 25%. O monitoramento é inédito e passou a ser feito no mês de abril pela Associação. Segundo a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), somente em maio foram coletados cerca de 2,3 mil toneladas de resíduos recicláveis. Porém, apenas 7% do lixo de Goiânia é reciclado. 

O aumento da utilização de objetos descartáveis durante a pandemia do novo Coronavírus pode ser justificado pelo maior consumo de alimentos e outros produtos por entrega. Outra justificativa pode ser o aumento dos materiais que são para produção dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como máscaras e luvas. 

Continua após a publicidade

Ainda de acordo com a Abrelpe, a pandemia deve causar um aumento entre 15% e 25% do lixo nas residências do país nos próximos meses. Já nos hospitais, estima-se um crescimento de até 20%.

Comurg afirma que as máscaras e luvas não entram no lixo reciclável, caso os equipamentos de proteção estiverem à vista na lixeira, o gari não coleta o lixo, devido ao perigo de infecção. “Desde o início da pandemia pedimos para a população não colocar estes materiais junto com o lixo doméstico, para prevenir os trabalhadores e as 14 cooperativas de reciclagem registradas, em Goiânia, que possuem contato direto com os resíduos”, disse.

Embalagens para comida 

Outro fator que está contribuído para o aumento do consumo de plástico é o isolamento social, como a população está ficando mais em casa, os serviços de entrega de comida cresceram, o que significa que os recipientes descartáveis em que as refeições são colocadas também estão contribuindo para haver mais lixo. 

Segundo o comerciante do ramo de embalagens, Jairo Soares da Silva, durante a pandemia, houve um aumento de cerca de 40% nas vendas de embalagens plásticas. “Registramos um aumento significativo em algumas embalagens, especialmente onde os serviços de entregas de delivery atuam, como sacos de papel, marmitas de isopor, marmita de alumínio, aumentaram muito”, explicou.

Ainda de acordo com Jairo, por outro lado, as vendas de embalagens de papel caíram consideravelmente. “No contexto geral, as vendas caíram. Perdemos uma gama de produtos, as embalagens de plástico aumentaram muito, mas as demais embalagens de papel, como papel toalha, papel higiênico, caíram em média 70%”, finalizou.

Perfil do lixo 

Porém, no Brasil, menos de 2% do plástico produzido é recuperado. O dado também mostrou uma queda de 9% na coleta de resíduos sólidos urbanos, juntando a coleta domiciliar e limpeza pública, que vai direto para aterros sanitários. 

Para o presidente da Associação Nacional de Catadores e Catadoras do Brasil (Ancat), Roberto Rocha, essa mudança no perfil do consumo doméstico e as medidas de isolamento social afetaram profundamente o ciclo da reciclagem. “O impacto do nosso trabalho na cadeia da reciclagem foi algo que nós não imaginávamos. Com a parada do trabalho dos catadores, a cadeia parou”, observa.

Enquanto algumas cooperativas fecharam pela insegurança sanitária, outras chegaram a acordos com as prefeituras, inclusive de remuneração para os trabalhadores durante o período de pandemia. Os autônomos, catadores em situação de rua, também diminuíram o ritmo. Algumas cooperativas continuaram trabalhando, cumprindo contratos com prefeituras.

Segundo Roberto, à medida que a reciclagem se mostra essencial e a demanda pelo serviço aumenta, a pandemia deixou os trabalhadores do setor muito vulneráveis. “Pelo menos 90% de todo o material reciclável passa pela mão destes trabalhadores, informais ou cooperados, em algum momento. Como o manuseio do lixo para coleta e separação é inevitável, há um medo de contaminação através do vírus que sobrevive em superfícies, principalmente de resíduos plásticos”, disse. 

Ainda de acordo com Roberto, com o tempo, a Ancat passou a entender melhor a lógica de transmissão. “A Associação aguarda dois estudos para saber como retomar as atividades nas cooperativas e orientar a categoria. A situação da pandemia aumentou a quantidade de recicláveis em lixões e aterros, e governos e empresas tiveram que investir no aumento da coleta, pois os catadores estavam parados. O papel destes trabalhadores catadores não é visto como tinha que ser. Não é remunerado dentro dessa cadeia que ele alimenta. Esse trabalho é também um trabalho essencial”, finalizou.

Plástico de uso único ganha força durante pandemia 

Por causa da pandemia do Coronavírus, as pessoas estão usando mais materiais descartáveis como luvas plásticas, máscaras faciais e visores (espécie de máscara transparente utilizada para cobrir o rosto inteiro), o que leva ao aumento da quantidade de lixo plástico gerada pelo país. Com os plásticos de uso único ganhando força, o material ressurgiu em variados formatos, mas agora como estratégia de proteção. 

Atualmente, um terço do lixo doméstico é composto por embalagens. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), cerca de 80% das embalagens são descartadas após usadas apenas uma vez.“Como nem todas seguem para reciclagem, este volume ajuda a superlotar os aterros e lixões, exigindo novas áreas para depositarmos o lixo que geramos. Isso quando os resíduos seguem mesmo para o depósito de lixo”, disse.

Ainda de acordo com a MMA, no Brasil, aproximadamente um quinto do lixo é composto por embalagens. “São 25 mil toneladas de embalagens que vão parar todos os dias nos depósitos de lixo. Esse volume encheria mais de dois mil caminhões de lixo, que juntos ocupariam quase 20 quilômetros de estrada. Ou seja, as embalagens, quando consumidas de maneira exagerada e descartadas de maneira regular ou irregular, quando não são encaminhadas para reciclagem, contribuem para o esgotamento de aterros e lixões”.

A Ministério disse ainda que esta ação dificulta a degradação de outros resíduos, que acabam sendo ingeridos por animais. “Poluem a paisagem, causam problemas na rede elétrica, com sacolas se prendendo em fios de alta tensão. Além de muitos outros tipos de impactos ambientais menos visíveis ao consumidor final, aumentando o consumo e a demanda pela produção de embalagens, exigindo mais recursos naturais, gerando mais resíduos”.

O MMA explicou ainda que todo impacto ambiental poderia ser diminuído ou eliminado, por meio da redução do consumo desnecessário e correta separação e destinação do lixo. “Compramos somente aquilo que é necessário, reutilizamos o que for possível e mandamos para reciclagem materiais recicláveis e para a compostagem os resíduos orgânicos”, concluiu. (Pedro Moura é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

  

Veja Também