Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Região Noroeste de Goiânia tem 5 mil moradores sem Saúde da Família

Moradores denunciam falta de médicos e infraestrutura básica de saúde - Foto: Wesley Costa

Postado em: 20-10-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Região Noroeste de Goiânia tem 5 mil moradores sem Saúde da Família
Moradores denunciam falta de médicos e infraestrutura básica de saúde - Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

O Centro de Saúde da Família (CSF) da Vila Mutirão foi reformado no último ano e mesmo assim os moradores da região denunciam falta de médicos e medicamentos na rede municipal de saúde, além da falta de infraestrutura do prédio. Aproximadamente 5 mil pessoas estão sem assistência de saúde básica da família na região Noroeste da Capital.

Membro do Conselho Municipal de Saúde há oito anos, Raimundo Lino dos Santos, fica indignado com a reforma feita na unidade de saúde no último ano. “Foi dinheiro jogado fora. Quando chove, o CSF da Vila Mutirão enche de água, mesmo depois que a Prefeitura de Goiânia fez essa reforma mal feita. Quero saber para onde foi essa verba toda”. Raimundo ainda afirma que além dos problemas estruturais, o Centro de Saúde da Família da Vila Mutirão sofre com a falta de médicos e medicamentos.

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Raimundo diz que não é apenas o Programa da Saúde da Família que está em más condições na região Noroeste. Ele reclama que a saúde pública, de forma geral, deixa muito a desejar na região. “As Unidades de Pronto Atendimento (UPA) estão um caos sem médico. Falta tudo, remédio não estão dando mais, principalmente de saúde mental”.

Procurada pela equipe de reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) respondeu por meio de nota que a região Noroeste conta com 14 unidades de saúde e 54 equipes de saúde da família e que o Centro de Saúde da Família da Vila Mutirão passou por uma reforma há cerca de um ano. De acordo com dados da densidade demográfica de Goiânia deste ano, fornecidos à equipe do jornal O Hoje pela Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh), a região tem uma população estimada em aproximadamente 190 mil habitantes.

Cobertura

Sendo a quinta região mais populosa do município, possui a cobertura de menos de 30% das equipes de saúde da família disponíveis para toda a cidade. Segundo o Ministério da Saúde, na cobertura ideal do Programa de Saúde da Família – 100% de cobertura – cada equipe deve atender em média 3,5 mil pessoas. Pela quantidade de equipes de saúde de família que a Prefeitura de Goiânia alega atuar na região Noroeste, o programa deveria atender 90% da população.

Raimundo, membro do Conselho Municipal de Saúde, duvida dos números apresentados pela administração do município. “Se tivesse esse tanto de médico que eles estão dizendo nas unidades de saúde, a população não passaria por tantos problemas. Quem depende do sistema de saúde municipal, sabe que é difícil achar médicos. Tem alguma coisa errada”, afirma.

Aparências enganam

Por fora, o CSF da Vila Mutirão está com pintura nova, mas de acordo com Dione Perpétua, moradora do bairro Jardim Liberdade há 35 anos, o atendimento da unidade de saúde é péssimo. “Por fora o prédio está bonito, mas por dentro é só sofrimento”, lamenta. Ela ainda diz que para conseguir ser atendimento na unidade de saúde tem que chegar de madrugada. “Chegar 5h e rezo para ter um médico para me atender”, denuncia.

Dione também afirma que a falta de assistência à saúde é generalizado na região Noroeste. “Aqui a gente precisa de tudo: médico, medicamento, psicólogo. Quem depende da saúde municipal sofre”, denuncia. A moradora do Jardim Liberdade diz que sua mãe tem problemas no coração e já teve que perambular de unidade em unidade de saúde à procura de médicos.

Ela revela que quando chegou ao bairro Jardim Liberdade, não havia asfalto ou luz. “Eu vi toda região Noroeste, crescer e se desenvolver, chegou asfalto, chegou luz, veio muita gente para morar, mas o atendimento à saúde sempre foi e continua sendo péssimo”, diz. 

Mais da metade da população sem saúde da família 

Mais da metade da população da Capital não recebe cobertura de atenção primária à saúde (APS), prestada pelas equipes de saúde da família. Apenas 49% dos habitantes de Goiânia são atendidos nessa modalidade. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), a cobertura ideal seria de 100% da população com a capacidade de cada equipe de Estratégia da Saúde da Família (ESF) de atender, em média, 3,5 mil pessoas.  Atualmente, a Capital conta com 193 equipes ESF que atuam em 59 Unidades Básicas de Saúde. O déficit chega a 1,406 profissionais.

O dado exclusivo foi estimado a partir do cálculo feito pelo Jornal O Hoje por meio da metodologia de produção de indicadores de saúde orientados pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). A fórmula matemática leva em consideração a média da cobertura feita pelas 193 ESFs em relação ao número de habitantes de Goiânia, estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1.560 milhão de pessoas em 2019.

A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é composta por equipe multiprofissional que possui, no mínimo, médico generalista ou especialista em saúde da família ou médico de família e comunidade, enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACS). Agentes comunitários de saúde são profissionais ligados à atenção primária que atuam dentro da comunidade, monitorando a saúde da população local e levando essas demandas para as unidades de saúde.

A médica especialista em medicina da família da Secretaria Municipal de Saúde, Denise Vaz explica que a atenção primária é a porta de entrada da população aos serviços de saúde. “Na atenção primária é possível resolver 90% dos problemas de saúde dos cidadãos”. A médica afirma que se a quantidade de profissionais for reduzida ou alguma unidade fechada resulta em perda do acesso da população a saúde pública.

Para Flaviana Alves, o déficit de atendimento em APS prejudica qualidade do serviço de toda cadeia da Saúde Pública, pois atua na medicina preventiva, promoção e proteção à saúde e gera economia em tratamento e procedimentos médicos. Um estudo realizado em 34 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que para cada dólar investido em prevenção de saúde são economizados três dólares. (Especial para O Hoje)

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