Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Jardim Buriti Sereno lidera casos de Covid-19 em Aparecida de Goiânia

Buriti Sereno possui 20 óbitos confirmados pela infecção. Incidência no setor é maior do que em Goianira| Foto: Wesley Costa

Postado em: 21-08-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Jardim Buriti Sereno lidera casos de Covid-19 em Aparecida de Goiânia
Buriti Sereno possui 20 óbitos confirmados pela infecção. Incidência no setor é maior do que em Goianira| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

O Jardim Buriti Sereno pode ser o novo epicentro de contaminação do novo Coronavírus. De acordo com o boletim epidemiológico da Prefeitura de Aparecida de Goiânia, atualizado na última quinta-feira (20), o bairro lidera com 926 casos confirmados de Covid-19, seguido por Cidade Vera Cruz com 689 casos. Buriti Sereno possui 20 óbitos confirmados pela infecção e quatro em investigação. O município totaliza 18.877 casos de Covid-19 confirmados.

O nível de contaminação do setor é considerado moderado pelo Painel Aparecida Covid-19, plataforma de monitoramento da doença criada pela prefeitura do município. A equipe do Jornal O Hoje buscou explicações com especialistas para tentar descobrir os motivos de um bairro afastado das regiões centrais da cidade e longe das aglomerações do comércio estar em primeiro lugar no número de casos e óbitos causados pela doença no município. Um conjunto de fatores pode motivar a colocação.

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Aglomeração

Na tarde da última quinta-feira (20), a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Buriti Sereno estava lotada e as pessoas precisavam aguardar mais de seis horas para receber atendimento. Gleisson Silva é morador do Garavelo, mas se machucou na obra em que trabalha no setor e teve que buscar a ortopedia da unidade de saúde. O trabalhador chegou ao local às 11h e até às 17h não havia sido atendido. 

Ele acredita que o alto número de casos no bairro tem relação com a qualidade de atendimento na UPA. “Vem muita gente para cá e muitos estão em busca de testes da Covid. Todo mundo acaba ficando no mesmo lugar e a contaminação rola solta”, defende Gleisson. Ele diz que algumas pessoas que buscavam resultados de testes ou estavam no local com sintomas da doença estavam a poucos centímetros dele.

Andreia Correa estava com sintomas da Covid-19 e buscou a UPA do bairro. Ela chegou no local às 17h e conseguiu atendimento só às 20h30. “Eles recomendaram que eu fizesse o teste, mas não testaram porque disseram que não testam no período noturno”, lamenta. Andreia também defende que a alta dos casos no Buriti Sereno se deve à aglomeração da UPA. “Muita gente de outros setores procura a UPA do Buriti Sereno porque as outras unidades de atendimento, como a do Jardim Itaipu não têm médicos para nos atender”, denuncia.

Professor doutor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Thiago Rangel, que integra o grupo de pesquisadores que fazem estudos de projeção da expansão da Covid-19 em Goiás, afirma que uma série de fatores pode contribuir para que um local específico tenha uma alta nos casos da doença. Entre elas estão a condição social do bairro, aglomerações no comércio ou em outros setores específicos e o não uso ou uso incorreto de equipamentos de proteção individual.

No entanto, o pesquisador reitera que os estudos relacionados à expansão do Coronavírus são pautados em macro cenários e causas específicas de situações de contágio teriam que ser analisadas caso a caso. “São muitos fatores que acontecem ao mesmo tempo e interferem no nível de contaminação, mas pelo estudo dos macro cenários, podemos concluir o que funciona para a diminuição da contaminação e um deles é o isolamento”, diz.

Thiago ainda afirma que o uso de equipamentos de proteção individual em locais aglomerados, como terminais de ônibus e unidades de saúde, não é garantia de não se contaminar com a doença. “Um dos problemas do uso de máscaras é que ela causa uma falsa sensação de tranquilidade. Uma barreira de pano não vai te proteger em um local com grande nível de contaminação e aglomerações”, pondera.   

O pesquisador conclui dizendo que o nível social do bairro também influencia na incidência de contaminação. “As pessoas de baixa renda têm o pior atendimento em saúde e a maior parte precisa pegar o transporte público para ir trabalhar”. Ele cita pesquisas feitas em outras cidades que apontam o transporte público como local de alta contaminação do novo coronavírus. (Especial para O Hoje)

Locais de alta circulação apresentam mais chance de contágio  

Um estudo feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tornou mais fácil identificar lugares onde, segundo pesquisadores, a chance de ser infectado pelo vírus SARS-Cov-2, responsável pela pandemia de Covid-19, é maior. Os resultados parecem comprovar o que já é protocolo sanitário em todo o Brasil: a residência é o lugar mais seguro para as pessoas neste momento.

A equipe de virologistas responsáveis pelo levantamento coletou amostras de lugares públicos de alta circulação na cidade de Belo Horizonte. O método utilizado foi parecido com os testes realizados para detectar a presença do vírus no organismo: o swab – um tipo de cotonete alongado que, quando friccionado contra superfícies, coleta o material em repouso – foi usado em pontos de ônibus, corrimãos, entradas de hospitais e até mesmo bancos de praças. Das 101 amostra colhidas, 17 continham traços do novo coronavírus.

Para Matheus Westin, infectologista e professor de medicina da UFMG, a organização dos lugares em categorias de risco faz sentido, apesar de não ter nenhuma participação no estudo. Ele explica que há três critérios básicos para avaliação de risco de locais públicos. “Para se avaliar o risco de um determinado local, levamos em consideração três elementos: o número de pessoas que podem portar a infecção, o nível de aglomeração esperado nos ambientes e a chance de haver pessoas com a infecção no local.”

O médico lembra, ainda, que objetos também podem ter partículas infecciosas inertes. Frutas, verduras, caixas e outros itens que ficam expostos podem carregar o vetor de infecção. O estudo classificou as áreas de risco de acordo com os três pilares sanitários identificados pelos médicos.

Linha de frente

O estudo mostrou também que profissionais que trabalham na linha de frente de combate ao novo Coronavírus estão muito mais suscetíveis ao contágio, já que a proximidade com infectados é inevitável. “Todas as formas de assistência direta envolvem proximidade. Desde os cuidados primários, como administrar medicação ou conversar com o paciente, aos procedimentos invasivos, como ajustar o ventilador mecânico, aspirar as vias aéreas ou entubar o paciente, tudo isso cria um grande risco de transmissão”, argumenta Westin.

Segundo o médico e professor, o investimento em equipamentos de proteção individual (EPIs) de qualidade é crucial, e pode definir se o profissional médico será contaminado ou não ao tratar pacientes. “Boa parte desse equipamento é de uso único. A troca deve ser periódica. Mas não dá pra esquecer que o profissional de saúde, ao chegar em casa, deve lavar bem com água e sabão as vestimentas hospitalares para remover traços de contaminação das roupas”, informou.

O site da UFMG afirma que o estudo não pode ser considerado científico, mas que as evidências corroboram a escala de perigo de infecção. (ABr)

 

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