Empresários querem que Centro vire shopping a céu aberto

Projeto de revitalização da região central exclui quiosques antigos e trabalhadores informais - Foto: Igor Caldas

Postado em: 04-12-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Projeto de revitalização da região central exclui quiosques antigos e trabalhadores informais - Foto: Igor Caldas

Igor Caldas

Representantes dos comerciantes e indústrias do Centro de Goiânia querem privatizar a gestão dos espaços públicos da região para transformá-lo em um shopping a céu aberto e no principal polo tecnológico da cidade. A iniciativa não inclui trabalhadores informais que ganham a vida como camelôs nas calçadas e pretende mudar a configuração dos quiosques e bancas que já existem na região central. Tudo seria controlado por um comitê liderado pela iniciativa privada que estabeleceria os critérios para disposição de novas bancas e quiosques.

O projeto prevê que a gestão das calçadas de toda região central seja feita de forma privada. Em contrapartida, as empresas particulares seriam responsáveis pela instalação de câmeras com reconhecimento facial, estações de Wi-Fi, lâmpadas e telas de grande dimensão de LED para uso de publicidade, totens digitais e outras intervenções. A gestão do espaço público do centro seria feita por um comitê liderado pela iniciativa privada.

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A Associação Comercial e Industrial do Centro de Goiânia (ACIC) apresentou o projeto ao Secretário da Indústria, Comércio e Serviços do Estado de Goiás, Adonídio Neto Vieira, na última terça-feira (1º). O projeto também foi encaminhado como proposta para a atual gestão da Prefeitura de Goiânia. “Como essa gestão está no fim, vamos conversar com a equipe de transição de governo para reforçar”, afirma Uilson Manzan, presidente da ACIC.

Quiosques

Uilson afirma que a permanência dos quiosques e bancas que já existem no Centro da cidade não estaria necessariamente garantida na conformação do projeto. A gestão liderada por empresários faria liberação de quiosques e bancas que mantivessem certo distanciamento das lojas e se adequassem ao padrão e critérios estipulados pelo comitê. Os interessados em abrir quiosques e bancas padronizados teriam que responder a um chamamento público.

“Os empresários que quisessem manter esses quiosques pagariam um preço público aos comitês e esse valor seria revertido para a limpeza, conservação e manutenção da estrutura tecnológica”, declara Uilson. O presidente da ACIC diz que os quiosques como estão dispostos hoje no Centro não se adéquam a proposta. “Queremos algo mais no estilo Art déco, tudo padronizado”.

Ambulantes

A presença de centenas de trabalhadores informais que tiram o sustento como camelôs nas ruas do Centro da cidade também não foi considerada pelo projeto. “Não contemplamos ambulantes porque representamos os comerciantes formais, mas os ambulantes que quisessem se formalizar nos quiosques serão muito bem vindos”, afirma.

Leo Machado trabalha há 12 anos como ambulante e monta sua banca de variedades em uma das esquinas entre a Avenida Anhanguera e Avenida Goiás, na Praça do Bandeirante no Centro. Ele relata que o embate com os trabalhadores informais no Centro é constante. “A fiscalização da prefeitura quer tirar a gente daqui há anos. Só queremos trabalhar. Se houvesse a possibilidade, eu pagaria para ter meu lugar na calçada sem perturbação”, declara. 

Custo de implementação do polo tecnológico seria dividido 

O presidente da ACIC, Uilson Manzan, explica o custo de instalação dos modelos tecnológicos seria dividido entre a iniciativa privada e o poder público, mas principalmente por grupos empresariais que tem interesse de investir no centro e estão aguardando a aprovação do Poder Público para começar a investir na região. “Estamos propondo que a gestão das calçadas seja feita pela iniciativa privada, com conservação das ruas, limpeza, segurança, como um shopping, mas a céu aberto”, defende.

Patrimônio histórico

A tecnologia dividiria espaço com a preservação do patrimônio de Art déco no Centro da Capital, com estímulos fiscais aos comerciantes que se comprometessem a conservar e evidenciar a fachada dos prédios históricos com arquitetura típica dos primeiros anos de vida da cidade em meados do século XX.

Outra proposta da ACIC dentro do projeto seria a criação de benefícios para tornar a região central atrativa para investidores. De acordo com o presidente da ACIC a “reciclagem” do comércio no Centro de Goiânia é baseada em experiências que já aconteceram em grandes centros urbanos como Recife, Florianópolis, Campinas (SP). Nestas cidades, se ofereceu diversos benefícios aos polos tecnológicos.

Ainda segundo Uilson, a proposta foi enviada tanto para o governo estadual quanto para o municipal. “O atrativo para novas empresas viria por meio de benefícios tributários para ocupação do Centro com uma alíquota menor para abertura de novas empresas”, explica.

Segundo o presidente da ACIC, a Administração Pública ganharia com o aumento de arrecadação fiscal das novas empresas além de ter o Centro revitalizado por iniciativa privada. “O Poder Público, a prefeitura, o Estado e os empresários só têm a ganhar com a proposta”, defende. A ACIC estima que a aprovação da proposta vá resultar na abertura de mais de 800 empresas, geração de mais de 15 mil postos.

Estacionamento

Além dos benefícios fiscais para instalação de novas empresas, e investimento em tecnologia, a proposta também pretende resolver o problema de estacionamento do centro da Cidade com parcerias público-privadas e prédios de estacionamento. “Queremos restituir a ideia de instalação de parquímetros no Centro e a liberação para construção de novos prédios de estacionamento, assim como o antigo Paternon Center”, declara. (Especial para O Hoje) 

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