Alto custo da Região da 44 faz lojistas retornarem para Bernardo Sayão

Preço do aluguel atrativo na Bernardo Sayão segura postos de trabalho no segmento de moda da Capital| Foto: Wesley Costa

Postado em: 28-08-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Preço do aluguel atrativo na Bernardo Sayão segura postos de trabalho no segmento de moda da Capital| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Redução do valor dos aluguéis dos imóveis comerciais da Avenida Bernardo Sayão, no Setor Fama, salva empregos e gera novos postos de trabalho. É o que indica a Associação Comercial e Industrial da Avenida Bernardo Sayão e Região (ACIBS) que, junto com proprietários de imóveis, construiu uma estratégia para fazer com que o espaço tente voltar ao seu antigo status de grande polo de moda da Capital. Nos últimos seis meses, o local recebeu aproximadamente 600 novas lojas. Segundo a ACIBS, com o acréscimo, há pelo menos 1600 lojas na região.

O presidente da ACIBS, Cairo Myron Ramo, diz que com essa ação foi possível manter o emprego de cerca de seis mil pessoas. “Se considerarmos 600 lojistas que normalmente possuem duas pessoas na loja já equivale 1200 funcionários. Se for considerada também o serviço de confecção, chegamos a aproximadamente seis mil postos de trabalho que foram mantidos”.  Cairo diz que se o empresariado do setor quebrasse, o desemprego seria geral.

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O empresário Guilherme Augusto Policena Carvalho transferiu sua loja da Região da Rua 44 para a Avenida Bernardo Sayão na última semana. Apesar de recente, a mudança foi planejada. “A transferência foi planejada há pelo menos duas semanas antes de acontecer”, afirma. Ele ainda diz que a diminuição dos custos operacionais foi o que motivou a decisão. “Lá se paga R$ 6 mil por um espaço de cinco metros quadrados. Aqui, pago R$ 1 mil por uma loja bem maior”, defende.

A diminuição dos custos de Guilherme fez com que ele investisse em mão de obra. “Antes, era só eu e minha esposa cuidando da loja, mas como o preço de manter a loja caiu, contratei mais duas pessoas para auxiliarem nas vendas on-line”, conta o lojista. Ele garante que o custo benefício na Bernardo Sayão é bem melhor que na Região da 44. “Por causa das vendas on-line, percebi que conseguimos manter a margem de lucro, mesmo em um local com menos fluxo de pessoas”, conclui.

Marketing digital

O lojista também aplicou investimento em marketing digital. “Passei a colocar 5% da receita mensal da empresa em impulsionamentos de posts nas redes sociais e pagamento de publicidade em perfis de influenciadores e blogueiros”, disse. O empresário afirma que os resultados são garantidos. “Quando você coloca sua marca em um perfil com milhares de seguidores, vende”. Guilherme afirma que as vendas pela internet esse ano cresceram 30% em relação ao mesmo período de 2019.

O empresário também aponta a importância do trabalho dos corretores de moda para manter a venda nos negócios. “Eles têm contatos de clientes atacadistas de outras cidades e estados e geralmente essas lojas já trabalham com diversidade de marcas em suas lojas”, diz. Além disso, o trabalho dos corretores de moda contribui para diminuição de aglomerações na região.

A presidente do Sindicato dos Assessores de Moda de Goiás (Sindesgo) Lucimary Montenegro explica que o trabalho dos corretores de moda é fazer a ponte entre os polos de moda e potenciais clientes atacadistas em vários locais do país. Depois que o primeiro contato é estabelecido, as negociações podem ser feitas de forma remota. “A gente acaba tendo acesso ao cadastro pessoal e do cliente para poder criar esse vínculo, levando esse cadastro ao fornecedor para entregar ao cliente o que ele precisa”, diz.

Lucimary diz que um único corretor de moda consegue atender aproximadamente 20 clientes em apenas um único dia. Por meio do atendimento on-line é possível atender até mais clientes. “Eles podem fazer as compras sem ter que ir até as lojas, diminuindo o fluxo de pessoas nas ruas e mantendo o comércio ativo, ao mesmo tempo”, conclui.

No entanto, alerta que é necessário ter alguém em Goiânia negociando pelos revendedores e cuidando de toda a logística para realização dos trâmites de compra de um grande número de peças de diversas marcas diferente de forma remota. “Alguns desses clientes deixam até os dados dos cartões de créditos com os assessores para não ter que se arriscar com outras empresas”, declara Lucimary.

Aluguel atrativo é estratégia para segmento 

O presidente da Associação Comercial e Industrial da Avenida Bernardo Sayão e Região (ACIBS), Cairo Myron Ramo, afirma que quando a restrição de abertura do comércio começou em março, a Associação acompanhou de perto a situação dos empresários no segmento de vestuário da Capital. “Quando chegou a três meses de portas fechadas, vimos que a coisa não iria mudar e tentamos planejar uma estratégia para ajudar o segmento”, lembra.

Cairo afirma que os empresários não iriam conseguir voltar para o mercado por causa dos altos custos que estavam tendo que arcar sem que as lojas estivessem funcionando. Dessa forma, a Associação entrou em negociação com os proprietários dos 2280 imóveis comerciais da região da Avenida Bernardo Sayão para que deixassem os preços dos aluguéis mais atrativos. “Eu fui falar com os proprietários que se não houvesse flexibilização de preços, muitos empresários iriam quebrar e que essa seria [negociação] uma forma de todo mundo sair ganhando”, diz.

O diálogo entre a ACIBS e os proprietários de salas comerciais da Avenida Bernardo Sayão rendeu na diminuição do valor dos aluguéis. Em média, o preço para alugar um espaço na região varia de R$ 500 a R$ 2 mil, a depender das condições, tamanho e estrutura do local. “Os custos operacionais para ter uma loja na Bernardo Sayão diminuíram e ajudaram a fazer com que a região voltasse a concentrar lojistas do setor”, declara.

O presidente da ACIBS revela que a procura dos lojistas pelo local aumentou antes do comércio reabrir. Alguns desses comerciantes estavam pagando até R$ 7 mil de aluguel por um espaço na Região da 44 e optaram pela mudança pela diminuição dos custos operacionais. “Naquele momento não podíamos fazer nada porque o comércio estava todo fechado por causa do decreto. Por isso, os proprietários começaram a oferecer outras vantagens”, conta Cairo. Uma das propostas era oferecer carência de dois até três meses de aluguel.

Outro fator de mudança que contribuiu para a opção de transferência de lojas de vestuário da Região da 44 para Avenida Bernardo Sayão, apontada por Cairo, é o crescimento de vendas do setor por meio de e-commerce. O novo sistema de vendas foi impulsionado pelos novos hábitos no contexto de pandemia em vários segmentos do comércio. “O empresário percebeu que sua receita não depende de estar localizado no meio de um formigueiro”. (Especial para O Hoje)

 

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