Clima seco deve comprometer próxima safra de soja em Goiás

Produtores alegam que a previsão de recorde só deve ocorrer dependendo das condições climáticas - Foto: Reprodução

Postado em: 05-10-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Produtores alegam que a previsão de recorde só deve ocorrer dependendo das condições climáticas - Foto: Reprodução

Daniell Alves

Em decorrência da seca que se instalou no Estado, poucos produtores rurais plantaram soja e aqueles que fizeram o plantio correm o risco de serem prejudicados. É o que afirma Ivan Brucelli, produtor de soja há mais de 23 anos. Atualmente a produção dele é concentrada no município de Rio Verde, a cerca de 350 quilômetros de Goiânia. 

De acordo com o novo levantamento de safras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Goiás terá aumento tanto na produção quanto na área para a próxima safra, quando comparados à passada. Para Ivan, a previsão de recorde deve ocorrer, mas está interligada às condições climáticas no Estado. “Como não houve chuvas agora no final de setembro, não teve o plantio esperado e a soja plantada a partir do dia 10 de outubro deve ser beneficiada, tendo uma maior produtividade”, afirma. 

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O calor chegou e merece atenção. “Poucas pessoas plantaram e aqueles que plantaram correm risco de perda”, revela. “Se a chuva normalizar a partir deste mês, tem a tendência de ter uma boa produção. Está tendo abertura de áreas de pastagens em locais como Bom Jardim de Goiás, Palestina, Caiapônia e Montes Claros”, explica. Estas áreas não eram destinadas à agricultura, mas se tornaram pelo mercado favorável. 

Produtividade estadua

Atualmente, Goiás é o terceiro maior produtor de soja no Brasil. Na safra 2019/2020, o Estado produziu 13,1 milhões de toneladas do grão, crescimento de 8,8% sobre a safra anterior, em uma área plantada de 3,5 milhões de hectares, segundo dados da Conab. A produtividade na última safra foi de 3.712 quilos por hectare e representou aumento de 6,7% em relação à de 2018/2019. A abertura regional do plantio de soja foi realizado no último dia 29, em Cristalina.

Espera-se que a soja e o milho aumentem as áreas. Essas duas culturas são responsáveis por 99% da nossa área de safra verão, afirma o Coordenador Institucional da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (IFAG), Leonardo Machado. “O grande motivador é o mercado, que está bastante favorável. O produtor pode ter um acréscimo de produção, que depende das condições climáticas”, ressalta. 

Clima 

Na última semana de setembro houve chuva leve em algumas regiões, mas não foi suficiente para o plantio. “O produtor está esperando o reinício das chuvas para dar um novo gás e iniciar o plantio. O que podemos esperar neste momento é apenas a plantação em área irrigada”, informa o coordenador. 

Sobre a questão da onda de calor, ele explica que só iria interferir no processo de produção caso os produtores já tivessem plantado. “Como não plantou então o calor não deve interferir tanto. Após o início das chuvas, a temperatura pode aumentar, principalmente a do solo, que impacta diretamente na germinação da semente. Com o início da oferta desses produtos, a tendência é que o preço seja reduzido”, finaliza. 

Os próximos dias serão bastante secos em Goiás, apontam os mapas climáticos, com pluviosidade acumulada inferior a 20 milímetros. Para uma semeadura segura, o solo requer pelo menos 50 a 60 mm de umidade se houver previsão de continuar chovendo ou 100 mm acumulados com alguns dias de intervalo entre as precipitações. Por isso, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja) alerta que os produtores precisam se atentar às previsões para não iniciar o plantio com pouca umidade no solo.

“Às vezes o produtor se empolga com essas primeiras chuvas, planta e depois tem que replantar, levando a sua renda para a média dos outros anos. Temos que aproveitar um ano bom como esse para fazer a coisas corretas e garantir rentabilidade”, destaca o presidente da Aprosoja, Adriano Barzotto. “Pelas previsões, a gente sabe que até o dia 10 de outubro vamos ter um pequeno veranico, mas a partir da segunda dezena de outubro as chuvas retornarão e todos os produtores poderão dar largada aos seus plantios com segurança.”

Mais de 60% da safra já foi comercializada 

De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária (Faeg), a safra 2020/21 começou com excelentes perspectivas de mercado e a possibilidade de cerca de 60% da produção já comprometida com a comercialização, estima o consultores em agronegócio. As vendas da nova safra se adiantaram bastante e ultrapassaram a casa dos 60%. Em regiões como Mato Grosso, Goiás e MATOPIBA, por exemplo, os índices já chegam a 60%.

Dessa forma, os produtores de áreas que colhem mais cedo – até mesmo em janeiro – chegarão a um mercado esvaziado, com prêmios bastante elevados e que poderão estimular a venda. Estima-se para março um percentual da safra vendida ainda maior e um segundo semestre de 2021, mais uma vez, de escassez.

A vantagem cambial e prêmios altos, inclusive, já são esperados também para o início do próximo ano, complementando o ambiente favorável para a comercialização além da demanda muito aquecida. A China vem concentrando boa parte de suas compras da oleaginosa nos Estados Unidos neste momento, dada a oferta escassa no Brasil neste momento. E a tendência é de que a nação asiática se volte ao mercado brasileiro na medida em que a produção da nova temporada comece a se mostrar disponível.

Se os preços estarão mais altos do que hoje dependerá de onde estará o câmbio. E assim como se deu em 2020, a força da demanda interna também dará impulso às cotações em 2021. A busca pelo farelo de soja pelo setor de proteínas deve seguir bastante aquecida, bem como pelo óleo no setor de biodiesel, onde a mistura de óleo de soja no óleo diesel pode chegar aos 13%.

Semeadura

Com o fim do vazio sanitário da soja, no dia 24 de setembro, os produtores foram autorizados a iniciar a semeadura da safra de verão no Estado. Cristalina foi o município escolhido para abertura oficial do plantio da cultura em Goiás devido ao seu potencial de produção e aos investimentos de produtores na região.

De forma geral, o plantio de soja nesta safra deve ocorrer em ritmo melhor do que foi em 2019/20, mas não tão rápido como em 2018/19, que registrou a semeadura mais precoce dos últimos anos em Goiás e no Brasil como um todo, conta o consultor técnico da Aprosoja, Cristiano Palavro. “Por enquanto, os mapas mostram chuvas chegando não tão cedo, mas ainda não há preocupação extrema no radar. A princípio, vamos ter um clima favorável para a safra de verão”, afirma.

Segundo Palavro, as previsões climáticas indicam a ocorrência do fenômeno La Niña neste ciclo produtivo, o que costuma ser positivo. “Na safra de verão, isso não representa risco para o Centro-Oeste brasileiro; geralmente anos que têm La Niña são anos bons para essa região. O risco maior desse fenômeno no verão fica para o Sul do País e, depois, também pode haver algum impacto do La Niña sobre a nossa safrinha de milho”, explica o consultor técnico. (Especial para O Hoje)

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