Há 22 anos sem reforma, pista do Eixo Anhanguera está comprometida

Com a estrutura de pavimentação asfáltica fora do prazo de validade, Metrobus inicia serviços paliativos| Foto: Wesley Costa

Postado em: 26-08-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Com a estrutura de pavimentação asfáltica fora do prazo de validade, Metrobus inicia serviços paliativos| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

A última grande reforma na Avenida Anhanguera aconteceu há 22 anos quando foi criado o ‘Eixão’ com 19 estações, plataformas de embarque e desembarque e corredores exclusivos de ônibus. Desde então, houve apenas operações paliativas em locais específicos. Com estrutura de pavimentação asfáltica fora do prazo de validade, a Metrobus anunciou a maior operação tapa-buracos já feita na via. A empresa admite que a reforma seja paliativa e a intervenção definitiva continua sendo decidida na Justiça.

A empresa iniciou os serviços na última semana, em cooperação com o Município de Goiânia. No convênio que regula a cooperação, a Prefeitura de Goiânia ficou encarregada de ceder o material necessário à operação e à Metrobus coube a mão de obra. O serviço deve se concentrar no trecho entre o Terminal Padre Pelágio e Terminal Novo Mundo. Existe uma ação judicial movida pela Metrobus contra a Prefeitura de Goiânia para fazer o recapeamento total do trecho. A empresa ganhou em primeira instância e a prefeitura recorreu da decisão. A ação está em segunda instância para ser definida.

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O engenheiro responsável pela operação tapa buracos no Eixo Anhanguera, Cristiano Leão, explica que esse tipo de serviço é um paliativo e a expectativa é que ele dure pelo menos até o fim da próxima estação chuvosa. No entanto, afirma que as trepidações dos ônibus devem continuar. “A tapagem faz com que o volume do buraco se inverta e forme ‘montinhos’ de material asfáltico sobre a pista. O ônibus vai trepidar, mas é melhor do que passar por cima dos buracos”, ameniza o engenheiro.

Pavimento 

De acordo com a professora titular da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG) doutora em geotecnia, Lilian Ribeiro de Rezende, o pavimento asfáltico geralmente apresenta durabilidade em torno de 10 anos. Já o de concreto, tem durabilidade de aproximadamente 20 anos. A pavimentação asfáltica da via do Eixo Anhanguera possui mais de duas décadas e já ultrapassa dois anos da estimativa de durabilidade de uma via de concreto.

“Nenhum pavimento é eterno e todos irão precisar de manutenção preventiva ou periódica e de restauração em algum momento”, diz. Ela ainda ressalta que pelo tipo de tráfego (ônibus), frequência e esforço (aceleração e frenagem nos pontos de ônibus e nas interseções) do Eixo Anhanguera, deve-se pensar num tipo de revestimento que suporte melhor essas situações da via.

Com relação à operação tapa buraco, a especialista afirma tratar-se de um serviço emergencial realizado quando não é possível executar, geralmente devido às condições climáticas, um serviço de manutenção mais eficiente. “Neste caso, o buraco é tampado para dar condição de rolamento para o veículo naquele momento, mas não é a solução definitiva”. 

Monitoramento

Lilian ainda afirma que o ideal é que cada município tenha um setor responsável pela gerência de seus pavimentos. Segundo a especialista, este setor deveria manter um banco de dados atualizado sobre as condições das vias e seus dados técnicos, avaliar os projetos de restauração e indicar as soluções para cada caso, apresentar um plano de manutenção e fornecer informações para os gestores tomarem decisões sobre prioridades e investimentos. Dessa forma, os serviços de manutenção e restauração são realizados durante a seca e os pavimentos ficam preparados para suportarem as solicitações que ainda virão.

Ela ainda destaca que revestimento asfáltico é a última camada componente da estrutura do pavimento urbano ou rodoviário. Para essa estrutura apresentar o comportamento adequado durante sua vida útil, seu projeto e dimensionamento devem definir quais materiais serão utilizados em cada camada, qual a espessura de cada camada e qual o número de camadas que será necessário para suportar o tráfego existente. Tanto em termos de peso como de frequência dos veículos, além das interferências do clima como chuva e temperatura.

Com pavimentação condenada, recapeamento não é solução    

Segundo a especialista, a manutenção da pavimentação nas cidades tem que ser constante e ocorrer antes dos buracos aparecerem nas vias. A Metrobus está apresentando o recapeamento da via do Eixo Anhanguera como solução definitiva para a pista. No entanto, de acordo com Lilian, se a estrutura de pavimentação de uma via estiver comprometida, nem o recapeamento da pista pode solucionar o problema. Ela ainda explica que serviços de manutenção periódicos podem garantir a vida útil do asfalto.

Lilian afirma que existem vários tipos de soluções de manutenção e restauração, sendo que o tipo a ser escolhido depende de uma análise técnica prévia e da elaboração de um projeto de restauração. Dependendo dessas análises, o recapeamento pode ser uma das soluções. No entanto, quando toda a estrutura está tecnicamente condenada, somente a troca do revestimento (recapeamento) não irá resolver o problema.

“Nota-se que o pavimento não é eterno, mas sua vida útil pode ser garantida ou até mesmo aumentada se forem realizados serviços de manutenção periódica”, aponta. A selagem de trincas para que o processo de deterioração seja interrompido e que elas não virem os buracos é um desses serviços. “Quando se adotada procedimentos contínuos de gestão de pavimentos, os defeitos são diagnosticados e tratados no início do problema, de forma mais simples e menos onerosa”.

Estrutura do pavimento

Outro aspecto destacado é que a estrutura do pavimento só funciona bem se houver sistema de drenagem adequado. “Se a água atingir as camadas que estão abaixo do revestimento asfáltico, toda a estrutura estará condenada”, afirma. 

A especialista aponta vários fatores que podem contribuir para o aparecimento de problemas precoces: falta ou falha de projeto e dimensionamento, erros construtivos, falta de controle tecnológico durante a construção, falta de sistema de drenagem adequado e falta de manutenção preventiva.

No caso específico dos buracos, existe a seguinte explicação: o revestimento asfáltico (geralmente, constituído de brita, areia, fíler e cimento asfáltico de petróleo) irá apresentar fadiga ao longo do tempo devido às solicitações geradas pela ação do tráfego e do clima, sendo que o primeiro sinal de que isso está ocorrendo é o aparecimento de trincas. Se essas trincas não são seladas e tratadas, com o clico contínuo do tráfego e do clima, vão aumentando e se transformando nos buracos. (Especial para O Hoje) 

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