Veículos são ‘abandonados’ em pátio de área pública

Muitos veículos chegam ao local em bom estado, mas logo são depredados e transformados em carcaças | Foto: Wesley Costa

Postado em: 27-11-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Veículos são ‘abandonados’ em pátio de área pública
Muitos veículos chegam ao local em bom estado, mas logo são depredados e transformados em carcaças | Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Cerca de 100 veículos compõem um cemitério de carros em uma área pública em Senador Canedo, no Conjunto Morada do Morro. Alguns veículos fazem parte da frota da Polícia Civil, outros são oriundos de municípios vizinhos e da Capital. Os carros são alvos frequentes de depredação para retirada de peças. De acordo com moradores da região, muitos veículos chegaram ao local em bom estado, mas logo são depredados e transformados em carcaças que, na época da chuva, contribuem para proliferação do mosquito da dengue.

Sebastião Antônio mora ao lado da área há 24 anos, mas afirma que de um ano para cá os carros começaram a ser abandonados pela Polícia Civil no local. “Quase todos os meses vem àqueles caminhões grandes da PC e deixam os carros aqui”. Sebastião também é proprietário de uma distribuidora de bebidas no local. “Vejo o abandono desses carros como um desperdício porque todos eles poderiam estar sendo leiloados”, lamenta.

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Dengue

Outra reclamação é o perigo da proliferação do mosquito da dengue em época de chuva. “Eu já peguei dengue duas vezes. As carcaças desses carros são perigosas porque juntam água da chuva e se transformam em criadouros de mosquitos”, reclama.

De acordo com o Núcleo de Controle de Vetores do município de Senador Canedo que é responsável pelas ações no combate ao Aedes aegypti, o trabalho de eliminação e tratamento contra o mosquito da dengue é feito no local dos carros abandonados a cada 15 dias. 

O Núcleo de Controle de Vetores ainda afirma que o problema de focos de mosquito da dengue causados pelos carros abandonados na área pública é recorrente e antigo, mas nenhuma providência foi tomada pelas forças de segurança pública ou pela Prefeitura de Senador Canedo.

A assessoria de comunicação da prefeitura informou por meio de nota que a área pública onde os carros estão abandonados pertence à Universidade Estadual de Goiás (UEG) e está sendo utilizada como pátio de carros pela Polícia Civil do Estado de Goiás. A reportagem entrou em contato com a Universidade Estadual de Goiás e com a assessoria de comunicação da Polícia Civil, mas não obteve respostas até o fechamento da reportagem.

Incêndio

Dezenas de carros foram incendiados no pátio usado pela Polícia Civil há alguns meses. “Um senhor que mora aqui na rua ateou fogo no mato seco que logo espalhou para os veículos, houve várias explosões”, relata Sebastião. O proprietário da distribuidora de bebidas também afirma que o fogo deu muito trabalho para o Corpo de Bombeiros. “Foram mais de seis horas para apagar as chamas”, lembra.

Antônio não ficou com medo de o fogo atingir sua casa, mas relata que as explosões poderiam ser perigosas para os moradores por causa do lançamento dos estilhaços. (Especial para O Hoje)

Projeto estabelece logística reversa de veículos usados 

Um projeto apresentado pelo senador Confúcio Moura (MDB-RO) cria uma política nacional de reciclagem dos veículos usados (PL 4.121/2020). Para o senador, a quantidade de veículos que deixam de circular e são abandonados gera um grande prejuízo ao meio ambiente e à saúde da população.

Confúcio defende que os fabricantes e importadores de veículos novos sejam obrigados a fazer a logística reversa, tornando-se responsáveis também pelo encaminhamento à reciclagem dos resíduos automotivos e dos veículos sem condições de circulação.

“Este projeto pretende assegurar o controle, a preservação e a melhoria das condições do meio ambiente, por meio do tratamento dos resíduos sólidos e carcaças abandonadas de veículos ao término de sua vida útil. Ao mesmo tempo gera benefícios econômicos sem ônus ao poder público, com fundamento no princípio da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos”, justifica o senador.

Ao contrário do que ocorre em países como Estados Unidos, Japão, Argentina e os membros da União Europeia, no Brasil não existe uma política de reciclagem de veículos e não há dados sobre o número de veículos desativados ou com registro baixado a cada ano.

O estudo Brasil pós Covid-19, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), propõe a criação de uma indústria de reciclagem automotiva como forma de ajudar na recuperação da economia nacional após o impacto da pandemia. Nos EUA essa indústria já movimenta cerca de US$ 25 bilhões por ano e emprega cerca de 100 mil pessoas. Estima-se que o Brasil tenha potencial para atingir 30% desse valor, US$ 7,5 bilhões, aproximadamente R$ 40 bilhões, em um ou dois anos.

Confúcio explica que no atual cenário, esses milhões de veículos sucateados representam um sério problema ambiental e de saúde pública. “As carcaças de carros fora de circulação se acumulam nas ruas, nos estacionamentos públicos, nas áreas rurais, em pátios de órgãos públicos, em desmanches clandestinos e até em rios, lagoas e baías.

“Juntam água de chuva, servem de criadouros para insetos transmissores de doenças e outros animais nocivos, contaminam o solo e os corpos d’água”, exemplifica. O projeto altera a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305, de 2010) e o Programa de Apoio à Produção de Veículo Automotores (Rota 2030 – Lei 13.755, de 2018). A proposta está com prazo aberto para apresentação de emendas e aguarda a nomeação de relator. (Agência Senado)

  

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