Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Condições climáticas e pragas reduziram produção de uvas em Goiás

Festas de fim de ano já começaram a movimentar o mercado das uvas e haverá uma grande demanda, acreditam produtores | Foto: Wesley Costa.

Postado em: 26-10-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Festas de fim de ano já começaram a movimentar o mercado das uvas e haverá uma grande demanda, acreditam produtores | Foto: Wesley Costa.

Daniell Alves 

Mesmo produzindo uma uva diferenciada, chamada de ‘uva do Cerrado’, Goiás teve queda no rendimento médio de produção com redução de 6,7%. Entre os anos de 2018 e 2019 a redução foi de cerca de 7 toneladas. As informações são do coordenador técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG), Alexandro Alves. Neste ano, a expectativa é de recuperação, mas sem grandes mudanças em função do período de pandemia que prejudicou a comercialização. 

Entre os fatores que explicam essa queda estão as condições climáticas, que prejudicaram a cultura, além de alguns problemas fitossanitários como pragas. Segundo o coordenador, isto resultou em uma pequena queda na produtividade, impactando a produção total, apesar da área ter aumentado em 6%.

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Nos últimos anos Goiás tem se destacado no Centro-Oeste brasileiro com a produção de uvas. “Em sabor e qualidades peculiares, chegam mesmo a bater as uvas da famosa serra gaúcha. Porém, infelizmente, como é uma cultura a céu aberto, está sujeita às intempéries climáticas e foi exatamente isso que aconteceu em 2019”, explica Alexandro. 

Entretanto, as festas de fim de ano já começaram a movimentar o mercado e haverá uma grande demanda por frutos frescos e derivados (sucos e vinhos). Desse modo, o setor no Estado deve se recuperar um pouco dos prejuízos de 2018 e agora em 2020 com a pandemia. “Goiás tem uma particularidade interessante para a produção da fruta. Possuindo alto valor agregado mesmo no fruto fresco e de grande aceitação pelo consumidor, há cada vez mais o interesse pelo cultivo da fruta e, sem dúvida, Goiás continuará crescendo”, ressalta. 

O crescimento não deve ocorrer em ritmo acelerado como de outras culturas, já que a implantação de um hectare chega a custar mais de R$ 50 mil com toda estrutura necessária. “Não é um negócio para amadores, mas para profissionais e produtores qualificados”, frisa. 

Em Goiás, as condições edafoclimáticas (solo e clima) e uma logística favorável para grandes centros consumidores, favorecem e incentivam cada vez mais produtores e empresários interessados na cultura. A abundância de áreas propícias e água também contam como fator positivo, afirma Alexandro. 

Pioneirismo 

A Vinícola Goiás, localizada no município de Itaberaí, é pioneira em produção de suco de uva integral no Estado. Em meados de 1998, o patriarca e fundador da Vinícola Goiás Danilo Razia, sua esposa, Vanilda Padilha Razia, e toda sua família chegaram ao município de Itaberaí com o propósito de transformar a paisagem do Cerrado; capim, cupins e galhos secos e retorcidos deram lugar a belíssimos vinhedos que hoje estão em plena produção. 

O filho do casal, Anir Razia, teve contato com a produção há cerca de 20 anos. Ele explica que a comercialização do produto é feita internamente na região Centro-Oeste, e externamente, para as regiões Nordeste e Norte do Brasil. “A nossa produção aqui é destinada ao comércio in natura, a produção de suco de uvas integral, vinho e poupa de uva”, ressalta. 

A vinícola da família, por causa da uva e da produção de vinho, se transformou até em ponto turístico da região. Atualmente recebe visitantes de inúmeras regiões do Brasil. A atividade da produção nessas cidades têm gerado renda e emprego. O produtor conta que, no quesito trabalho, por ser uma fruta que necessita de mais cuidados, se identifica mais com a atuação de mulheres.  

Projeto fortalece a vitivinicultura no Estado 

Goiás pode estar caminhando no sentido de fortalecimento de um arranjo produtivo relacionado com a vitivinicultura, que é a atividade relacionada com a produção de uvas e vinhos e de sua exploração econômica. Experiência nesse sentido vem sendo desenvolvida, por exemplo, no município de Ipameri, na região Sudeste do Estado, a partir da Unidade Universitária da Universidade Estadual de Goiás (UEG) naquela cidade.

Para o professor Valter Campos, o êxito da experiência em Ipameri mostra que a produção de uvas e vinhos pode muito bem ocorrer no Cerrado com o manejo adequado. “É um novo campo de possibilidades que se abre para o nosso Estado e para os produtores. Saber que podemos produzir uvas e vinho de qualidade aqui é significativo. Mas é importante caminhar no sentido de incentivar e fomentar a atividade, inclusive a pesquisa que tem sido desenvolvida pela UEG e ampliar esse trabalho”, disse.

O coordenador da UnU Ipameri, professor Roberli Ribeiro Guimaraes, apresentou na última semana o trabalho de plantio de uvas viníferas e fabricação de vinhos desenvolvido na unidade, que se destaca pela alta qualidade das frutas produzidas, similares às das melhores regiões produtoras do mundo. De acordo com ele, a evolução dos plantios na fazenda já levou à criação de um programa de extensão com oferta de curso de produção de uvas para agricultores familiares, já tendo sido qualificados mais de 120 produtores desde 2017.

Pesquisas 

Com o projeto, o objetivo da UEG é utilizar a estrutura estabelecida na fazenda experimental para atividades de graduação, para o desenvolvimento de pesquisas e para a manutenção de programas de extensão rural, fomentando o cultivo regional como alternativa rentável para agricultura familiar.

O secretário de Cultura de Goiás, Adriano Baldy, afirmou que o projeto tem todos os requisitos básicos para ter sucesso: o envolvimento da academia, do governo e da iniciativa privada. “Já vimos projetos dentro da academia que não vingaram porque não incluíam a área privada, que realmente vai movimentar o recurso, e o governo. Essas três hélices, em conjunto, são básicas para o sucesso”, explica. 

Tendo em vista este potencial regional e o momento de expansão da viticultura em Goiás, a UEG está, desde 2011, fazendo o plantio de diferentes cultivares de uva na Fazenda Experimental da Unidade Universitária de Ipameri, Câmpus Sudeste, para o estudo de seu comportamento.

Além do trabalho com a produção vinícola, a Fazenda Experimental da UnU Ipameri ainda abriga diversos projetos de pesquisas relacionados à produção de soja, produção de cevada, manejo do solo, irrigação, processamento de vegetais, frutas nativas do Cerrado, plantas medicinais e programas de extensão como o Dia de Campo, que busca divulgar novas tecnologias para a cultura da soja, milho e o ILPF. (Especial para O Hoje)

 

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