Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Ligações clandestinas de esgoto poluem córregos em Aparecida de Goiânia

A Defesa Civil do município afirma que identificou mais de 100 casos apenas no período de estiagem| Foto: Wesley Costa

Postado em: 07-08-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Ligações clandestinas de esgoto poluem córregos em Aparecida de Goiânia
A Defesa Civil do município afirma que identificou mais de 100 casos apenas no período de estiagem| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Esgoto está sendo despejado em córregos de Aparecida de Goiânia. Um dos pontos onde o crime ambiental acontece é no bairro Terra Prometida, onde o esgotamento foi ligado de forma clandestina à rede pluvial do setor atingindo uma Área de Proteção Ambiental permanente. A Defesa Civil do município afirma que identificou mais de uma centena de casos apenas no período de estiagem.

O superintendente de Proteção e Defesa Civil, Juliano Cardoso, diz que esse é um problema recorrente na cidade. “Não é só naquele ponto que há ligação clandestina de esgoto, a Defesa Civil identifica esse tipo de crime cotidianamente”. Ele ainda diz que o órgão tenta buscar soluções, mas que a participação da população em denunciar casos e não lançar esgoto nos córregos é muito importante. “Lembremos que quando alguém tenta resolver a questão de saneamento dessa forma, o prejuízo é de todos nós”.

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Juliano afirma que a maior parte dos córregos que cortam Aparecida de Goiânia está contaminada.  O superintendente da Defesa Civil do município alega que a maior parte da culpa é da população que despeja lixo, entulho e esgoto nos cursos d’água.  “Precisamos tirar o lixo da cabeça do brasileiro, sermos menos brasileiros e mais cidadãos do mundo. É assim que começaremos a fazer nossa parte”, defende.

A Defesa Civil de Aparecida de Goiânia tem dividido a equipe para fazer levantamentos sazonais. “Na época da chuva, uma equipe fica responsável por levantar informações importantes para a estiagem e vice-versa”. Neste período de estiagem, o órgão tem checado as redes pluviais do município e é nessas incursões que o lançamento de esgoto clandestino é identificado.

“Estamos monitorando as redes pluviais e acabamos localizando esses tipos de casos. Todos eles vão ser encaminhados para a Polícia Ambiental, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente [Sema] e o Ministério Público de Goiás”, garante. O órgão esteve no Setor Terra Prometida na manhã de ontem (6) para realizar investigações e produzir relatórios.

Juliano diz que o caso mais grave descoberto pela Defesa Civil foi outro lançamento de esgoto clandestino ligado à rede pluvial próximo ao anel viário de Aparecida de Goiânia, no córrego Santo Antonio. “A Sema [Secretaria de Meio Ambiente] vai encaminhar equipe ao local, mas só os trabalhos conjuntos de diversos órgãos municipais e estaduais vão permitir a descoberta do autor ou autores do crime”.

Ranking

De acordo com o Ranking de Saneamento Básico 2020 do Instituto Trata Brasil, Aparecida de Goiânia está entre os 20 municípios que menos investem em saneamento básico no país. O estudo é feito pela instituição desde 2009, em parceria com a GO Associados, o Ranking do Saneamento Básico contempla indicadores de atendimento de água, coleta e tratamento de esgoto, perdas de água e investimentos das 100 maiores cidades do país.

A pesquisa é feita por meio dos indicadores do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), ano base 2018, plataforma do Ministério do Desenvolvimento Regional. O estudo aponta que nos últimos cinco anos as 20 piores cidades tiveram investimento anual médio feito no período entre 2014 e 2018 de apenas R$ 41,77 por habitante.  Por outro lado, nas 20 melhores cidades a mediana do investimento anual por habitante no mesmo período foi de R$ 134. Mais do que o triplo de investimento das 20 piores cidades do ranking.

De acordo com o estudo, Aparecida de Goiânia investiu R$ 109.040.201,59 em saneamento no ano de 2018. Para os que menos investiram no saneamento básico em geral, com exceção do município goiano e de Manaus, todas as cidades investem menos que R$ 100 milhões no ano de 2018. Oito destes não investiram nem R$ 10 milhões nos serviços de água e esgotamento sanitário.

O descarte inadequado de dejetos orgânicos causa grande impacto ambiental e para a qualidade de vida dessas pessoas, principalmente de crianças. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 361 mil crianças menores de cinco anos vão a óbito devido à diarreia, consequência do baixo acesso à água tratada, ao saneamento e a condições adequadas de higiene.

Toda região Centro-Oeste sofre com falta de esgoto 

Segundo dados dos estudos do Instituto Trata Brasil, o acesso à rede de água na região Centro-Oeste chega a 88,98% da população. No entanto, os serviços de esgoto são contemplados por pouco mais da metade da população. Aproximadamente 52,89% da população têm o esgoto coletado e o volume de esgoto tratado da região é de apenas 53,88%. O desperdício de água causado por furtos, vazamentos, erros de leitura de hidrômetros, entre outros, chega a 35,67%, de acordo com Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).

A entidade aponta que entre os inúmeros setores socioeconômicos que a falta de saneamento afeta, o mais prejudicado é o da saúde.  Segundo o Painel Saneamento Brasil, plataforma de dados criada pelo Instituto, na região Centro-Oeste, em 2018, o número de internações por doenças de veiculação hídrica foi de 11,87 por 10 mil habitantes.

Esses casos tiveram como consequência um aumento nos gastos médicos nos estados da região. Dados mais recentes revelam que cerca de R$ 7 milhões foram gastos no tratamento de doenças por veiculação hídrica em 2018 no Centro-Oeste. Mesmo com essa quantia voltada ao tratamento, a região teve 137 óbitos por doenças associadas à falta de saneamento. (Especial para O Hoje)

 

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