Lentidão em obras de UPAs deixa população desassistida há anos

Iniciada em 2018, entrega da UPA do Jardim América foi adiada novamente para setembro deste ano| Foto: Wesley Costa

Postado em: 05-08-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Iniciada em 2018, entrega da UPA do Jardim América foi adiada novamente para setembro deste ano| Foto: Wesley Costa

Daniell Alves

Três obras unidades de saúde em Goiânia que serão transformados em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) dificultam o atendimento à população de Goiânia. Uma delas, a UPA do Jardim América, está atrasada e teve início em 2018 pela gestão anterior. No final de 2019, a previsão da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para conclusão era para maio deste ano, mas agora foi prorrogada para setembro.

A previsão anterior era de que a UPA Jardim América fosse entregue em maio, mas até o momento a população não viu as portas da unidade serem abertas. Em dezembro do ano passado, a reportagem do O Hoje entrou em contato com a SMS para um posicionamento a respeito da lentidão para entrega da UPA do Jardim América. Por meio de nota, a Secretaria informou que a empresa que iniciou a construção abandonou a obra alegando falência. A ideia era chamar a empresa que foi segunda colocada na licitação, mas após uma análise jurídica, descobriram que isso não era possível. 

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Embora a obra da unidade esteja em andamento, a entrega no primeiro semestre deste ano teria desafogado o caos nas unidades de saúde da Capital. Dessa vez, os moradores têm esperança de que UPA seja entregue no prazo. Nalva Pascoal, que mora no bairro há mais de 30 anos, diz que depois da reportagem feita pelo O Hoje no fim do ano passado, as obras voltaram. “Eu mesmo estou doente e quando preciso de atendimento eu tenho que ir ao Cais do Novo Horizonte e isso aqui [atraso] está atrapalhando muita gente”, afirma ela.

Uma das alternativas encontrada por ela é utilizar transporte individual por aplicativo, pois tem medo de usar o transporte coletivo devido às aglomerações dentro dos ônibus. Segundo a moradora, houve falta de diálogo por parte da prefeitura com os moradores, já que a gestão municipal não deu outra alternativa para as pessoas que dependiam do Centro de Saúde. A UPA atendia a população local e pacientes de outras regiões. Agora, estes precisam se locomover para outras unidades na busca de atendimento.

Nalva perdeu a mãe há três anos e, desde então, precisa tratar a depressão que adquiriu após a perda. Antes, era possível atravessar a rua e se dirigir à unidade. Hoje, ela precisa procurar outras unidades, que ficam a quilômetros de sua residência. “Às vezes, eu chego lá e nem consigo ser atendida”, lamenta. “O atendimento era rápido. Era melhor ter deixado do jeito que estava. A unidade não era bonita, mas atendia a população que precisa todos os dias de atendimento e não consegue”, destaca. “É um sentimento de muita tristeza ver que as pessoas gastam o que não têm para serem atendidas longe daqui”.

Previsão da SMS

Em nota ao O Hoje, a SMS informa que a obra da UPA Chácara do Governador deve ser concluída neste mês. Também destaca que a sala de reanimação da unidade será ampliada, passando de um para três leitos. Além disso, serão criadas uma enfermaria pediátrica, salas de isolamento e gesso. Já o número de consultórios médicos aumentará de três para cinco. O Cais Chácara do Governador está sendo transformado em UPA de Porte 2, que tem como característica a capacidade para atendimentos de baixa e média complexidade.

Já a Unidade do Jardim Guanabara III tem previsão de ser entregue em novembro, informa a pasta. Serão construídos uma sala de urgência, enfermaria pediátrica, banheiros nas salas de observação e sala de repouso para funcionários. A reportagem do Jornal O Hoje foi até o local e conferiu de perto a situação da obra novamente, assim como fez em dezembro do ano passado. Agora, a situação mudou: os serviços estão sendo executados e há trabalhadores no local.

Mobilização

Os moradores já se mobilizaram diversas vezes para que houvesse uma solução. Uma das representantes do bairro, Kátia Oliveira, contou ao O Hoje que eles já fizeram uma faixa parabenizando os anos de aniversário da UPA, devido à paralisação da obra. “Durante a semana, ao redor da unidade, fica um monte de carros estacionados e também impedem a passagem dos moradores. Se a obra já tivesse sido entregue, nós não estaríamos passando por esses problemas”, diz Kátia.

Na época da paralisação o local funcionou como refúgio para pessoas que não tinham onde morar ou até mesmo para bandidos. De acordo com os moradores, muitas pessoas já levaram até camas para dormir no local. Os equipamentos que seriam utilizados para o atendimento da população também foram roubados. E isto interferiu ainda mais na entrega. 

Faltam medicamentos e estrutura nas unidades de Goiânia 

A área da saúde na Capital enfrentava diversos problemas antes dos casos de Coronavírus. A pandemia, contudo, agravou e trouxe novos desafios. Em Goiânia, três a cada 10 médicos pediram demissão das UPAs e/ou Cais neste ano. Dos 150 que foram contratados, 49 solicitaram o descredenciamento. Além disso, alguns médicos que atuam nestas unidades da Prefeitura de Goiânia denunciaram no último mês a falta de estrutura nos locais, além do déficit de medicamentos e exames.

Uma médica, que preferiu não se identificar, trabalhava em unidade da SMS e pediu demissão recentemente. A decisão foi por causa das condições de trabalho. Ela denunciou que faltam exames básicos em unidades de urgência. “Quando faltam equipamentos, os gestores pedem para que a gente solicite os que têm na unidade”, ressalta. Estas condições precárias têm feito com que os profissionais não consigam atender os pacientes de maneira adequada.

Com relação aos descredenciamentos, o superintendente de Gestão de Redes de Atenção à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Silvio José de Queiroz, afirmou que está dentro da média. Segundo ele, esta situação é comum todos os anos, uma vez que profissionais possuem outros vínculos e podem mudar de cidade. “Para isso, tentamos o mais rápido possível fazer a substituição desses médicos. Eles [médicos] estão cansados e estressados pela situação da pandemia”, ressaltou.

Sobre a questão da falta de remédios, o superintendente da SMS explicou que, hoje, há certa dificuldade em adquirir medicamentos por conta da pandemia. “Alguns laboratórios não estão fornecendo e empresas não conseguiram entregar todas as medicações solicitados pela prefeitura. Então, isso tem atrasado a chegada de determinados remédios”, informou.

Ausência de matéria-prima

Já a SMS informou que “não tem medido esforços para compras emergenciais e que desde o início da pandemia o estoque de medicamentos foi o suficiente”. Também destaca que, para novas compras, as empresas contratadas por meio de licitações informaram que não possuem estoque dos medicamentos. Portanto, segundo a pasta, essa falta se deve pela redução da produção pela ausência de matéria-prima importada. “Já outros fabricantes pediram realinhamento de preços e quando isso ocorre, é necessário aguardar os processos jurídicos para as devidas autorizações e prosseguir com a compra. Há um empenho muito grande em manter os medicamentos nas unidades, como foi feito desde o início”, diz a nota. (Especial para O Hoje)

 

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