Coreto da Praça Cívica sofre com depredações constantes em Goiânia

É a segunda vez que o Coreto da Praça Cívica é pichado após restauração que ocorreu em maio deste ano

Postado em: 17-12-2020 às 06h15
Por: Sheyla Sousa
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É a segunda vez que o Coreto da Praça Cívica é pichado após restauração que ocorreu em maio deste ano

Igor Caldas

O Coreto da Praça Cívica é pichado pela segunda vez desde a entrega da obra de restauração que ocorreu em maio deste ano. Além dos atos de vandalismo, a pintura de um dos patrimônios mais importantes da Art Déco em Goiânia já está desmanchando. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) concluiu a obra de revitalização do Coreto em maio deste ano, mas o local foi pichado e necessitou de uma nova pintura.

Várias outras obras do patrimônio histórico da região central da Capital também sofrem com vandalismo e má conservação. Outro símbolo da Art Déco em Goiânia, a fachada do Grande Hotel, está repleta de pichações, vidros danificados e com infiltrações. Várias luminárias da Avenida Goiás também estão quebradas. A questão levanta debates dos caminhos da preservação de patrimônio.

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Goiânia reúne um acervo Art Déco com 22 bens tombados desde 2003. Eles são o conjunto de edifícios e demais elementos que formam a Praça Cívica (Coreto, Fontes Luminosas, Fórum e Tribunal de Justiça, Residência Pedro Ludovico, Departamento Estadual de Informação, Obeliscos com luminárias, Palácio das Esmeraldas, Antiga Delegacia Fiscal, Antiga Chefatura da Polícia, Secretaria Geral, Torre do Relógio e Tribunal Regional Eleitoral), Liceu de Goiânia, Grande Hotel, Teatro Goiânia, Escola Técnica de Goiânia, Estação Ferroviária, Trampolim e Mureta do Lago das Rosas, Palace Hotel, Subprefeitura e Fórum de Campinas e traçado viário dos núcleos pioneiros de Goiânia e Campinas.

O professor de Teoria, História e Crítica da Arquitetura e do Urbanismo, atuante na Pontifícia Universidade Católica (PUC-GO), Azor Henrique de Mendonça Ferro, que também foi superintendente de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Goiás, levanta o debate sobre preservação do patrimônio.  “Uma coisa é o poder publico tomar iniciativa de preservar, fazer o tombamento, a documentação e restauração. O outro lado é a devolução desse patrimônio à sociedade que não o valoriza”, lamenta.

Azor defende que o caminho da preservação não é de apenas uma via. “Preservar para quem? Quantas vezes já restauramos bens para que eles fossem destruídos pela população? E não foram apenas vândalos, foram usuários da cidade de forma geral que fizeram isso”. Ele cita como exemplo as propagandas e panfletagens que agridem o patrimônio. “O monumento histórico só tem sentido quando a própria população atribui valor a ele. Não adianta o poder público sozinho entender que aquilo tem valor e deve ser preservado”.

O Grande Hotel é um bem de propriedade e gestão do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Por ele estar inserido no Conjunto Arquitetônico Art Déco e Urbanístico de Goiânia, reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro. 

Estímulo econômico deve alavancar preservação 

O Professor de Teoria, História e Crítica da Arquitetura e do Urbanismo, atuante na Pontifícia Universidade Católica, Azor Henrique de Mendonça Ferro, defende que no Brasil, a única forma de fazer com que os bens históricos sejam preservados pela população é vinculá-lo às questões econômicas. “Vejo que o único meio de fazer a população valorizar o patrimônio é fazer que entenda o valor financeiro disso. O dinheiro que está sendo empregado em repetidas restaurações poderia estar aplicado na saúde, educação, infraestrutura”.

Ele cita a questão que já foi debatida a respeito da poluição visual sobre fachadas de prédios antigos do Centro de Goiânia. “Para que os comerciantes retirem suas fachadas para dar lugar ao patrimônio, o Estado precisa dar algum tipo de estímulo econômico”. Azor sugere que as medidas poderiam ser impulsionadas com desconto em impostos. “O dinheiro que fala mais alto. Já que é assim, vamos jogar com as armas do dinheiro. Dar isenção e subsídios para quem fizer a restauração”, sugere.

Azor cita o valor turístico de cidades históricas em Goiás como exemplo. “Se tirar o patrimônio histórico de Pirenópolis, ela perde tudo. Todo o turismo da cidade morreria”. Ele lembra que os hotéis e restaurantes mais sofisticados do Estado estão na cidade histórica.  “O povo de lá entendeu o jogo e os moradores preservam. Lamento que as pessoas não tenham essa compreensão em Goiânia”.

Tombamento forçado

O professor diz que o tombamento pela força da Lei já se mostrou ineficaz. Este ano, quase 600 imóveis começaram a ser notificados sobre possível tombamento. A decisão não agradou proprietários.  “Se o tombamento vir por uma liminar, ela pode ser derrubada e o proprietário se apressar para demolir o prédio. Esse tipo de medida atrapalha ao invés de ajudar na preservação”, diz.

Confaloni

De acordo com Azor, é necessário realizar um trabalho de conscientização de base, até que os proprietários tomem consciência do valor real dos imóveis preservados. Ele cita o exemplo do “apagamento” de um dos mais importantes painéis que constituem a obra artística do Frei Confaloni. O pedido para a preservação já tinha sido feito formalmente à Superintendência de Patrimônio da Secretaria de Cultura do Estado de Goiás (Secult). “O painel foi destruído porque queriam construir um shopping no local”.

Ele avalia a destruição do patrimônio como uma perda coletiva. “Um painel daquelas dimensões com valor estimado de milhões de euros totalmente destruído, apagado. É dessa forma que vamos ficando assépticos, sem historia. Depois, pegamos um avião e vamos para Europa conhecer a história deles, que está conservada”, lamenta. (Especial para O Hoje) 

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