Paço deixa obras de um Cmei abandonadas e 6 outras lentas

Obras se arrastam desde o início do ano, estrutura do Cmei Solar Ville está abandonado desde 2015 - Foto: Wesley Costa

Postado em: 30-09-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Obras se arrastam desde o início do ano, estrutura do Cmei Solar Ville está abandonado desde 2015 - Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Há cinco anos a construção do Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) no setor Solar Ville está abandonada. As ruínas do que poderia ser uma creche para atender o bairro carente de atenção da administração pública são constantemente usadas como descarte de resíduos, segundo moradores. 

Entretanto, a Prefeitura de Goiânia iniciou construção de dois Cmeis este mês. O Cmei Vale do Araguaia e a unidade Brisas do Cerrado. A Secretaria Municipal de Educação (SME) anunciou as construções como o início de duas obras de unidades educacionais em menos de uma semana. 

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No entanto, seis obras que estavam paralisadas em 2019, se arrastam desde fevereiro e não foram concluídas: Cmei Grande Retiro, Cmei Center Ville, Cmei Bairro Floresta, Cmei Parque Atheneu 2, Cmei Vila Santa Helena. De acordo com a SME, todas as obras estarão concluídas até dezembro.

Proprietária de uma distribuidora localizada na mesma rua onde está a obra inacabada no Solar Ville, Rosângela Maria dos Santos mora no bairro há 11 anos e revela que pouca coisa melhorou desde que chegou ao local. Ela perdeu a fé de que o bairro passe por benfeitorias. “A única coisa que a prefeitura fez no local foi roçar o mato e colocar essa cerca que já destruíram”, lamenta.

Rosângela ainda diz que o local é usado constantemente para descarte ilegal de resíduos. “Isso aqui fica cheio de lixo. Eu que cuido para não virar um lixão. Varro aqui todos os dias”, disse à reportagem. Depois de tantos anos observando a unidade de Cmei inacabada se degradar com o tempo, Rosângela não crê na conclusão das obras.

Diante da entrega de Cmeis novos em outras regiões de Goiânia pela prefeitura, a comerciante se sente consternada, faz uma análise política e afirma que não há interesse da administração municipal em acabar o que foi iniciado em outras gestões. “Eles não querem saber de terminar o que o outro fez, já estamos cansados de ver a mesma situação”, disse.

Política

De acordo com moradores da região, além da falta de benfeitorias na área de educação, o bairro não possui postos de saúde, praças públicas ou espaços de lazer. O líder comunitário Raphael Magalhães afirma que a região é historicamente privada de políticas públicas por falta de representatividade na política. “Nossa região carece muito de um representante para chamar a atenção. Vejo que nos outros lugares, onde os Cmeis estão sendo inaugurados, é porque tem a presença de um vereador, ou algum político aliado ao prefeito”, lamenta.

Raphael se sente indignado pelo abandono e descaso com o dinheiro público. “Lá está do mesmo jeito do que há cinco anos. O que me deixa mais revoltado é o anúncio da construção de creches em outros lugares enquanto esta continua inacabada. São R$ 2 milhões jogados fora”, declara.  O líder comunitário acredita que a construção de novos Cmeis com a proximidade das eleições está sendo usada como moeda eleitoreira.

 

Ministério Público já cobrou pela conclusão da unidade 

Em 2018, a prefeitura também foi alvo de recomendação do Ministério Público de Goiás que pedia esclarecimentos à população por meio de uma audiência pública com apresentação de novo cronograma da obra, para adotar medidas que protegessem o que já havia sido edificado para proporcionar vigilância e preservasse os recursos federais já empregados na obra. O município também já foi alvo de inquérito civil público para apurar a paralisação e abandono da obra com 34% de conclusão.

Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Educação respondeu por meio de nota que a obra do Cmei Solar Ville está em processo de certificação do contrato para emissão da ordem de serviço e que a retomada da obra será em breve. Em fevereiro deste ano o Jornal O Hoje publicou uma reportagem sobre o abandono da obra e a resposta da Prefeitura de Goiânia foi a mesma. Na época, a SME afirmou que a obra do Cmei Solar Ville estava em indicação orçamentária para assinatura de contrato com a empresa executora da obra.

A pasta não apresentou cronograma, data prevista para o retorno ou entrega da unidade de educação que está cada vez mais degradada pelo tempo. A Prefeitura de Goiânia nunca realizou a audiência pública requerida ou deu qualquer esclarecimento à população sobre o abandono da obra.

Abandono

O líder comunitário Raphael Magalhães também duvida que o Cmei do Solar Ville seja entregue até o fim deste ano. “O antigo prefeito iniciou a construção e desde quando o prefeito Iris Rezende tomou posse, nada foi feito”. Magalhães realiza ações comunitárias nos bairros, Park Solar, Carla Cristina Chácara São Joaquim há cerca de três anos. De acordo com ele, a região dos quatro bairros possui mais de sete mil moradores.

“A cada dia que passa tudo que foi construído ali está refém do tempo. A verba que foi investida está se perdendo. A única coisa que a prefeitura faz é dar uma podada no mato de vez em quando”. Raphael ainda diz que acredita que o custo para o retorno da obra é maior do que o início de uma nova e talvez esse seja um dos motivos para o abandono. “Nenhuma benfeitoria aconteceu no bairro há pelo menos quatro anos”, garante Raphael. “A única coisa que eles fazem aqui é a roçagem. E só de vez em quando”, lamenta. (Especial para O Hoje)

 

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