Quase 80% das pontes de Goiânia têm problemas estruturais

Em 48 delas há corrosão de armadura, em 42, 62%; elementos funcionais danificados, em 39, 57% - Foto: Wesley Costa

Postado em: 28-10-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Em 48 delas há corrosão de armadura, em 42, 62%; elementos funcionais danificados, em 39, 57% - Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Quase 80% das pontes e viadutos de Goiânia possuem sérios problemas estruturais com alto grau de deterioração. Diagnóstico revela que nas 68 estruturas analisadas foram identificadas 230 ocorrências de manifestações patológicas. Em 53, 78% do total, há manchas de umidade; seguida de lixiviações de concreto. Também foram verificados segregação do concreto em 24 obras, 35%; fissuras, em 16, 24%; e encontros danificados em 8, 12%. Todos esses problemas, relacionados à falta ou inoperância do sistema de drenagem, desencadeiam processos de corrosão.

As informações constam de um amplo levantamento realizado no ano passado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea), à Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e ao Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Estado de Goiás (Ibape). A ponte da Avenida T-63, sobre o Córrego Cascavel, aparece como a mais degradada das 68 obras de arte especiais (OAEs) analisadas, oferecendo riscos à população.

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Com a chegada das chuvas esse número precisará ser atualizado. A ponte localizada na Avenida B, no Setor Jardim das Oliveiras, por exemplo, é uma das que contribuirão para essa atualização. A infraestrutura precária da ponte já foi alvo de denúncias pelos moradores, mas a Prefeitura de Goiânia executou apenas medidas paliativas na estrutura. Em época de chuva, o local sofre com enchentes do Córrego São José. A obra de engenharia apresenta fissuras e está com as manilhas de drenagem de águas pluviais rachadas e desalinhadas do eixo da ponte.

Ponte sobre o Córrego São José localizada na Estrada B, entre o Residencial São Marcos e o Setor Jardim das Oliveiras em Goiânia. A ponte dá acesso a vários setores como Jardim das Oliveiras, Residencial São Marcos, Carolina Park, De la Peña, Buena Vista e tem intenso tráfego de veículos.

A ponte apresenta fissuras em sua estrutura e está com as manilhas de drenagem de água pluviais rachadas e desalinhadas do eixo da ponte. A Prefeitura de Goiânia realizou trabalho paliativo no local, com depósito de rochas e cimento em uma das margens do córrego. No entanto, o trabalho já começou a se desfazer com as últimas chuvas.

Cristiano Lima da Cruz passa todos os dias pela ponte da Avenida B e sente medo. “Todos os dias tenho que passar de moto por essa ponte e fico nervoso porque ela pode cair a qualquer momento”, afirma. Cristiano ainda diz que a situação permanece a mesma há vários anos. “Com o tempo ela vai ficando pior, mas acho que não aguenta mais essa temporada de chuvas”, lamenta.

O motociclista afirma que o local sofre com enchentes frequentes na época das chuvas. “Todo ano a água do córrego passa por cima da ponte e vai levando tudo. Quando está desse jeito, a única forma de passar pela ponte é estacionar o veículo e esperar o temporal passar”, declara.

A equipe de reportagem tentou contato com a Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos de Goiânia (Seinfra), a pasta alegou que já está trabalhando para reparar os problemas na ponte.

Pontes danificadas

Entre o fim de 2019 e início de 2020, duas pontes foram danificadas pelas fortes chuvas em Goiânia. Os danos aconteceram na ponte sobre o Córrego Taquaral, na Avenida Padre Monte, no Bairro Goiá e Goiânia Viva e a ponte – que chegou a ceder – sobre o Córrego Caveirinha, na Avenida dos Pioneiros (Avenida C), no Setor Recreio Panorama. A Prefeitura de Goiânia reparou a ponte sobre o Córrego Caveirinha e refez a ponte sobre o Córrego Taquaral. Ambas tiveram o trânsito liberado em agosto.

A ponte que desabou no Bairro Goiá e Goiânia Viva foi construída com tabuleiro apoiado sobre o córrego Taquaral.  Com a força da chuva, as fundações dos encontros foram solapadas no dia 21 de janeiro e o dano fez com que parte do tabuleiro desabasse e comprometesse toda estrutura da ponte que inviabilizou sua recuperação.

Córrego Taquaral

A nova estrutura foi projetada para conseguir aguentar às cotas de inundação atuais e futuras. Com a construção da ponte, também foi refeita as galerias de águas pluviais, estrutura de lançamento, passarela para pedestre nas laterais e guarda-corpos dos dois lados. A obra foi iniciada no dia 15 de abril, sob processo licitatório emergencial com valor de R$ R$ 3.362.327,98, e foi concluída 120 dias depois.

Córrego Caveirinha

As obras de construção da ponte sobre o Córrego Caveirinha, na Avenida dos Pioneiros (Avenida C), Receio Panorama, também foi concluída e está com o trânsito liberado desde agosto. A estrutura foi projetada para atender à cota atual e futura de inundação, com o tabuleiro e o greide elevados a 1,25 metros acima do que existia.

O local foi danificado durante os temporais ocorridos no final do ano passado e início deste ano. As obras foram iniciadas no dia 13 de abril, também via processo licitatório emergencial, orçada em mais de R$ 1,7 milhão. O tempo de serviço foi de 120 dias. Foi necessário serviço de drenagem superficial. Ao todo, foram construídas uma ponte de 26,13 metros de extensão, uma passarela para pedestre e guarda-corpo de 1,20 de altura de um lado da pista e do outro o guarda-rodas de concreto.

Relatório analisa infraestrutura de mais de 50 pontes  

Em março de 2019, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea) apresentou o Relatório de Vistoria das Obras de Arte Especiais (OAEs) de Goiânia 2019. A ação foi destinada à realização de vistorias em pontes e viadutos – definidas como Obras de Artes Especiais (OAE) – da Capital, com base na norma ABNT NBR 9452:2016, que descreve uma metodologia para classificar o estado de conservação das estruturas.

No total, foram vistoriadas 51 pontes e 17 viadutos pelo grupo multidisciplinar do Crea. A ideia foi estabelecer critérios de priorização para intervenções corretivas, objetivando elevar a vida útil das estruturas, garantir sua estabilidade estrutural e segurança para seus usuários, além de minimizar custos destinados à reabilitação de OAE’s.

O trabalho foi coordenado pelo conselheiro regional e engenheiro civil, Ricardo Barbosa Ferreira e pela coordenadora de Planejamento e Qualidade do Crea-GO e engenheira civil, Rosana de Melo Brandão.

A ação foi executada por um grupo multidisciplinar de engenharia colaborativa, composto por profissionais do Crea, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Estado de Goiás (Ibape) e consultores independentes, a convite do Conselho.

Para classificação de priorização de intervenções das pontes e viadutos, foram consideradas manifestações patológicas das OAEs. No relatório emitido pelo Crea, essas manifestações são identificadas como: encontros danificados, fissuras, segregação, elementos danificados, corrosão de armadura, lixiviação e manchas de umidade. (Especial para O Hoje)

 

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