Recapeamento é prioridade, mas ruas de Goiânia ficam sem asfalto

Iris Rezende prometeu que até o fim de seu mandato todas as ruas estariam asfaltadas - Foto: Wesley Costa

Postado em: 27-10-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Iris Rezende prometeu que até o fim de seu mandato todas as ruas estariam asfaltadas - Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Há mais de uma década aguardando asfalto, o setor Residencial Mundo Novo está fora da lista dos 28 bairros que estão sendo pavimentados pela Prefeitura de Goiânia. Iris Rezende prometeu que até o fim de seu mandato todas as ruas da Capital estariam asfaltadas. Enquanto isso, a administração do município está movendo frentes de serviço para recapear e pavimentar mais de 600 quilômetros de vias públicas, mas priorizou recapeamento.

A menos de dois meses para o término da atual gestão, a Capital tem bairros que ainda não foram pavimentados. A equipe do jornal O Hoje questionou a Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra) quantos bairros estão fora da lista apresentada que constam 28 bairros a serem pavimentados sob a responsabilidade da pasta. No entanto, não houve respostas até o fechamento da reportagem.

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Morador do bairro há 11 anos, Júlio Guedes denuncia que a promessa de asfalto é sazonal. “Todo ano de política [eleitoral], eles falam que vão asfaltar o bairro. Agora, os bairros vizinhos começaram a ser asfaltados, mas aqui não apareceu nenhuma máquina ainda”, lamenta.

Nos bairros mais próximos à região central da cidade, o recapeamento do asfalto está sendo feito, como é o caso da Avenida Bela Vista, no Parque Atheneu ou já foram concluídos, como é o caso da Avenida 136, no Setor Marista. A conselheira titular do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), arquiteta e urbanista, Maria Ester de Sousa, afirma que as frentes de serviço de recapeamento em todas as cidades deveriam ser feitas como serviços de reparos constantes nas vias.

No entanto, segundo ela, o que acontece em Goiânia é que essas obras são feitas como publicidade da gestão da administração pública, principalmente quando são feitas às vésperas da eleição. “O que existe é uma indústria da construção civil que é colocada para girar com a contratação de empresas para executar os serviços de recapeamento e pavimentação de Goiânia”, declara. Ela ainda afirma que o recapeamento é priorizado porque dá maior margem de lucro às empresas contratadas do que a pavimentação de locais onde não existe asfalto ainda.

O mesmo contrato licitatório que prevê a execução do recapeamento também prevê a pavimentação de ruas que ainda não foram asfaltadas. A licitação para execução do serviço é de 2019 e vários termos aditivos de contrato já foram inseridos desde então. O custo das obras ultrapassa R$ 4 milhões que devem ser aplicados em serviços por mais de 600 quilômetros de vias da Capital.

Modelo defasado

A urbanista questiona também o porquê da insistência na utilização de modelos de pavimentação da década de 1970, quando já existem novas tecnologias de drenagem e pavimentação que poderiam melhorar a qualidade do asfaltamento e alongar sua vida útil nas vias da cidade, necessitando de menos custos de manutenção. “Temos pelo menos uma dúzia de tecnologias para aplicar em novas pavimentações, mas se repete o mesmo modelo que é aplicado há décadas. As pessoas e empresas envolvidas nas contratações são as mesmas daquela época”, defende.

 Asfalto permeável pode ser solução para enchentes 

Uma tecnologia que pode solucionar os problemas de permeabilidade no asfalto e evitar buracos, enchentes e alagamentos foi desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP). O professor José Rodolpho Martins, do Departamento de Hidráulica da USP afirma que o principal objetivo da novidade é absorver a água da chuva no revestimento da pavimentação que se usa nas ruas, nos loteamentos, condomínios e estacionamentos. Dessa forma, o pavimento deve permitir que a água possa ser armazenada na parte inferior das camadas de asfalto.

O modelo tradicional de pavimentação realizado em todo País é feito da mesma forma. Inicia-se por cima, com um segmento de cinco centímetros de largura compostas por pequenas pedras, unidas pelo asfalto. Essa camada precisa ser bastante resistente, o suficiente para que o fluxo de veículos, inclusive de ônibus e caminhões pesados ocorra sem que qualquer pedaço se solte.

A segunda camada de pavimentação, que vem logo abaixo deve ser mais espessa e sua principal composição é de brita, rochas maiores do que da primeira camada. Essa base tem muitos espaços vazios, que poderiam funcionar como um reservatório. No entanto, a superfície não poderia deixar a água passar, sem se tornar um piso frágil, quebradiço com o tráfego de veículos.

Dessa forma, o Laboratório de Tecnologia de Pavimentação da USP, ligado à Engenharia de Transportes, produziu diferentes pisos para a pesquisa fazendo a união de pedras, cal e asfalto, que serve de liga na mistura. Os pisos asfálticos passaram por testes sequenciais e o mais eficiente deles foi aprimorado em ligas novas. Desse processo, surgiu a camada porosa de asfalto (CPA).

O asfalto absorvente é composto com pedras maiores, para que haja vazios entre elas. O projeto do novo tipo de pavimentação prevê até 25% de lacunas para a água infiltrar. Quando comparado com uma amostra de asfalto comum, que é mais compacto, praticamente não há espaço entre as pedras. De acordo com o professor José Rodolpho, aos poucos, em cada obra de recapeamento que fosse feita nas grandes cidades, o asfalto convencional poderia ser trocado pelo poroso.

Na conclusão de monografia escrita pela bacharela em Engenharia Civil, Mariana Aparecida Gouveia, apresentada na graduação do curso de Engenharia Civil do Instituto Federal Goiano (IFG) de Rio Verde, intitulada Asfalto Drenante: proporções granulométricas e aplicabilidade, aponta a dificuldade de implantação reconstruir toda malha rodoviária e pavimentação asfáltica.

No entanto, o estudo aponta que há outros meios se beneficiar do pavimento permeável. Ele pode ser usado como matéria prima dos elementos componentes do sistema de drenagem como em sarjetas, meios-fios, camadas drenantes, caixas coletoras, bueiros e outros. (Especial para O Hoje) 

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