Elas cada vez mais presentes no mundo dos vinhos

Elas chegaram para comandar vinícolas de sucesso e se tornarem sommelières reconhecidas internacionalmente - Foto: Wesley Costa

Postado em: 28-12-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Elas chegaram para comandar vinícolas de sucesso e se tornarem sommelières reconhecidas internacionalmente - Foto: Wesley Costa

Eduardo Marques

Segundo pesquisa realizada pela Empresa Canadean, as mulheres são consumidoras ativas de vinhos, superando os homens nos Estados Unidos, com 59% do consumo, contra apenas 41% do sexo oposto. Outra pesquisa da Consultoria Nielsen chegou à conclusão que as mulheres, no Estado da Califórnia, maior produtor de vinho do país, não só consumem mais do que os homens, como ao contrário do que se pensava, gostam de vinhos tintos encorpados de uvas como Cabernet Sauvignon e Meriot.

No Brasil, estes números não são tão diferentes, e servem como termômetro já que há um número cada vez maior de grupos compostos só de mulheres que reúnem para apreciar a bebida, a exemplo do Las Vinhas, que conta com mais de 200 participantes. A representante do grupo, Lara Macedo, conta que o clube funciona de maneira voluntária e não há anuidade e nem tampouco taxa de adesão para fazer parte.

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“Elas entram no clube necessariamente através de uma indicação de alguma que já participa ou através de um contato que é feito pelas redes sociais, mais especificamente pelo Instagram. Então, as pessoas que se identificam com a proposta sobre o tema se pronunciam dessa forma, a gente faz uma avaliação, a gente envia uma ficha a qual ela preenche”.

Justificando o interesse dela num dos vinhos, a partir daí essa pessoa é ingressada. Só entra ao clube depois que ela participa de um jantar de boas-vindas. Lara explica que nesse jantar de recebimento são explicadas as normas. Se a aspirante concordar, ela está automaticamente inserida no clube.

Macedo afirma que o grupo tem um conselho e é composto por pessoas de áreas específicas. “Então, jurídica, área administrativa, marketing, relações públicas, eventos. As meninas fazem esse trabalho de forma totalmente voluntária. Então, são grandes profissionais que estão à disposição hoje do clube, mas elas não recebem por isso”.  Nesse conselho há também mulher formada na área para dar suporte.

A presidente diz que, antes da pandemia, elas se reuniam presencialmente, sem restrição de público, em um restaurante ou casa de vinho fechado para o clube feminino. “Para proporcionar privacidade a todas nós, e evitar qualquer tipo de constrangimento ou situação indesejada, nós fechamos sempre um restaurante para as nossas reuniões. Eu sempre vou antes, fecho um cardápio devidamente harmonizado e as pessoas pagam uma taxa única, que é ao restaurante. A empresa que vai nos oferecer o serviço cobra e repassada aos integrantes.”

No início da pandemia elas tiveram que fazer adaptações. A presidente afirma que elas se reuniam através de plataformas digitais e combinavam de todas comprarem o mesmo rótulo. No encontro, elas faziam os próprios cursos on-line, harmonização, mesmo sem perder as confraternizações mensais. “Cada uma na sua casa, com prato preparado que a gente já divulgava isso tudo com muita antecedência.” Com a reabertura de eventos e restaurantes, as mulheres fazem com grupos menores em lugares abertos, respeitando o distanciamento social.

Embora o novo coronavírus trouxesse inúmeras dores às famílias de todo o mundo, a doença veio consigo para conscientizar a cerca da produção do vinho. “As pessoas não podiam estar juntas ali para fazer a colheita da uva, para produzir e o vinho não é uma bebida 100% industrializada, não é tudo automático. Então, tem toda uma parte ali de cultura, de plantio, de colheita, de tradição, de estudo, então isso atrapalhou muito a produção. Acho que a pandemia veio ensinar a todos nós, não só a respeitar o fluxo de produção, mas também o respeito com relação ao que se serve na sua casa, o consumo de uma forma geral”.

Vontade de apreciar

A presidente diz que a ideia surgiu há 8 anos com quatro amigas quando ainda o vinho não tinha uma expressão tão forte no Estado de Goiás, em se tratando de bares e restaurantes. “Então, a ideia surgiu há alguns anos atrás, quando nós, mulheres, um grupo de as quatro amigas, tivemos o interesse em conhecer mais a bebida. Antes, já sabíamos que o vinho engordava menos que a cerveja e já éramos cervejeiras”, brinca. Na época, Lara relembra que não sabia beber vinho. “Nós topamos o desafio de conhecer um pouco mais sobre a bebida, pensando num primeiro momento, na parte estética”.

Nem tudo são flores na apreciação da bebida requintada. A presidente do grupo protesta em relação ao machismo em torno da bebida. Ainda na época da fundação do Las Vinhas, Lara conta que ficava irada quando chegavam a um restaurante e o garçom primeiro oferecia a carta para a figura masculina, esquecendo dela, sendo que o esposo nem consumia álcool. A partir daí, ela decidiu se posicionar pela representatividade. “Além delas não serem ofertadas como a primeira opção de uma escolha de uma carta de vinhos, era fato, naquela época, que a maioria das pessoas que eu tinha contato não conheciam nada sobre vinho. Quando eu comecei a conversar com algumas mulheres sobre a bebida muitas nem conheciam, porém tinham interesse”. 

Elas buscam por mais profissionalização 

A sommelière Emilia Maria de Araújo Carvalho diz que o reduto deixou de ser masculino. “Como enófilas, o vinho atrai pessoas indagadoras, cultas, viajadas e claro, festivas. Como sommelieres e enólogas, tem crescido muito nas últimas duas décadas, deixou de ser um reduto masculino.”

Isso significa que, segundo Emília, as mulheres são normalmente mais curiosas e como enófilas, aquecem o consumo de vinhos, sendo no varejo ou em jantares de confrarias. “Como profissionais, elas oferecem sua sensibilidade, seja investigando um vinho pronto ou ao fazê-lo, criando vinhos de muita personalidade”, conta. 

Ela dá dicas para quem quer trabalhar com vinho: “Vinho não é algo para pessoas superficiais, se quiser trabalhar com vinho, independente da área escolhida, tem que se dedicar muito, estudar muito, trabalhar muito, se especializar muito. Então, creio que a dificuldade será a mesma para homens e mulheres. A dificuldade é a mesma, ser competente e acessível, as pessoas querem te ouvir e entender”.

Ela ressalta que o maior desafio que sente é fazer as pessoas entenderem que os vinhos que provam ou compram valem o que pagaram. “Porque existem inúmeros estilos e processos diferentes de vinificação. O público consumidor da minha empresa atualmente é 70% de mulheres, elas mudam mais de rótulos, se arriscam mais, gostam de ouvir sobre cada rótulo que escolhem e assim, vão criando memória dos vinhos que degustam. Gostam de se reunir, o vinho proporciona o encontro e a possibilidade de mais conhecimento”, afirma.

Vendas

Proprietário de uma loja de vinhos no Setor Pedro Ludovico, em Goiânia, Francisco Chiarelli explica que hoje as vendas estão bem mais qualificadas do que tempos atrás, onde as mulheres escolhiam muito mais pelos rótulos dos vinhos do que outra coisa, hoje elas estudam mais e pesquisam mais sobre o que gostam.

Francisco conta que elas preferem vinhos mais frutados e aromáticos, menos encorpados e mais elegantes de boca, com final mais macio e sedoso. Ele diz que as mulheres seguem mais os gostos pessoais e que tenham as características clássicas que procuram.

Chiarelli afirma que na hora da compra as mulheres levam muito em conta o chamado custo qualidade do vinho e a ocasião que vão beber. E que nessa época do ano o registro no aumento de vendas do vinho é ocasionado pelo Natal e no fim de ano o champanhe. (Especial para O Hoje) 

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