Falta de insumos na indústria freia venda de automóveis, em Goiás

Filas de espera por veículos novos e falta de seminovos no mercado acontece em plena recuperação do setor | Foto: Igor Caldas

Postado em: 08-12-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Falta de insumos na indústria freia venda de automóveis, em Goiás
Filas de espera por veículos novos e falta de seminovos no mercado acontece em plena recuperação do setor | Foto: Igor Caldas

Igor Caldas

A falta de veículos novos no mercado, causada pelas restrições de insumos específicos na indústria, elevou as filas de espera por alguns modelos nas concessionárias. O fato impactou negativamente na oferta de modelos seminovos que também estão em falta. A escassez de veículos usados ocorre também pela alta procura deles motivada pela elevação do preço de modelos novos. Tudo isso acontece quando o setor automotivo está em plena recuperação dos impactos da Covid-19.

De acordo com o gerente de uma das unidades da concessionária Katana de Goiânia, Calosman Moura, a fila de espera por modelos novos aumentou cerca de 30%. “Além da falta de veículos novos no mercado, a procura por eles também teve queda por causa da elevação dos preços”, afirma. A concessionária comercializa veículos novos e seminovos. Calosman diz que a procura pelos seminovos aumentou, mas a oferta desses modelos no mercado diminuiu muito. “Nosso estoque está baixo, até nossos pátios estão mais esvaziados”, declara.

Continua após a publicidade

Dados das pesquisas realizadas pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores revelam que as montadoras de automóveis fecharam o mês de novembro como o melhor do ano, com 225 mil unidades emplacadas. O número inclui carros de passeio, veículos comerciais leves, ônibus e caminhões. No entanto, a falta de insumos e redução de turnos de trabalho na indústria automobilística causados pelos impactos econômicos no começo da pandemia de Covid-19 freou de vez e fez o mercado do setor automotivo encalhar.

Ciclo impactado

O gerente explica que a falta de modelos novos no mercado impacta toda cadeia comercial de automóveis. “Quando o novo não chega, fica mais difícil do seminovo entrar no mercado e como a procura por carros usados aumentou, fica cada vez mais difícil achar seminovos para negociação”, afirma. Além disso, a falta de modelos novos impacta também nas locadoras de veículos, uma das principais responsáveis pela inserção de veículos seminovos com até dois anos de uso no mercado.

De acordo com uma pesquisa que mede a intenção de compra de veículos no cenário da Covid-19, feita pela Webmotors e divulgada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), 89% dos entrevistados em todas as regiões do Brasil tinham intenção de comprar um carro em 2020. Destes, apenas 16% teriam a intenção de comprar um modelo novo e 68% optariam por um modelo usado.

Os números apresentam um abismo de diferença da mesma pesquisa realizada no último ano. De acordo com o levantamento feito pela Webmotors no fim de 2019, 66% dos entrevistados tinham intenção de trocar o veículo e 71% queriam comprar um veículo novo em 2020. No entanto, os dados da pesquisa mostram que a pandemia fez com que a maioria dos clientes prorrogasse a compra.

O carioca Leandro de Jesus esteve semana passada em Goiânia a trabalho. Ele está à procura de uma camionete seminova e passou a tarde da última quinta-feira (3) pesquisando preços de modelos na Capital. “Aqui em Goiânia há mais diversidade de modelos de camionete do que no Rio de Janeiro, por isso pensei que a diferença de preço seria maior”, revela. No entanto, Leandro percebeu que tanto na sua cidade natal, quanto em Goiânia, os preços continuam elevados.

Preços altos

O aumento de preços de carros novos elevou a procura por seminovos. A baixa oferta desses modelos no mercado fez com que os preços dos seminovos também ficassem elevados. Este ano já foram negociados mais de nove milhões de modelos usados em todo território nacional. Apenas no mês de outubro foram negociados cerca de 1,4 milhões de veículos seminovos.

O representante de vendas Alexandre Monfort também está em busca de trocar seu carro por um veículo seminovo. Ele optou por um modelo usado porque os carros zero quilômetro estão com o preço muito elevado. “Com os preços atuais, está muito difícil comprar um carro zero porque a desvalorização é alta quando comparado a um modelo usado”. Alexandre admite que não pensou duas vezes antes de optar por um modelo seminovo. 

Falta de insumos afeta todo setor de automotores 

A escassez de insumos também atingiu o mercado das locadoras de carros e de peças para veículos. Alexandre Monfort afirma que trabalhou a vida inteira no mercado de veículos e nunca viu o cenário tão aterrorizador. Atualmente ele é representante de uma fabricante de peças de automóveis. “Está tudo muito difícil e a indústria de peças também está sofrendo com a escassez de insumos, principalmente o aço”, defende.

A falta de matéria-prima em vários segmentos e a elevação de preços está entre os fatores que travam a produção industrial em todo País. Segundo uma pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a falta de insumos no mês de outubro chegou aos maiores patamares desde 2001 em 14 dos 19 segmentos da indústria. A falta de matéria prima, somada com a alta do dólar resulta em uma alta ainda maior de preços.

Locadoras

O presidente do Sindicato das Locadoras de Veículos de Goiás (Sindiloc-GO), Rogério Reis, afirma que há falta de carros nas locadoras de veículos no Estado, mas que o problema atinge o Brasil inteiro.  “Meu pátio de locação está esvaziado, mas já começa a apresentar uma melhora no movimento”, afirma. As locadoras de veículos têm mais movimentação de aluguel no começo e no fim do ano.

As locadoras de veículos se beneficiaram da crise aguda vivia pela indústria automotiva entre os anos de 2014 e 2019 e conseguiram comprar milhares de unidades a preços baixos. De acordo com Rogério Reis, em 2020, o setor foi surpreendido pela pandemia de Covid-19 e teve queda de 80% nos aluguéis de carros em Goiás.

O presidente do Sindicato das Locadoras constata que a expectativa de crescimento do setor foi frustrada pela pandemia. 

“Quando se tem uma perspectiva de crescimento, há investimento, novos financiamentos, novas contratações porque se espera um retorno. Quando isso não acontece, resta apenas o endividamento”. Para completar, ele ainda explica que o grande complemento do mercado da locação é a venda do automóvel seminovo. (Especial para O Hoje) 

Veja Também