Bicicletas voltam a ser usadas como meios de transporte durante a pandemia

Obrigados a se manterem mais distantes, número de pessoas circulando de bike aumentou - Foto: Wesley Costa

Postado em: 15-08-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Obrigados a se manterem mais distantes, número de pessoas circulando de bike aumentou - Foto: Wesley Costa

Daniell Alves

Meio de transporte mais econômico e sustentável, a bicicleta se tornou uma aliada dos goianos durante a pandemia do novo Coronavírus. Quem anda pelas ruas da cidade percebe que, nos últimos anos, houve um aumento de ciclistas circulando por aí. O meio de transporte é seguro, benéfico ao corpo, mas aqueles que pedalam ainda encontram dificuldades para tráfego na Capital.

Carol Goss e sua família já possuíam o hábito de utilizar a bike como um meio de transporte. Ela e o marido dividem a bicicleta, e a filha dela, de 6 anos, também já é estimulada desde pequena a utilizar o veículo. Em entrevista ao O Hoje, Carol contou como é a rotina da família andando de bike pelas ruas da Capital. Ela possui um carro, mas também utiliza o transporte de duas rodas.

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Andar de bicicleta, segundo ela, é uma forma de se manter saudável e, além disso, poder observar o espaço urbano de maneiras distintas. “Tem a questão da saúde, da mobilidade mais econômica e de sociabilizar com a cidade”, explica. “A gente tem percebido que andar de bike é um pouquinho mais seguro do que fazer caminhada, por exemplo. A bicicleta nos mantém um pouco mais afastados das outras pessoas”, diz ela.

Acessibilidade 

No entanto, a modalidade enfrenta desafios: a falta de acessibilidade. “As ciclovias daqui vão de lugar algum para lugar nenhum, não tem uma lógica orgânica efetiva do uso da bicicleta”. Ela afirma que as calçadas estão em péssimo estado e não têm segurança para os ciclistas. “A minha filha está usando muito mais a bicicleta, mas quando colocamos ela para andar na calçada é muito ruim. Há diversos buracos – o que facilita possíveis quedas”, revela.

Ela faz uma comparação da Capital com as cidades de outros países, onde ele já teve a oportunidade de morar. “Outras cidades estão mais preparadas, inclusive para idosos andarem nas ruas. A realidade aqui é outra. O poder público não se importa com essa questão de ter uma mobilidade mais natural”, enfatiza.

Adaptação

A vida do lojista Leonardo de Santos, 27 anos, mudou completamente desde março deste ano, quando os casos de Coronavírus começaram a aparecer. Ele tinha uma loja na Região da 44 e a rotina de caminhada era comum, pois ele fazia entregas e andava sempre de um lado para o outro. Mas, nos últimos meses, ao adotar o atendimento apenas on-line ele percebeu mudanças negativas em seu corpo e resolveu desenferrujar a bicicleta que estava guardada no quintal.

“Não dá para ficar parado. O nosso corpo precisa estar sempre se movimentando, porque senão a gente perde o fôlego”. Leonardo tem andando de bicicleta junto com um grupo de ciclistas que rodam três vezes na semana cerca de 20 quilômetros durante a noite, momento em que todos chegaram do trabalho. O resultado tem sido benéfico e ele afirma que pretende continuar pelos próximos anos.

Malha cicloviária

Atualmente, Goiânia conta com 94,7 quilômetros de malha cicloviária. Desde maio, a Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMT) está revitalizando a sinalização das ciclovias da Capital nos trechos da Avenida Universitária e da Avenida T-63. As obras de sinalização são realizadas após o trabalho de recuperação das pistas, feito pela Secretaria de Infraestrutura (Seinfra).

A previsão é revitalizar toda a malha cicloviária até o fim deste ano. Além de revitalizar o que já está implantado, o projeto de ampliar as vias para a circulação de bicicletas está de pé. A bicicleta é uma das soluções mais viáveis para reduzir o número de caros e motos nas ruas, a emissão de gases, a poluição sonora e, consequentemente, melhorarmos a qualidade de vida da população. O fato é que o projeto da malha cicloviária envolve, praticamente, toda cidade e sua ampliação, apesar de certa para a administração pública, ainda depende de um consenso com os setores produtivos. 

Mercado de bicicletas dobrou faturamento, diz pesquisa 

O mercado de bicicletas, mesmo em um momento de pandemia, está aquecido. Houve um aumento de 118% nas vendas no último mês em comparação ao mesmo período do ano passado. A pesquisa foi feita pela Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike). Os números foram registrados após estudo com mais de 40 empresas. Em Goiânia, as lojas de bicicletas seguem faturando.

Um dos motivos que explica esse aumento é que grande parte da população deixou de utilizar o ônibus por conta das recomendações de distanciamento social. Neste contexto, a bicicleta atua como um meio de transporte mais barato e, de quebra, a pessoa mantém as atividades físicas em dia. Em relação ao período anterior (de 15 de maio a 15 de junho), aponta a Aliança Bike, o aumento é de 19% nas vendas de bicicletas – o que aponta para um crescimento sustentado de todo o mercado nacional.

De acordo com informações de lojistas, o aumento se deu especialmente porque a população procura por soluções para evitar as aglomerações do transporte público. Seguindo, inclusive, recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde). Neste aspecto, a bicicleta é uma excelente opção, pois tem um valor bem mais acessível do que motocicletas e ainda contribui para a saúde e para o meio ambiente, já que não poluem. “As pessoas também estão procurando se exercitar de uma forma segura, com distanciamento, e a bicicleta pode proporcionar essa segurança”, explica André Ribeiro, vice-presidente da Aliança Bike.

O levantamento divulgado nesta semana apontou para o mesmo perfil de consumo da pesquisa de junho. Destaque para os modelos chamados de “bicicletas de entrada”, com valores para o consumidor final entre R$ 800 e R$ 2 mil. Estas bicicletas são utilizadas normalmente para transporte, lazer e exercícios físicos de baixo impacto.

Propostas para melhorar

O levantamento da Aliança Bike com empresas do setor traz um ótimo dado indicativo para quem acredita na bicicleta como meio de transporte mais seguro, sustentável e eficaz para diminuir o trânsito nas cidades e o estresse nas pessoas. Entretanto, afirma a pasta, é necessário que o poder público brasileiro entenda e leve a sério esta questão – como já acontece em diversas partes do mundo.

Com o objetivo de estimular o mercado e o uso de bicicletas no Brasil – e, consequentemente, permitir que estes novos ciclistas continuem pedalando – a Aliança Bike criou um conjunto de propostas executáveis. As medidas devem ser adotadas pelo poder público, nas três esferas de poder, para estimular o uso de bicicletas no processo de enfrentamento e saída da pandemia de coronavírus.

Entre elas está a de ampliar rede de ciclovias, ciclofaixas, bicicletas compartilhadas e bicicletários permanentes nas cidades brasileiras, além de permitir maior acesso de bicicletas ao transporte coletivo; reduzir a carga tributária sobre as bicicletas, para que a população tenha acesso a bicicletas mais baratas e de maior qualidade. Criar uma rede extra de ciclovias e ciclofaixas temporárias, nas cidades brasileiras, para auxiliar os trabalhadores de atividades essenciais durante a pandemia e no processo de saída dela.

Além disso, a Associação propõe que seja criada uma linha de crédito atrativa, junto aos bancos públicos, para financiamento de aquisição de bicicletas e bicicletas elétricas pela população brasileira. E, por fim, sugere a implantação de políticas públicas (nacionais e regionais) para desenvolvimento do cicloturismo, como forma de aquecer o turismo no país com segurança e distribuição de renda. (Especial para O Hoje)

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