Parque Tamanduá tem cenário de abandono e descaso, em Goiânia

Pelo menos 30% da vegetação nativa dentro das dependências do parque estão gravemente degradados - Foto: Wesley Costa

Postado em: 31-12-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Pelo menos 30% da vegetação nativa dentro das dependências do parque estão gravemente degradados - Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Parque Tamanduá em Aparecida de Goiânia não cumpre papel de conservação ambiental e tem abandono histórico. Pelo menos 30% da vegetação nativa dentro das dependências do parque estão gravemente degradados e ecossistema de córrego está condenado. A falta de preservação do leito do córrego é a principal causadora das constantes erosões que ocorrem no bairro onde foi implantado. Mobiliário das pistas de caminhada e grades de proteção do local estão destruídos e não oferecem um local seguro de lazer à população.

O local tem o predomínio de Cerrado e matas ciliares e de galeria que, segundo Bernardo Cristóvão Colombo da Cunha, geólogo e professor de Geografia Física atuante na Universidade Estadual de Goiás, estão severamente degradadas. “O que acontece neste e em outros parques ambientais da Região Metropolitana de Goiânia é que eles isolam uma parte de um ecossistema vivo com cercas e o restante é degradado pelo crescimento urbano mal planejado”, afirma.

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Degradação

“Deveria haver uma intervenção governamental para tentar recuperar minimamente como uma área de lazer para a população porque algumas ilhas silvestres reduzidas ainda resistem com animais”, defende. Bernardo diz que aproximadamente 30% da vegetação primitiva do Parque já foi degradada. “Não há mais como recuperar, mas tem jeito de conservar. Quando se desmata mais de 10% de um ecossistema, a recuperação se torna muito difícil”, lamenta. O professor ainda diz que se não houver ações no sentido de conservação do Parque, todo o ecossistema do Córrego do Tamanduá estará condenado a desaparecer em breve.

De acordo com o professor universitário, apenas uma pequena região da nascente do Córrego do Tamanduá está dentro dos domínios do Parque e mesmo o que deveria estar preservado pela unidade de conservação, está em situação de abandono e descaso. “Um córrego é um organismo vivo. Se você isolar uma parte dele e degradar o restante, nada vai funcionar como deveria, e toda aquela vida ficará condenada a deixar de existir”, explica. Bernardo ainda diz que a vegetação nativa nas dependências do parque está em estágio avançado de degradação. “Em algumas partes, é possível perceber até clareiras causadas pela degradação”, declara.

Crimes ambientais

Para o geógrafo, seria necessário um trabalho efetivo de conservação do que restou da mata que deveria ser protegida pelo Parque, pois toda a extensão do Córrego do Tamanduá, fora das dependências da unidade de conservação já está condenada pelo forte adensamento urbano da região. “Fora da área do parque, o Córrego Tamanduá não existe mais. O leito do córrego foi deslocado e suas matas foram destruídas”. Além disso, o acadêmico afirma que há o uso irregular das margens do córrego para cultivo de hortaliças e não há o respeito da distância mínima de 50 metros para construir edificações que margeiam o curso d’água.

Moradora da região há mais de 35 anos, Cida Nogueira afirma que o Parque Tamanduá sempre foi abandonado. A Prefeitura de Aparecida de Goiânia fez a poda de algumas árvores que caíram durante as últimas chuvas e os resíduos foram deixados na pista de caminhada do espaço público.  “Nunca cuidaram desse parque corretamente. A poda dessas árvores foi um milagre”, aponta Cida.

Cida, do Residencial Park Garavelo, aponta outro problema que o abandono do Parque causa à população. “Não há segurança nenhuma aqui. Eles assaltam você à luz do dia”, diz. O Parque Tamanduá abriga um edifício da Guarda Civil Metropolitana de Aparecida de Goiânia. O interior do Parque está sendo usado para descarte de resíduos.

A Prefeitura de Aparecida de Goiânia informa, por meio de nota, que está buscando financiamento para a construção de um Parque Ambiental no local e que vai encaminhar uma equipe de manutenção ao local nos próximos dias para realizar o reparo das grades, a retirada dos galhos de árvores e do lixo.

A Prefeitura pede ainda a conscientização dos moradores da região para que ajudem o poder público a cuidar do patrimônio ambiental e não fazer descartes irregulares de lixos e entulhos nas imediações da mata, causando danos ao meio ambiente e também à saúde pública. 

Parque Tamanduá não cumpre com papel ambiental e social 

Um estudo de caso do Parque Tamanduá em Aparecida de Goiânia apresentado no Seminário Internacional de Arquitetura, Tecnologia e Projeto em 2013, demonstra que um parque ecológico deveria oferecer uma série de atividades, com objetivos específicos, de uma forma harmônica, com objetivo de integração do homem ao meio ambiente pela valorização da natureza. Segundo o estudo essa definição de parque ecológico no Córrego Tamanduá não é constatada porque o local está abandonado e não cumpre com sua função social.

A Câmara Municipal de Aparecida de Goiânia sancionou a lei que criou o Parque Ecológico Municipal do Tamanduá em 2004. O espaço está situado às margens da nascente do córrego de mesmo nome do parque, no loteamento Residencial Park Garavelo. O Córrego Tamanduá possui aproximadamente nove quilômetros de extensão e nasce na área oeste do Residencial Park Garavelo, que deságua no Córrego Santo Antônio, vizinho ao Residencial Cândido de Queiroz e por sua vez desemboca no Rio Meia Ponte no trecho territorial aparecidense.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a designação de parque urbano é uma área verde com função ecológica, estética e de lazer, mas com uma extensão maior que as praças e jardins públicos. Os parques lineares urbanos deveriam ser construídos ao longo de cursos hídricos destinados à conservação e à preservação dos recursos naturais e interligar fragmentos florestais e de usufruto da população.

Para o professor Bernardo Cristóvão Colombo da Cunha, geólogo e professor de Geografia Física atuante na Universidade Estadual de Goiás, o modelo de Parque Linear Urbano deveria ter sido implantado ao longo do curso do córrego Tamanduá para preservar seu ecossistema. “O que vemos hoje é o adensamento urbano com ruas perpendiculares ao curso do córrego que fazem com que as erosões no Setor Garavelo se agravem a cada ano”, afirma.

Ainda segundo o estudo de caso do Parque Tamanduá apresentado no Seminário Internacional de Arquitetura, Tecnologia e Projeto, a proposta de implantação de um parque linear urbano no espaço ao longo do curso d’água deve conectar os fragmentos de vegetação e estabelecer um ambiente de fauna e flora equilibrados para usufruto social adequado aos preceitos do desenvolvimento sustentável e da legislação ambiental pertinente.

Os parques deveriam ser unidades de conservação e manejo em áreas urbanas que tenham grande importância ambiental, protegidas por leis municipais, estaduais e federais com objetivo de garantir a vida, auxiliar pesquisas científicas e preservar a paisagem natural. A correta manutenção desses espaços ajuda a elevar a qualidade de vida da população porque além do usufruto contemplativo do local, há o desfrute de serviços ambientais como qualidade do ar, qualidade sonora, conforto térmico que contribui para a melhoria da qualidade ambiental urbana. (Especial para O Hoje) 

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