Período de pandemia deixa mais de 18 mil desempregados, em Goiânia

Desemprego está presente desde antes da pandemia e reflete no aumento de pessoas que pedem ajuda nas ruas| Foto: Wesley Costa

Postado em: 20-08-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Desemprego está presente desde antes da pandemia e reflete no aumento de pessoas que pedem ajuda nas ruas| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

O período pandêmico compreendido entre março e junho deste ano custou 18.403 empregos na Capital. O número representa o saldo acumulado deste período pela diferença entre 41.747 pessoas que foram admitidas e 60.150 demissões. A onda de desemprego está presente desde antes da pandemia e tem reflexo no aumento de pessoas que pedem ajuda nos semáforos para tentarem fechar as contas. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). 

De acordo com os últimos dados do Caged, 11.942 pessoas foram desligadas de seus postos de trabalho somente no mês de junho em Goiânia.  O setor mais afetado foi o setor de serviços com 6.506 postos de trabalho perdidos, seguido pelo setor de comércio com 2.625 demissões. Todo país tem saldo negativo de mais de três milhões de empregos perdidos desde o início da pandemia.

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Sem trabalho formal e perspectiva, o catador de material reciclável, Bruno da Luz Nunes migrou do Estado do Pará para a Capital de Goiás em busca de oportunidades. Durante quatro anos, não faltou trabalho para Bruno. Ele atuou em mais de três empregos diferente no setor de prestação de serviços, sempre de carteira assinada. “Sempre fui muito trabalhador e assinei minha carteira várias vezes, mas ela se perdeu em um acidente doméstico quando minha roupa foi lavada junto com o documento”, lembra.

Bruno foi desligado do trabalho, mas estava tentando refazer seus documentos para ir à procura de um novo emprego. A pandemia solapou todas as suas esperanças quando ficou sem possibilidade de emitir a carteira de trabalho. “Quando começou a pandemia, os órgãos que emitem os documentos fecharam as portas e eu fiquei sem dinheiro”.

A onda de desemprego fez a descrença de o trabalhador crescer. “Hoje eu tenho que catar material reciclável para sobreviver e complemento minha renda pedindo nos semáforos enquanto descanso. Carregar um carro de mais de 100 kg nas costas o tempo todo não dá”, lamenta. Apesar de reconhecer que o cenário da Capital não está bom em relação a vagas de emprego, Bruno está recuperando suas esperanças por meio do seu trabalho. “Tenho certeza de que quando isso passar vou conseguir dar a volta por cima”, diz.

Artistas nas ruas

O artista circense Alex Haidar se transforma no Palhaço Moranguinho para trabalhar nos semáforos da Capital.  Na época da pandemia, com circos e escolas fechadas, esta foi a única alternativa que o artista encontrou para sobreviver. “Não há como trabalhar porque os espetáculos causam aglomeração e as escolas estão fechadas. Então, decidi ir com meu trabalho até as ruas para tentar a sorte”, declara.

Ele ainda diz que alguns de seus colegas de circo o criticam por ter assumido essa atitude. “Eles me chamam de mendigo, de pedinte, mas não são eles que vão colocar comida na minha mesa e nem pagar o aluguel”, lamenta. Alex diz que não se envergonha de estar trabalhando nos semáforos. “Meu trabalho é o circo. Se não tem circo para trabalhar, levo ele para a rua. Assim como fazemos nas escolas. Sei que é só uma fase passageira e quando tudo voltar ao normal, conseguiremos retornar ao trabalho”.

Antes da pandemia, o trabalho de Alex como artista era repleto de viagens e patrocínios. As atividades eram feitas em escolas de várias cidades no Brasil. “Os projetos do nosso grupo eram financiados por grandes empresas por meio da Lei Rouanet e outros editais de cultura. Viajei muito pelos interiores em apresentações artísticas, conheci Goiás e outros estados”, recorda com saudades.

Palhaço Moranguinho tentou se cadastrar para receber o auxílio emergencial do Governo Federal, mas teve o pedido negado duas vezes. “Na justificativa, eles afirmam que já há pessoas na minha família que recebem o benefício, mas eu não moro com ninguém da minha família”, declara. Apesar das dificuldades da pandemia, Alex incorpora a resistência histórica da arte popular circense.

Artistas circenses estão sem receber verba de apoio à cultura

Outro fator agravante para a crise pela qual Alex e outros artistas circenses estão passando é a falta de liberação de recursos remanescentes do Fundo Estadual de Cultura (FAC) relativo ao Projeto Aprovado no Edital 15/2018 na modalidade de Circulação pelo interior de Goiás de Apresentação de Espetáculo Circense.

A equipe do jornal O Hoje tentou contato com a Secretaria Estadual de Cultura para questionar sobre o cadastro de artistas para receber a verba da Lei Aldir Blanc e sobre a liberação de verba do Edital 15/2018 na modalidade de Circulação pelo interior de Goiás de Apresentação de Espetáculo Circense, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

O decreto que regulamenta a Lei Aldir Blanc, que destina R$ 3 bilhões de crédito emergencial para o setor da cultura, foi publicado em meados de julho. O Senado aprovou a Lei em junho e o auxílio dependia da regulamentação para começar distribuído aos estados e municípios, responsáveis pelo repasse de verba aos artistas e centros culturais.

O Ministério do Turismo afirma que nos próximos 60 dias, os gestores dos estados e municípios devem concluir a indicação dos planos executivos para os recursos por meio da Plataforma +Brasil e das agências do Banco do Brasil que vão executar os pagamentos.

Depois que as verbas forem repassadas, os estados terão até quatro meses e os municípios dois, para distribuir o recurso aos beneficiários. Ainda segundo o governo federal, os estados e municípios também serão responsáveis por gerir o pagamento retroativo aos beneficiários.

A distribuição de R$ 1,5 bilhão aos trabalhadores do segmento cultural deverá ser pago pelos estados por meio do auxílio emergencial criado especificamente para o setor. As três parcelas de R$ 600 serão creditadas às pessoas físicas que comprovarem atuação no setor cultural nos últimos dois anos exceto para aqueles que tenham emprego formal ativo. (Especial para O Hoje)

  

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